Weltschmerz

Introdução

Nenhum som era audível, com exceção da respiração das centenas de pessoas presentes naquele comboio, cujo destino era apenas um: a morte.

Os tempos eram críticos, de tal forma que a coragem para contar o número de vidas perdidas tinha perecido, tornando-se mais fácil a determinação do número de sobreviventes. Infelizmente, as pessoas amontoadas ali não teriam a sorte de continuar com as suas vidas em harmonia e todas elas tinham a perfeita noção disso. A esperança que restava era utilizada para tranquilizar as crianças, que irrequietas, questionavam os pais acerca da situação em que se encontravam no momento. Contudo, ao invés de relatarem a situação exatamente como ela era, os adultos distorciam a realidade, de modo a induzirem o pensamento dos pequenos jovens de que seria uma mera viagem de comboio que os levaria a um campo de férias. Grande erro.

Há medida que o comboio avançava, a intensidade com que a neve caía aumentava gradualmente e muitos dos presentes começavam a manifestar algum desconforto devido ao frio gélido, típico do inverno de dezembro. A noite já mostrava vestígios e poucos eram os que se atreviam a adormecer, visto que o medo de nunca mais vir a acordar impedia até mesmo que a sonolência ameaçasse aparecer.

O Sol anunciava o novo dia que estaria para vir, no entanto, eles sabiam que a luz apenas significava o final das suas vidas. As portas do comboio foram abertas, revelando diversos soldados armados, que logo começaram a gritar "Aussteigen!" ("Saiam!"), puxando as pessoas, relutantes em sair, de maneira violenta. O medo começou a dominar todos, mas antes que alguém tivesse um ataque de pânico, um dos soldados, provavelmente o superior dos restantes, começou a indicar – mais propriamente a gritar – a separação dos grupos: mulheres e crianças à esquerda e homens à direita. Todos seguiram as instruções obedientemente, apesar da existência de uma certa relutância, já que o local para onde se dirigiam não era propriamente um campo de férias, onde se divertiriam.