Capítulo 4

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Visão Penélope

   E aqui estou eu, de frente para as portas do bar. Ansiedade, medo e angústia me atingem.
   Deve fazer uns cinco minutos que estou parada aqui, mas para mim pareceram horas.
   Suspiro pesadamente e entro em seguida. Ninguém olhou na minha direção como imaginei que aconteceria, todos continuaram bebendo e dando risada, como se mais nada importasse, e isso me trouxe certo alívio - muito alívio -, relaxei um pouco meus músculos e soltei o ar dos pulmões.
   Dei uma olhada geral pelo bar, e, em sua maioria, haviam marinheiros bêbados, agindo como bêbados  obviamente. Não enchergava ninguém que aparenta-se ser da frota de Gates, estava começando a pensar que a informação dada ao Jimmy fosse falsa, e foi aí que eu vi ele. Cabelos de um preto escuro como carvão, pele clara demais para um pirata que passa meses no mar, não aparentava ser muito musculoso, cheguei a duvidar que ele era mesmo um contratante do Gates, mas ele estava com o brasão da frota e ninguém ousa usá-lo sem pertencer a ela.
   Tá bem, achar ele foi a parte fácil, a questão é como me aproximar dele sem parecer um gatinho medroso, quer dizer, quais são as chances dele contratar um homem com a voz trêmula?
  Mais um suspiro. Sento me em uma das mesas, ainda pensando em como arranjar coragem, e é quando uma das moças que serve bebida se aproxima, oferecendo uma caneca de cerveja.
   -- Não, não, moça. Não tenho como pagar. -- falo abanando as mãos.
Ela sorriu, um sorriso muito gentil devo dizer.
   -- Não se preocupe, esse é por conta da casa. -- disse colocando a caneca na mesa, dessa vez não me opus. -- Às vezes um cavaleiro precisa de uma dose de coragem.
   Sinto meus olhos arregalaram levemente, ela pisca pra mim e sai, voltando ao seu serviço. Encara a caneca com o líquido ambar, já havia cometido várias infrações, mas beber nunca foi parte delas. Ok, pegar leve, uns dois goles já devem ser o suficiente.
   Quando o líquido passa pelos meus lábios, sinto o gosto amargo tomar minha boca -- com certeza eu fiz uma careta. Abaixo a caneca deixando ela na mesa novamente, direciono meu olhar para o contratante, e tudo está do mesmo jeito, ninguém se aproximou dele, nada aconteceu, eu imaginava que teria um fila enorme, cheia de homens querendo aventuras e fortunas, brigando por um lugar na frota, mas não havia ninguém, nem se quer olhavam em sua direção, é como se nem enchergassem ele ali, muito estranho.
   A moça que tinha trazido minha bebida estava passando pela mesa, depois de ter entregado mais bebidas para uns homens que estavam 'cantando' músicas numa mesa próxima.
   -- Com licença, moç...
   -- Elizabeth, mas pode me chamar de Beth. -- fala antes que eu terminasse a palavra, com o mesmo sorriso de antes.
   -- Hum, está bem. -- falo um pouco confusa. -- Aquele homem, na última mesa, ele trabalha para aquele tal de Synyster Gates? -- tento falar do modo mais discreto possível
   -- Trabalha sim. -- ela fala sem aos menos olhar pra ele, como se fosse normal perguntarem isso a ela. -- Ele deve ser um contratante, de tempos em tempos aparece um deles por aqui, mas posso te dizer que é a primeira vez que vejo esse contratando.
   -- Ooh, mas não é estranho não haver ninguém se candidatando? Quer dizer, pelo o que eu ouvi desse Gates, ele é um pirata renomado e tudo mais, não é suposto que haja dezenas de homens querendo fazer parte disso??
   -- Geralmente há muitos mesmo. -- ela solta uma pequena risadinha. -- Mas desse aí, eles tem um pouco de receio de se aproximar.
   -- Por que? -- perguntei sem pensar e Elizabeth tentou segurar mais uma risadinha.
   -- Bom, se aproxime e confira por si mesmo. -- ela se afasta com mais um sorriso, dessa vez estava mais para divertido do que gentil.
   Um arrepio percorreu minha espinha, tomei mais um gole do líquido amargo e decidi fazer logo o que vim pra fazer.
   Levantei, deixando a caneca praticamente cheia na mesa, e segui em direção a mesa do contratante misterioso.
   Quando cheguei perto, não perdi tempo e fui logo sentando em um dos bancos vazios.
   -- Boa tarde, senhor. Ouvi que és um contratante da esquadra de Gates, como faço para me inscrever? -- espero que por fora eu pareça confiante, porque por dentro é como se um vulcão estivesse em erupção.
   Ele soltou um riso de deboche abafado pela caneca de cerveja que estava levantada enquanto ele bebia, isso seria o suficiente para minhas pernas ficarem moles e eu cair se estivesse de pé.
   -- E o que faz você pensar que eu contrataria você? -- ele abaixou a cabeça, mas ainda não olhou em minha direção, continuou com a cabeça baixa.
   -- E porque você não me contrataria? -- e foi aí que eu vi seus olhos pela primeira vez, eram escuros, muito escuros, e continham um tonalidade vermelha bem marcante que dava um ar meio demoníaco nele, mas com os olhos também pude ver sua face e ele era novo, talvez uns dois anos mais velho que eu. Ele, com certeza, não é nada que eu imagino num pirata -- além da arrogância evidente, é claro.
   Ele me avaliou por inteira, o que fez eu me arrepiar novamente.
   -- Eis muito pequeno e magro, não deve nem aguentar a própria espada, um inútil. -- voltou sua atenção a bebida. Não sei se foi o comentário ou a bebida, mas sentir a raiva aparecer, ocultando completamente o medo dele que estava sentindo.
   -- Fala como se fosse o homem mais musculoso do mundo. -- parou sua caneca no meio do caminho até sua boca quando ouviu minha voz. -- Branquelo desse jeito, deve ser o fulaninho que fica empilhando caixas e lustrando canhões, e devem ter te mandado pra cá porque nem isso faz direito. -- falei irritada, aumentando um pouco meu tom de voz.
   Então ele me encarou, me encarou de verdade, com se estivesse vendo minha alma, e adivinha... sim me arrepiei de novo, mas dessa vez não me deixei abalar, mantive meu olhar firme no dele, no olhar dele havia uma mistura de ira e surpresa.
   -- Como ousa me ofender desse jeito? Quem pensas que é? -- sua voz estava firme, irredutível, carregada de contrariedade.

