Danna: Os Bastardos do Lote 502
Los Angeles, Califórnia
— Que merda, Alex! Atende essa porcaria de celular! — dizia Hanna pra si mesma em pé ao canto da sala, enquanto ouvia impaciente a secretária eletrônica instrui-la mais uma vez a deixar sua mensagem na caixa postal. — Alex, cadê você? Estou te ligando há horas, você nem respondeu minhas mensagens... O que tá acontecendo? Tô aqui na casa do seus pais como combinamos... Alex, não me deixa sozinha aqui com eles ou juro que te mato! — concluiu irritada.
— Querida, ele ainda não deu notícias? — perguntou Annette, que ajoelhada ao pé da árvore de Natal ajeitava as caixas de presentes. — Se te deixa mais tranquila, vou pedir ao Peter que ligue para a casa do Mike — declarou ao constatar o olhar decepcionado da jovem nora.
Annette se levantou exibindo seu vestido de cor vinho colado ao seu corpo em forma, contrastando com a silhueta mais avantajada de Hanna, cuja blusa num tom prateado caía solta por cima do short branco.
— Muito obrigada, senhora Annette! É que já é tão tarde e não consigo falar com ele desde essa manhã, ele simplesmente não respondeu nenhuma das minhas mensagens — desabafou ressentida.
— Calma, querida! Sabe como é o Alex, ele deve ter se entretido com os rapazes na festa de aniversário do Mike, na certa bebeu demais e...
— Senhora Annette, o Alex só tem dezessete anos! — falou a garota colocando as mechas pretas e lisas para trás da orelha, se contendo para não revirar os olhos por ter que lembrar a sogra que o rapaz não tinha idade para beber, mesmo tendo a permissão dos pais.
— Ah, querida, é o Alex! — falou Annette dando de ombros e se virando para sair da sala. — De qualquer forma, logo ele aparece para a ceia!
— Está certa, senhora Annette! — respondeu sem demonstrar a mesma convicção. — Quer ajuda para colocar a mesa? — perguntou solícita.
— Adoraria! — gritou a outra enquanto seguia para a cozinha, ao que Hanna a seguiu tentando se mostrar mais animada.
Embora Alex e Hanna namorassem há apenas dois anos, eles se conheciam desde a infância, pois estudaram no mesmo colégio.
Passar a noite de ação de graças na casa dos sogros não seria uma opção para Hanna caso os pais não tivessem viajado para uma segunda lua de mel, alegando que os quatro filhos já crescidos prefeririam passar os próximos dias reunidos com os amigos ou como no caso da garota, com o namorado. Realmente, a ideia foi muito bem-vinda pelos seus irmãos, mas não para Hanna, que jamais cogitaria passar tanto tempo no mesmo ambiente que sua querida sogra Annette.
A mãe de Alex, embora na maioria das vezes fosse gentil e a tratasse muito bem, acabava por disfarçar sua implicância com as medidas da garota por preocupação com a saúde da mesma. Annette chegara a insistir para que Hanna a acompanhasse na academia para se exercitar, chegou a se oferecer para acompanhá-la a um nutricionista para que a garota adquirisse melhores hábitos alimentares. Hanna chegava até mesmo a se alimentar com antecedência em sua casa toda vez que era convidada para um almoço ou jantar na companhia dos pais do namorado, a fim de evitar os olhares de reprovação da sogra. Além disso, havia ainda os comentários nada sutis de Annette sobre a necessidade de se manter em forma.
Embora Alex sempre se colocasse ao lado da namorada, elogiando-a e garantindo que não via necessidade de qualquer mudança, e mesmo Hanna tendo aprendido com os pais a se aceitar e se amar acima de qualquer coisa, a situação não deixava de ser constrangedora.
Agora, caso Alex não aparecesse a tempo para cearem juntos à mesa, Hanna teria que lidar sozinha com a situação e os constrangimentos que tinha certeza que estavam por vir.
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Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos Psicopáticos
NouvellesO vento sopra as folhas do milharal levando para longe o fedor da carne pútrida, enquanto alguns pássaros sobrevoam baixo a triste figura hasteada em meio à plantação. O corpo cadavérico encoberto por sacos de estopa, cuja face deformada é escondida...