Bremen, Alemanha
2 de maio de 1928
"Logo hoje tinha que chover" lamenta-se mentalmente Margalit assim que sai de casa e nota que alguns pingos ameaçavam cair do céu.
Nesse dia, uma das suas tias residentes em Viena, chegou a Bremen com a finalidade de fazer companhia à sua mãe durante alguns dias, visto que já passara algum tempo desde que as duas estiveram juntas pessoalmente. Além disso, a saúde da sua mãe começava a mostrar indícios de pioramento e muitos são os familiares que as visitam ou mandavam cartas para não correrem o risco de viver o resto dos seus dias com remorsos por não terem mostrado preocupação pela sua semelhante, caso ela morra futuramente.
Margalit aproveitou essa visita para sair de casa e passear um pouco. Aparentemente parecia uma necessidade, todavia, ela queria recuperar um pouco da sua paz interior, enquanto caminhava descontraidamente à beira do rio Weser.
Entretanto, avista um banco, resguardado por baixo de uma árvore, no qual sentou-se e aproveitou para tirar da sua mala o seu bloco preto, onde permaneciam todos os seus desenhos e alguns pensamentos. Esse era o seu refúgio quando as coisas começavam a tomar uma direção atribulada e a sua mente afundava-se num lugar mais obscuro, cujo desespero era expresso por múltiplas vozes que discutiam entre si.
- Não acho muito aconselhável uma jovem tão bonita andar por aí sozinha a estas horas. Sendo que uma tempestade se aproxima – uma voz grave e rouca soa perto do ouvido de Margalit. Ela fecha o seu bloco e observa o rio, que agora dispunha de uma cor cinzenta devido ao mau tempo que aparentava surgir.
- Pouco me importa o que acha – contrapõe friamente. Ela vira o rosto, de modo confirmar as suas suspeitas de que aquela voz pertencia a Wadler. Ela nunca esqueceria aquela voz.
- Direta tal como na última vez que nos encontrámos – ele senta-se ao seu lado, mantendo o seu habitual sorriso de lado .
- Não gosto de rodeios – diz, sem nunca tirar a sua expressão séria.
- Importa-se que lhe faça companhia? – pergunta, quase que implorando com o olhar, o qual Margalit podia facilmente negar, mas preferiu murmurar um "se quiser" como resposta, pois não tinha disposição para estar constantemente a contrapor-se às vontades daquele homem, para além de que ele, tecnicamente, já estava sentado ao seu lado.
Ela ponderava seriamente qual seria a altura em que ele incomodaria o seu momento de silêncio e desataria a falar, no entanto, para sua surpresa, ele não proferiu nenhuma palavra, limitando-se a, assim como ela, observar o ambiente em volta. A sua testa estava levemente franzida, o que indicava que algo lhe incomodava e lá bem no fundo, Margalit queria perguntar a razão da sua preocupação.
Alguns pingos começaram a cair gradualmente, chegando ao ponto de estar a chover torrencialmente. Wadler retira o sobretudo cinzento-escuro num instante e coloca-o em cima da cabeça de Margalit, evitando que esta ficasse encharcada. Ambos procuram o lugar mais próximo para se abrigarem, porém Wadler puxa-a repentinamente para dentro de um carro, ficando levemente assustada.
- Peço desculpa por ser brusco – desculpa-se Wadler, enquanto fecha a porta.
O carro não era propriamente espaçoso, porém Margalit começava a sentir alguns arrepios de frio, os quais ela desejava profundamente que o homem ao seu lado não notasse, pois isso daria num bom motivo para se meter com ela.
- Lamento por esta situação – Margalit demonstra uma expressão confusa com o comentário do loiro – Certamente o seu pai não aprovaria que a sua filha se encontrasse nesta situação, fechada com um homem como eu. Bastante atraente, mas que de judeu não tem nada, devo acrescentar.
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Weltschmerz
Ficción históricaWeltschmerz (n.) lit. "world-pain"; the state of sadness and depression felt when the world as it is doesn't reflect what you think it should be. Numa época em que o nazismo assume a liderança, a humanidade revela...