Coroação e adolescência.

51 10 0
                                    

O Brasil era um país ainda em formação e já passava por um período de conturbação que ao que tudo indicava, terminaria em uma guerra civil e em um mar de mortos e sangue. Facções políticas brigavam pelo poder como abutres procurando carniça e  no meio disso tudo estava ainda um jovem e solitário príncipe. A situação era crítica e até mesmo os regentes estavam comungados com aquilo e até mesmo confiança era uma palavra rara naqueles tempos. 

Os homens grandes queriam derrubar o jovem Pedro II, não acreditavam que ele poderia ser poderoso e experiente o bastante para ser imperador, ele ainda só possuía catorze anos. Alguns o apoiavam, mas diziam que ele deveria esperar até os dezoito anos. Mas o povo realmente queria o filho do antigo imperador, mesmo naquela idade, ele era amado e idolatrado pelo povo brasileiro que via nele a imagem de um líder. Pouco se sabe, mas naquela época Pedro II tinha tanta adoração que se declarasse guerra contra qualquer país, o povo lutaria por ele. O amor que o povo sentia por ele, lhe deu mais poder do que seus próprios regentes. 

- Você quer se tornar Imperador, Pedro? - Perguntou Nego jâ que já começava a envelhecer. - Isso irá te consumir imensamente, e sua infância acabará no momento que assumir. 

Pedro olhou pela janela de seu quarto e viu crianças brincando e se sujando na chuva que caía. 

- Nada me faria mais feliz. Eu não ligo para minha infância, se isso trazer o bem para o Brasil. No ritmo que está, os maus irão acabar usurpando o poder e será questão de tempo uma guerra civil e o parlamento parece ansiar por isso, ou ao menos alguns ali dentro. - Se virou e olhou para Jâ. - Eu mudarei o destino desse país. 

Aqueles que o defendiam, enviaram um documento para o imperador Pedro I, pedindo para que assumisse poderes plenos. No mesmo momento fora enviada uma delegação para perguntar para o herdeiro do trono se ele aceitaria ou recusaria sacrificar sua infância em função do trono e do reino. 

- Pense bem. - Havia dito o homem. - Isso irá fazer com que assuma sua maioridade mais cedo... 

- Sim. - Respondeu. - Eu quero. 

O homem se impressionou com aqueles olhos. 

- Você esperará até o dia de seu aniversário ou...

- Já. - Respondeu ele veemente. - Eu irei ser de maior amanha. 

No dia seguinte a assembleia geral o declarou formalmente Pedro II maior de idade aos catorze anos. 

Um ano depois em 1841 ao seus quinze anos a cerimônia de coroação fora realizada e todos se impressionaram com o garoto que ainda era franzino em vista de todos ali e poucos achavam que ele manteria o poder por muito tempo. Entretanto, esses poucos eram ínfimos e nenhum daqueles que compareceram viram tamanha demonstração de afeto para com o imperador, ele fora aclamado de norte a sul. 

- Jâ, aqui. - Disse ele. Chamando o escravo negro que estava na porta do palácio. O homem não entendeu e achou que fosse brincadeira. - Suba aqui. - Disse Pedro sorrindo. 

Rafael que era chefe da guarda particular de Pedro, autorizou o escravo receoso que andou no meio de todos aqueles brancos e nobres. Subiu e ficou ao lado do rei que colocou a mão em seu ombro. 

- Eu estou conseguindo, amigo! - Disse o imperador feliz para o escravo. 

Muitos torceram o nariz e alguns até mesmo se retiraram do salão. Jâ se emocionou e chorou inconsolável ao ver seu pequeno Pedrinho como um imperador, mas o jovem era só sorrisos e por isso limpou suas lágrimas. 

- Sim, Pedrinho. - Disse ele. - Você alcançará os céus. 

Pedro não só chamou ele como sua Dadama, sua aia que chamava de mãe. Ela subiu ali também tímida, mas depois de um certo tempo só fora sorrisos. 

Pedro nunca soube, mas por ordens de seus antigos regentes, todos os quadros pintados daquele momento teriam a figura do negro e de sua aia não desenhados, não eram dignos de estarem do lado do Imperador do Brasil. 

Ele silenciou todos e sozinho retirou sua coroa e colocou no trono. Desembainhou sua espada e a fincou no chão e ninguém entendeu. Olhou com olhos determinados. 

- Eu juro que farei desse país forte e rico como nenhum outro, darei tudo de mim. - Aplausos soaram. - E também... Eu libertarei todos os escravos desse país! - Disse. 

Aplausos vieram, mas bem poucos. Pedro II estava enfrentando o mundo ao dizer tais palavras e com isso criando inimigos poderosos. Claro, nenhuma informação sobre isso foi vazada ao público e muitos tiveram de esquecer tais palavras. 

O melhor brasileiro que abandonamos.Onde histórias criam vida. Descubra agora