Capítulo 1

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Acordei com o barulho do despertador e naquele momento sabia que estava atrasado para a aula naquele sábado. Não deu tempo de acessar minhas mensagens para saber quem havia falado comigo durante aquelas horas.

Era nítido o cansaço em meu rosto, porém mesmo assim, eu teria que enfrentar aquele dia de aula em pleno sábado. Minha aula estava marcada para começar às 8:30 da manhã, mas só consegui chegar por volta das 9:00.

A aula seria realizada em um auditório, onde acomodaria perfeitamente as duas turmas de medicina. Quando cheguei no local todos já estavam em seus devidos lugares. Não tinha espaço próximo dos meus amigos de classe, e geralmente os alunos costumavam sentar nas primeiras fileiras, para manter um contato melhor com o professor. O que significava que as últimas fileiras estavam disponíveis, e era exatamente lá onde eu ficaria. Não escolhi muito bem aonde eu sentaria, e o primeiro acento que vi disponível eu fiquei. No primeiro momento eu não percebi quem era o indivíduo que estava ao meu lado. Eu estava muito focado em absorver bem o assunto que estava sendo apresentado no momento, sem falar que 30 minutos de aula eu já havia perdido.

Apenas no momento que sinto um esbarro em meu braço que olhei diretamente para a pessoa que se encontrava ao meu lado. Era um garoto, aparentemente uns dois centímetros mais alto que eu, pele branca, olhos castanhos claros, e aparentava fazer academia. Quando o vi, tive uma ligeira impressão que conhecia alguém que parecia com ele, mas logo fui despertado desse pensamento ao escutar sua voz.

- Desculpas, acabei cochilando.

- Sem problemas. Eu estou quase fazendo o mesmo aqui.

- Ainda bem que o semestre tá acabando, as vezes acho que irei ficar louco (risos).

- Nem me fale. Eu tenho a mesma sensação.

Ele sorriu, assim como eu.

- A propósito, eu sou o Guilherme, mas pode me chamar de Gui.

- Eu sou o Bernardo.

(Gui) - Já sabe a especialização que quer?

- Penso em pediatria, ou neurocirurgia.

(Gui) - Quanta responsabilidade, digo, a gente já tem que ter quando escolhe cursar medicina, porém você é corajoso.

- E você, qual área quer?

(Gui) - Cardiologia.

- Quanta coragem rapaz (risos). Todas as áreas da medicina tem riscos, porém tem algumas que dá para reparar certos erros, já outras não. A gente vai lhe dá com vidas, e isso é absolutamente ariscado. Meu pai é Cardio, posso te ajudar a amadurecer essa sua decisão, caso você queira.

(Gui) - Concordo plenamente com tudo que você falou e aceito a oferta.

- Ótimo. Você pode tirar dúvidas nas nossas férias, assim não fica muito corrido pra ninguém, já que nossa rotina é bastante puxada.

O papo não se estendeu muito, trocamos os nossos contatos e voltamos a focalizar na aula. Vez ou outra nossos braços se esbarravam de leves, e eu sentia uma energia totalmente diferente percorrer meu corpo, era estranho, muito estranho na verdade, por que eu nunca havia sentido isso antes. Desde a noite anterior quando o Heitor me olhou profundamente, eu me sinto diferente, e não consigo explicar e entender isso no momento.

Finalmente a aula terminou. E pude checar as mensagens, algumas de grupos, outras dos amigos chamando para sair na noite, e tinha a do Heitor.

Heitor:
" Bom dia. Estais bem? Quero dizer que gostei muito de conhecer e trocar algumas ideias contigo. Ah propósito, aceita uma pizza ou um filme hoje? Pode ser na sua casa, ou na minha, você decide."

Por mais cansado que eu estava cogitei em não aceitar, porém o Heitor era um cara agradável de estar perto, e eu teria o domingo todo para descansar. Então retornei sua mensagem positivamente. O combinado ficou que seria na minha casa às 20:00 da noite.

Como a aula tinha acabado por volta das 12:50, e o Heitor chegaria apenas às 20:00, decidi dormir durante a tarde. Dormi feito pedra, só acordei com o telefone tocando, era meus pais. Falei com eles e prometi dá uma passada por lá no domingo, já que eu mal aparecia, por causa do fechamento do semestre. Aproveitei que estava perto do Heitor chegar e fui me organizar, escolhi alguns filmes na Netflix de comédia. No horário combinado o Heitor chegou, levou uma pizza e uma garrafa de vinho consigo. Ficamos na varanda do apartamento, observando as nuvens de chuvas que se formavam lentamente, nem foi preciso colocar filme. O papo estava sendo muito produtivo. Tomamos a garrafa do vinho quase toda, mas mesmo assim estávamos consciente.

Uma chuva forte começou a cair juntamente com a temperatura e adentramos para sala. Ficamos muito próximo conversando, podia sentir o calor do corpo do Heitor, e seu perfume. Sua mão repousou sobre a minha, e eu gelei. Um silêncio perturbador se fez, mas logo sua voz ecoou em meus ouvidos.

(Heitor) - Você é um garoto muito atraente, adorável, simpático entre outros atributos que eu poderia mencionar. Eu quero a cada dia te conhecer melhor, você me faz bem, muito bem.

Sua cabeça aproximou-se ainda mais perto, e naquele momento eu não sabia como reagir, eu queria acabar com aquilo, porém seu olhar me prendeu, e eu não conseguia esboçar nenhuma reação, a não ser esperar pelo óbvio.

Seus lábios quentes encostaram nos meus, sua mão subiu até meu pescoço, seu corpo juntou-se ao meu, e o óbvio se concretizou. Um beijo calmo e intenso foi iniciado, seus braços fortes me cercaram e eu pude sentir ainda mais seu corpo contra o meu. Sua boca beijou-me o queixo, em seguida o meu pescoço, e de imediato meus pelos se eriçaram. Logo voltou a invadir novamente minha boca, chupando minha língua com mais intensidade, mais fúria, mais vontade, mais desejo. Eu podia sentir sua ereção pulsar dentro da calça. Ao final do beijo, sua testa ficou na minha, seu nariz no meu, sua boca na minha. O único som audível era de nossas respirações ofegantes. Seu olhar não saia do meu. Sua mão apertou a minha, e sua boca voltou a entrar em contato com a minha pele. Heitor depositou um beijo em minha testa.

- Eu nunca fiz isso, estou confuso, Muito. Não sei se consigo.

(Heitor) - Estou aqui.

- Eu preciso ficar sozinho, desculpas.

O Heitor se retirou e eu não conseguia dormir pensando no que estava acontecendo comigo, e no que tinha  acontecido a poucos minutos. Eu sabia exatamente o que aquilo tudo que estava acontecendo comigo significava, porém eu não queria aceitar, eu não podia. E fiz-me acreditar que aquela situação foi gerada por causa do vinho, nada a mais, que tudo voltaria a ser como era.

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