Havia sangue, dor, remorso e raiva. Seu pai massacrava a fera com todas as suas forças. Enquanto ele, bom... ele era ninguém, era um ser perdido em meio ao desespero de ter sua mãe em seus braços; sangrando e se afogando em uma poça feita dela própria.
John a mantinha firme, enquanto ela se esforçara para pronunciar palavras que não partiam de sua boca. A mordida localizada em seu ombro, quase em seu pescoço acabaria com ela em minutos e seu único desejo, transmitido apenas por seus olhos, era se despedir de seu filho e marido. Mas isso nunca aconteceria!Seu pai, arrebentava a fera soco por soco; sem parar, sem exitar e sem perder o foco. Um homem grande e musculoso que fazia jus ao semblante que possuía. Sua feição rígida e seus punhos firmes extinguiram cada traço existente do monstro. Aquilo que já fora um homem, agora não era nada mais do que restos. Quebrado por dentro e por fora, sangue fresco enfeitava sua roupa e enegreciam sua alma.
John ainda se encontrava estático, olhando fixamente para sua mãe que exibia o restante de suas forças numa tentativa fula de dizer algo para seu precioso menino. Uma despedida embaraçosa, mas ao mesmo tempo necessária. Como mãe, ela devia isso a ele, seu senso e suas últimas forças não lhe permitiriam partir sem dizer o seu preciso adeus.
— Poupe suas forças mãe... vai... vai ficar tudo bem... — suas lágrimas molhavam o rosto da mulher em seu colo, misturando-se as lágrimas de desespero dela e ao sangue que insistiaem sair de sua boca.
— Ir... mã...
— Para mãe, por favor... Eu não posso... nao posso te perder... — Suas lágrimas e soluços dramatizavam ainda mais cada palavra que saia de sua boca.
Sua respiração não era mais a mesma, mesmo se esforçando ao máximo para puxar o ar, seu pulmão já não acompanhava seu próprio corpo e a ferida já não coagulava como antes. Seu corpo já teria desistido de lutar e aceitado seu inevitável fim. Seus olhos já sem vida fizeram John entrar em desespero que por sua vez, voltou a gritar por seu pai.
Os gritos fizeram todos os monstros ao redor daquele armazém voltarem a socar as tábuas de madeira; grunhidos e arranhões; feras sedentas por carne que fariam qualquer coisa ao seu alcance, somente para ter a oportunidade de atacar sua caça.
Aquele homem já não era humano; uma fera obcecada pela besta que estava em suas mãos. Os socos repetitivos lhe tiraram toda a carne de seus dedos, porém isso já não importava. Os socos precisavam ser dados, a raiva precisava sair, seu consciente permitiu que seu instinto primitivo aflorasse e toda sua angústia estava canalizada em seus punhos.
A essa altura a mãe de John voltará a se mexer de forma peculiar. As falas se tornaram outra coisa, eram quase grunhidos. Seus olhos estavam sem cor e a ferida já não parecia importar para ela, que segurou o pescoço de John numa tentativa de trazê-lo mais para perto. Ele já estava na estrada a tempo o suficiente para entender exatamente o que estava acontecendo: ela se tornou um deles! Mas o que fazer?! Ainda era sua mãe, seu bem mais precioso, a única que tomou todas as suas dores e entendeu todos os seus pecados.
Um tiro, apenas um. O suficiente para aquele homem que ainda socava a fera saisse de seu transe. Ele voltou a si quando virou para John e notou se filho chorando feito um menino. A arma ainda encostada no pescoço do cadáver que um dia ja fora sua eposa. A bala que atravessou sua garganta explodindo seu cérebro. E John que gritava e chorava enquanto abraçava o corpo esfalecido de sua querida mãe.
Ela partiu e seu legado era inexistente. Ninguém lembraria da doce mãe que cuidou de duas crianças. Da mulher que batalhou por todas as suas conquistas. Da esposa que fez de tudo para seu marido. Do ser que era motivo de orgulho principalmente seus filhos. Seus pecados partiriam juntamente a ela, assim como toda as boas lembranças do que já fora uma família de verdade.
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O Preço Do Amanhã
Science FictionHá quanto tempo estou na estrada?! Longa, vazia e solitária. Já não sei qual sentimento me faz prosseguir. Meu objetivo é algo que talvez seja impossível de cumprir. Mas foi o último pedido de minha mãe antes de levar uma bala em sua cabeça, eu ser...