Capítulo 3

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Hoje resolvi quebrar a regra de não comer no refeitório. Fui comer em uma lanchonete que abriu em frente à faculdade. Todo mundo estava falando o quanto era bom a comida de lá.

Ignorei o almoço da faculdade e quando acabou a aula fui lá. Olhei o cardápio que uma moça me deu. Fiz meu pedido. Observei como o pessoal trabalhava lá, então peguei meu lanche e sai. Atravessei a rua para sentar-me em um dos bancos em frente à faculdade.

Esqueci de colocar meus materiais no armário e agora eles queriam ir para o chão, ajeitava de um lado caia de outro. De repente caiu tudo no chão, - salvei meu lanche – olhei para cima e vi que tinha batido em homem. Droga Samira! Droga! Droga!

- Posso te ajudar? Você está bem?

- Não. Estou bem, obrigada.

- Deixa que eu te ajudo. Também foi culpa minha.

- Já disse que não precisa. – falei um pouco alto.

Ele me olhou assustado. Juntei meus materiais.

- Há. Desculpa-me. Não foi meu interesse gritar com você. É que quando o assunto é fazer coisas erradas na faculdade, fico meio nervosa.

- Tudo bem. Mas, mesmo assim me desculpe.

Ele se aproximou de mim. Recuei.

- Desculpe. Tem uma coisa no seu cabelo.

Ele puxou uma folha.

- Há.

- Você está bem?

- Sim. Estou.

Sentei em um dos bancos próximos.

- Posso me sentar? – perguntou.

- Ah. Aqui? Pode.

- Obrigado.

Mordi meu lanche. Senti um gosto deferente. Um sabor picante. Olhei de rabo de olho para ele e ele estava me observando.

- Ah. Você quer? – perguntei.

- Não. Obrigado.

- Ta perdendo em.

- Eu já comi.

- Você estuda aqui? – perguntei.

- Não. Bem... estudava.

- Há.

- E você? Estuda aqui?

- Sim.

Terminei meu lanche e olhei para ele. Pude observar suas curvas, seus lábios, seu cabelo macio, seus olhos castanho-escuros. Usava um óculos quadrado, perfeitamente alinhado.

- Tem alguma coisa em mim? – perguntou.

- Am? Que?

- Você está me olhando. Tem algo de errado em mim?

Cai na real. Meu Deus que vacilo.

- Há desculpe.

- Tudo bem?

- Sim. Tenho que ir. Desculpa novamente, por ter batido em você e por gritar com você.

- Tudo bem.

Ele falou alguma coisa, mas não consegui ouvir, pois já tinha entrado no ônibus.

...

Quando cheguei em casa minha mãe não estava. Deixou um bilhete dizendo que havia ido até o centro para comprar algumas coisas.

Belisquei um sanduíche e deitei. Os pensamentos sobre o garoto de mais tarde vieram à tona. E cogitei a possibilidade de estarmos juntos. Patético. Não sabia seu nome, sua idade, quem era e nem de onde vinha. Um completo estranho. Foi pensando no seu sorriso, suas curvas, seu olhar e seus músculos que adormeci.    

...

Na manhã seguinte estava radiante. Passei um bom perfume e coloquei uma boa roupa.

- Bom dia.

- Bom dia. Filha quanto alegria. - questionou minha mãe.

- Há. Só estou feliz.

- Que bom. Sente. Coma alguma coisa.

Fiz o que minha mãe sugeriu. Peguei um sanduíche e mordi.

...

Quando cheguei na faculdade procurei pelo garoto que vi ontem, mas não o encontrei. Entrei pra aula com o pensamento positivo: ele estaria a minha espera na saída.

Enquanto a Sra: Souza explicava uma matéria até importante, peguei-me descontraída várias vezes. Pensando novamente na perfeição que o menino apresentava. Não sabia quem era ele e nem seu nome. Pensei na possibilidade de ser um marginal qualquer, mas um marginal não seria tão perfeito quanto. Acompanhava o ponteiro do relógio como uma onça observa sua refeição. O ponteiro que sempre mudava de número, parecia hoje uma tartaruga em um asfalto ensolarado. Quando o sino bateu, sai o mais rápido que pude. Corri escadaria abaixo em busca do meu príncipe encantado.

Mas. Quando cheguei na calçada da faculdade. Ele não estava lá. Olhei ao redor e não vi ele. Cansada por ter corrido, murmurei um droga.

Doce Perigo.Onde histórias criam vida. Descubra agora