Danna: Quando os Pássaros Pousam
Condado de Tulare, Califórnia
As pálpebras do jovem Jacob estavam pesadas demais, o seu corpo também, nunca sentira tanto a gravidade como agora, sentia como se estivesse sendo puxado para baixo com força, enquanto os seus braços jaziam abertos e bem amarrados, assim como as suas pernas, que jaziam estendidas lado a lado, também amarradas.
Seu corpo estava hasteado há mais de dois metros de altura, sua vestimenta consistia apenas em trapos feitos de saco de estopa já usado para o carregamento de espigas de milho. Parecia usar um longo vestido que cobria parte dos seus pés.
Jacob não perdera de todo a noção do tempo, sabia que estava ali há exatos cinco dias, cinco longos dias.
As fezes secas que atraíra insetos para suas pernas e pés era um pequeno lembrete das primeiras vinte e quatro horas que fora deixado ali, sozinho, não fosse os pássaros que o sobrevoavam, e que vez ou outra chegavam a pousar nos seus ombros e no chapéu de palha que trazia na cabeça, mas que em nada o protegia do sol que queimava sua pele, que mudara de branca para um terrível avermelhado.
Sua pele ardia. Doía. Fedia.
Somente quando os pássaros pousavam confiantes, é que o triste rapaz tinha a chance de tentar se alimentar rapidamente, usando da movimentação que lhe era possível fazer com a cabeça, abocanhava a ave que mais se aproximasse, tentando extorquir dela a carne e não só um punhado de penas.
O estômago roncava. Doía. Faminto. Desesperado por alguma comida.
Para a sua sorte — ou azar —, sua vida se prolongara um pouco graças ao leve chuvisco da noite anterior, proporcionando-lhe algumas gotas de água que se acumularam na aba de seu chapéu, que milagrosamente conseguiu fazer gotejar até a sua boca seca e ferida pelo bico de uma ave, que atacou-o após ser covardemente mordiscada.
Tudo que via à sua frente era o milharal, mesmo a casa do fazendeiro não era possível ver na sua atual posição. Mas, bem ao longe, podia avistar as terras de seu pai.
Seu pai...
Como lamentava agora não ter lhe dado ouvidos, se tivesse escutado o velho, não estaria ali agora, fedendo a suor, urina e fezes. Não estaria com feridas na pele ocasionadas por bicadas de corvos ou mordidas de insetos que sua pobre carne atraía.
Agora os conselhos do pai vinham mais uma vez à cabeça, e até as grosserias do velho machista faziam algum sentido.
"Com tanta xota desocupada, você acha de se enrabichar com uma mulher casada... tá arrumando problema pra cabeça, e não é só pro chifrudo não... por aqui se resolve tudo na bala..." — disse o pai ao saber do relacionamento secreto do filho.
"Mas eu a amo, pai!" — argumentou ele com certa rispidez.
"Que ama nada! Você não passa de um frangote iludido ciscando no terreiro do vizinho, e ainda por cima, se a vagabunda fosse uma mocinha... só agora vejo que te mandar estudar na capital foi um erro, Jake, você não sabe nada da vida, não faz nada certo, só besteira!" — repreendeu o pai.
"Com todo respeito, pai, ela tem poucos anos há mais do que eu..."
"Sim, sim, uns vinte..."
"Não chega há quinze, pai" — retrucava cansado pela discussão.
"Logo a coroa arruma outro frangote pra fazer de trouxa, enquanto vive às custas do chifrudo do marido..." — avisava o pai.
Nesse ponto o pai se enganara, pois a amante teve o mesmo destino que ele. A lembrança da amada fazia-o se corroer de remorso, já que foi ele quem se apaixonou por ela e fez tudo que pôde para conquistá-la.
E conseguiu.
Dias atrás, Jacob mesmo cavara sua cova e a enterrara depois que seu corpo foi removido daquela estaca, a mesma que agora ele ocupava. Ele também cavou sua própria cova, ela o aguardava para quando saísse dali, ou melhor, para quando seu corpo cadavérico fosse removido dali.
Como Jacob queria agora o futuro brilhante que o pai almejava para ele, o mesmo que antes só ridicularizava. Seu futuro estava arruinado.
"Você não sabe com quem está mexendo" — disse uma vez a amante.
Ela estava certa, ele não fazia ideia.
Agora, todos deviam achar que eles fugiram juntos, que foram viver a vida feliz e promíscua que tanto queriam, então, quem procuraria por eles?
A pobre amante já se fora, e ele estava ali, reduzido à um patético espantalho agonizante.
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Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos Psicopáticos
Historia CortaO vento sopra as folhas do milharal levando para longe o fedor da carne pútrida, enquanto alguns pássaros sobrevoam baixo a triste figura hasteada em meio à plantação. O corpo cadavérico encoberto por sacos de estopa, cuja face deformada é escondida...