"Nunca abaixe a cabeça para ninguém, você não está abaixo de ninguém"

   Qualquer no meu lugar já teria abaixado a cabeça ou saído correndo dali, mas a voz de meu pai ecoava na minha cabeça, me impedindo de fazer qualquer outra coisa que não fosse enfrenta-lo de volta.
   -- E você achas que alguém superior a mim? Acha que pode falar o que quiser para quem quiser e irá ficar tudo bem? -- o encarei com indignação. -- Acha mesmo que carrego uma espada que não consigo usar? Quer que prove?
   Ele estreitou os olhos, analisando minhas palavras.
   -- Está me desafiando para um duelo?
   -- Se é o que deseja, não vejo porque não.
   E o silêncio se fez, nem as risadas estavam presentes, todos os olhares no bar estavam voltados para nós, já era a discrição, Jimmy que me perdoe.
   -- Então vamos, se é uma lição que quer, é uma lição que vai ter. -- falou levantando-se bruscamente.
   Minha mão esquerda foi, inconscientemente, para o cabo da espada e apertei com firmeza, como se fosse para dar sorte.
   Levantei, e o segui até para fora do bar. Era o que eu precisava mesmo, um maldito de um duelo, qual a dificuldade de só escrever um nome numa lista e me deixar embarcar na fragata. Bom, vamos ver no que vai dar.

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⏰ Última atualização: Jan 31, 2018 ⏰

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