EMPRESA ASSOMBRADA PARTE II

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No dia seguinte Denis chegou meia hora mais cedo para poder conversar com o guarda do dia.
- Bom dia Arnaldo, como vai?
- Bem e você? Como foi sua primeira noite de vigia aqui?
- Muito estranha, não quero que pense que eu sou louco, mas creio que vi coisas que não posso explicar.
- Olha pode parar, o outro vigia noturno começou com essas histórias  até que um dia saiu correndo no meio da noite e não voltou mais para trabalhar. Ligou e pediu que lhe enviassem os documentos para assinar pelo o correio imagina, ele nem aqui quis voltar.”
- Ele dizia que via o espírito do doutor Flávio assombrando o prédio. disse a faxineira que limpava o chão por perto. 
- Quem era esse homem? perguntou Denis.
- Para de colocar caraminholas na cabeça do Denis dona Maria, espíritos não existem.
- Doutor Flávio era um dos donos da empresa, junto com o Maurício. Ele se suicidou aqui mesmo, as pessoas dizem que era porque a mulher o estava traindo, mas ela negou tudo. Maurício então tomou conta dos negócios até o filho do doutor Flávio, o Rodrigo, para se formar e vir trabalhar aqui. Agora os dois gerenciam a empresa. Mas me conta, o que foi que você viu?  perguntou a faxineira curiosa ignorando o pedido de Arnaldo.
- Nada de importante, deve ter sido impressão minha. respondeu Denis olhando o rosto desapontado de dona Maria. Quando foi esse suicídio?
- Doze anos atrás. Eu mesma limpei a sala depois do corpo ser retirado, eu acho que nunca chorei tanto em minha vida. O doutor Flávio era um homem generoso, foi ele que me deu o emprego e todos gostavam dele. Ninguém imaginava que um dia ele poderia fazer isso. disse Maria.
- Olha aqui a foto dos empregados na festa de natal do ano anterior ao suicídio. Esse era o Flávio, esse o Maurício e esse bonitão aqui sou eu. Disse Arnaldo apontando uma foto.
Denis começou a tremer, observava a foto com terror, não somente tinha confirmado de que teria visto um fantasma, mas agora sabia da verdade sobre a terrível morte de doutor Flávio.
- Que isso Denis, parece que viu fantasma? Olha ai dona Maria, o homem esta pálido que nem papel.
- Impressão sua, e acho que já está na hora de vocês irem. Respondeu Denis seriamente.
Ele sentou em sua cadeira a observar os monitores, porém sua mente estava longe, imaginando o que faria se o fantasma aparecesse de novo. E se conseguisse provas de que Maurício tinha assassinado Flávio. Iria limpar a imagem suja daquela família que a tantos anos vinha sofrendo com aquela mentira.
Denis decide ligar o rádio que até agora estava desligado por medo. Se o fantasma  do doutor Flávio queria ajuda talvez se comunicasse novamente pelo aparelho.
Quando chegou a hora da primeira ronda, o vigia sentiu medo, estava aterrorizado com o fato de que poderia novamente ver o espírito do homem na janela, ainda mais com aquela ferida sangrenta na cabeça. Depois de bater o ponto confirmando sua ronda voltou-se para o prédio e para sua surpresa estava vazio. Ele sentiu um alívio, mas também ficou desapontado. “Será que me mostrei muito medroso e afugentei o espírito que precisava de ajuda?” perguntou a si.
Tentando tirar tudo da cabeça ele voltou ao seu posto. Sentou-se na cadeira e se serviu um pouco de café. Sentia-se feliz por não ter visto nenhuma assombração, talvez agora sua vida voltasse ao normal.
- Denis... disse uma voz masculina sussurrando bem perto de sua orelha.
O vigia saltou da cadeira deixando o café derramar em sua camisa. O medo era tanto que ele nem sentiu o café queimando sua pele. Ele olhou em volta, porém ali não havia ninguém. Os monitores e o rádio saíram do ar e somente o som e a imagem da estática apareciam. Alguns papeis que estavam por ali voaram de um lado para outro, uma sombra grande andava em sua direção.
- Me deixa em paz,  não fiz nada para você! gritou Denis desesperado.
- Denis... repetia a voz no rádio.
Ele então correu para a porta tentando escapar do pandemônio que se formara ao seu redor. A porta que certamente não estava trancada era mantida fechada por uma força invisível. Tudo então se acalmou, Denis olhou ao redor e apesar da bagunça formada ali não via nada sobrenatural.
- Seis direita, quarenta e nove esquerda, quarenta e sete esquerda, trinta direita, nove direita. dizia a voz no rádio. 
Denis olhou para os monitores e todos mostravam a sala de Maurício onde havia um cofre perto de sua mesa.
- Seis direita, quarenta e nove esquerda, quarenta e sete esquerda, trinta direita, nove direita.repetia a voz destorcida rádio. 
Depois de ter anotado os números que possivelmente eram a combinação daquele cofre, ele se colocou a pensar nos riscos. O que teria naquele cofre de tão importante que um fantasma  queria? O que faria se encontrasse algo?
Em um impulso levantou-se, foi até o cofre e o abriu com aquela combinação. Sentiu um calafrio e uma brisa leve passando por ele e uma das pastas que estavam dentro do cofre caiu no chão. Na capa da pasta estava escrito “Contabilidade Confidencial”. Voltando-se para a porta se assustou ao ver que o fantasma  do doutor Flávio estava ali. Dando as costas o espírito saiu da sala, Denis correu atrás dele e o foi seguindo até que desapareceu na porta de um dos escritórios. O escritório era de Rodrigo, filho de Flávio. Ele entrou e decidiu que seria melhor deixar a pasta em cima de sua mesa, assim ele não teria que envolver-se quando a polícia chegasse.
No dia seguinte, Rodrigo chamou a polícia depois de analisar os papeis que comprovavam que Maurício havia roubado seu pai por anos e anos. Os policiais, agora sabendo a verdade sobre seus negócios ocultos ficaram desconfiados do suicídio de Flávio. Após horas de interrogatório e muita pressão conseguiram a confissão do assassinato.
De noite, durante sua primeira ronda depois de ter ajudado o fantasma  Denis não sabia o que esperar. Quando olhou para o prédio viu o espírito novamente, este lhe acenou adeus, uma luz forte iluminou o lugar e foi diminuindo até se apagar. Denis entendeu que o espírito atormentado de doutor Flávio finalmente tinha encontrado a paz e ele teria um trabalho sossegado.

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