Visão Penélope
E aqui estou eu, de frente para as portas do bar. Ansiedade, medo e angústia me atingem.
Deve fazer uns cinco minutos que estou parada aqui, mas para mim pareceram horas.
Suspiro pesadamente e entro em seguida. Ninguém olhou na minha direção como imaginei que aconteceria, todos continuaram bebendo e dando risada, como se mais nada importasse, e isso me trouxe certo alívio - muito alívio -, relaxei um pouco meus músculos e soltei o ar dos pulmões.
Dei uma olhada geral pelo bar, e, em sua maioria, haviam marinheiros bêbados, agindo como bêbados obviamente. Não enchergava ninguém que aparenta-se ser da frota de Gates, estava começando a pensar que a informação dada ao Jimmy fosse falsa, e foi aí que eu vi ele. Cabelos de um preto escuro como carvão, pele clara demais para um pirata que passa meses no mar, não aparentava ser muito musculoso, cheguei a duvidar que ele era mesmo um contratante do Gates, mas ele estava com o brasão da frota e ninguém ousa usá-lo sem pertencer a ela.
Tá bem, achar ele foi a parte fácil, a questão é como me aproximar dele sem parecer um gatinho medroso, quer dizer, quais são as chances dele contratar um homem com a voz trêmula?
Mais um suspiro. Sento me em uma das mesas, ainda pensando em como arranjar coragem, e é quando uma das moças que serve bebida se aproxima, oferecendo uma caneca de cerveja.
-- Não, não, moça. Não tenho como pagar. -- falo abanando as mãos.
Ela sorriu, um sorriso muito gentil devo dizer.
-- Não se preocupe, esse é por conta da casa. -- disse colocando a caneca na mesa, dessa vez não me opus. -- Às vezes um cavaleiro precisa de uma dose de coragem.
Sinto meus olhos arregalaram levemente, ela pisca pra mim e sai, voltando ao seu serviço. Encara a caneca com o líquido ambar, já havia cometido várias infrações, mas beber nunca foi parte delas. Ok, pegar leve, uns dois goles já devem ser o suficiente.
Quando o líquido passa pelos meus lábios, sinto o gosto amargo tomar minha boca -- com certeza eu fiz uma careta. Abaixo a caneca deixando ela na mesa novamente, direciono meu olhar para o contratante, e tudo está do mesmo jeito, ninguém se aproximou dele, nada aconteceu, eu imaginava que teria um fila enorme, cheia de homens querendo aventuras e fortunas, brigando por um lugar na frota, mas não havia ninguém, nem se quer olhavam em sua direção, é como se nem enchergassem ele ali, muito estranho.
A moça que tinha trazido minha bebida estava passando pela mesa, depois de ter entregado mais bebidas para uns homens que estavam 'cantando' músicas numa mesa próxima.
-- Com licença, moç...
-- Elizabeth, mas pode me chamar de Beth. -- fala antes que eu terminasse a palavra, com o mesmo sorriso de antes.
-- Hum, está bem. -- falo um pouco confusa. -- Aquele homem, na última mesa, ele trabalha para aquele tal de Synyster Gates? -- tento falar do modo mais discreto possível
-- Trabalha sim. -- ela fala sem aos menos olhar pra ele, como se fosse normal perguntarem isso a ela. -- Ele deve ser um contratante, de tempos em tempos aparece um deles por aqui, mas posso te dizer que é a primeira vez que vejo esse contratando.
-- Ooh, mas não é estranho não haver ninguém se candidatando? Quer dizer, pelo o que eu ouvi desse Gates, ele é um pirata renomado e tudo mais, não é suposto que haja dezenas de homens querendo fazer parte disso??
-- Geralmente há muitos mesmo. -- ela solta uma pequena risadinha. -- Mas desse aí, eles tem um pouco de receio de se aproximar.
-- Por que? -- perguntei sem pensar e Elizabeth tentou segurar mais uma risadinha.
-- Bom, se aproxime e confira por si mesmo. -- ela se afasta com mais um sorriso, dessa vez estava mais para divertido do que gentil.
Um arrepio percorreu minha espinha, tomei mais um gole do líquido amargo e decidi fazer logo o que vim pra fazer.
Levantei, deixando a caneca praticamente cheia na mesa, e segui em direção a mesa do contratante misterioso.
Quando cheguei perto, não perdi tempo e fui logo sentando em um dos bancos vazios.
-- Boa tarde, senhor. Ouvi que és um contratante da esquadra de Gates, como faço para me inscrever? -- espero que por fora eu pareça confiante, porque por dentro é como se um vulcão estivesse em erupção.
Ele soltou um riso de deboche abafado pela caneca de cerveja que estava levantada enquanto ele bebia, isso seria o suficiente para minhas pernas ficarem moles e eu cair se estivesse de pé.
-- E o que faz você pensar que eu contrataria você? -- ele abaixou a cabeça, mas ainda não olhou em minha direção, continuou com a cabeça baixa.
-- E porque você não me contrataria? -- e foi aí que eu vi seus olhos pela primeira vez, eram escuros, muito escuros, e continham um tonalidade vermelha bem marcante que dava um ar meio demoníaco nele, mas com os olhos também pude ver sua face e ele era novo, talvez uns dois anos mais velho que eu. Ele, com certeza, não é nada que eu imagino num pirata -- além da arrogância evidente, é claro.
Ele me avaliou por inteira, o que fez eu me arrepiar novamente.
-- Eis muito pequeno e magro, não deve nem aguentar a própria espada, um inútil. -- voltou sua atenção a bebida. Não sei se foi o comentário ou a bebida, mas sentir a raiva aparecer, ocultando completamente o medo dele que estava sentindo.
-- Fala como se fosse o homem mais musculoso do mundo. -- parou sua caneca no meio do caminho até sua boca quando ouviu minha voz. -- Branquelo desse jeito, deve ser o fulaninho que fica empilhando caixas e lustrando canhões, e devem ter te mandado pra cá porque nem isso faz direito. -- falei irritada, aumentando um pouco meu tom de voz.
Então ele me encarou, me encarou de verdade, com se estivesse vendo minha alma, e adivinha... sim me arrepiei de novo, mas dessa vez não me deixei abalar, mantive meu olhar firme no dele, no olhar dele havia uma mistura de ira e surpresa.
-- Como ousa me ofender desse jeito? Quem pensas que é? -- sua voz estava firme, irredutível, carregada de contrariedade."Nunca abaixe a cabeça para ninguém, você não está abaixo de ninguém"
Qualquer no meu lugar já teria abaixado a cabeça ou saído correndo dali, mas a voz de meu pai ecoava na minha cabeça, me impedindo de fazer qualquer outra coisa que não fosse enfrenta-lo de volta.
-- E você achas que alguém superior a mim? Acha que pode falar o que quiser para quem quiser e irá ficar tudo bem? -- o encarei com indignação. -- Acha mesmo que carrego uma espada que não consigo usar? Quer que prove?
Ele estreitou os olhos, analisando minhas palavras.
-- Está me desafiando para um duelo?
-- Se é o que deseja, não vejo porque não.
E o silêncio se fez, nem as risadas estavam presentes, todos os olhares no bar estavam voltados para nós, já era a discrição, Jimmy que me perdoe.
-- Então vamos, se é uma lição que quer, é uma lição que vai ter. -- falou levantando-se bruscamente.
Minha mão esquerda foi, inconscientemente, para o cabo da espada e apertei com firmeza, como se fosse para dar sorte.
Levantei, e o segui até para fora do bar. Era o que eu precisava mesmo, um maldito de um duelo, qual a dificuldade de só escrever um nome numa lista e me deixar embarcar na fragata. Bom, vamos ver no que vai dar.
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De Repente Pirata!
FanfictionEste livro conta a história de Penélope Haner, uma pobre garota de apenas 15 anos. Ela acreditava que seu pai havia morrido em um ataque pirata no barco em que era capitão quando ela tinha apenas 7 anos. Após a morte de sua mãe para uma doença...