Pura e Graciosa

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Fico pensando o que minha mãe e minha avó tinham na cabeça para me nomear de Anne Katharina. Sinceramente, não combina. Lembro-me bem da minha vó dizendo que o significado do nome é bonito e que era igual à da minha mãe que se chama Ana Katharine. O significado seria "Pura e Graciosa", minha mãe era assim, minha irmã é assim, mas eu não sou assim, não mais.

Minha mãe e vovó amavam o meu nome e o dela, dona Ana sempre dizia que eu era Pura e Graciosa, talvez eu tenha sido até os quinze. Esse nome não combina comigo, há muito deixei de ser pura e graciosa, e confesso que sinto falta de ser isso de vez em quando. Apesar da aparência e do meu jeito de ser, não sou nada disso, confesso, não sou a melhor das pessoas. Não posso fazer nada quanto a isso, eu me amo assim. Sou linda, sou um brilho!

Mas para elas - minha mãe e minha avó... Bem, para elas eu não seria um brilho, seria apenas uma decepção é esse pensamento me entristece. Então talvez eu deveria tentar ser melhor por elas... Apenas talvez!

Minha avó morreu quando eu tinha dez anos, minha mãe entrou em depressão na época e meu pai que já era pouco presente na nossa vida sumiu. Com a depressão minha mãe parou de trabalhar, não comia nem bebia e mal tomava banho. Obvio, adoeceu. Eu tenho uma irmã mais nova e na época tinha três anos.

Tudo ficou terrível quando Ana adoeceu, minha tia imprestável veio morar conosco, ela trabalhava e mantinha a casa. Minha obrigação era cuida da Melissa, da mamãe e da casa. Estudar, tomar conta de Melissa e cuidar da casa era mole, difícil era minha mãe que a cada dia ficava pior. Mas depois de um ano eu já estava acostumada com tudo.

Depois de um tempo mamãe melhorou, voltou a brilhar um pouco e começou a trabalhar. Tudo aparentemente voltou ao normal. Até que ela adoeceu de novo, a situação estava ficando tensa e mais e mais remédios ela tinha que tomar e onde arrumar?

A verdade é que depois da morte da minha avó nada mais ficou bem, quando eu tinha quinze anos minha mãe estava ruim no hospital e não tínhamos o que fazer. Tinha Melissa para cuidar, a casa para manter, remédios para comprar e muitas dívidas para pagar. Eu não sabia mais o que fazer, até que minha tia me disse que eu poderia ganhar grana fácil com as pessoas certas e se eu estivesse disposta ela me ensinaria tudo, eu passei muito tempo pensando nisso.

Certo dia eu estava lá no hospital com minha mãe, pois ela teve que voltar la, estava muito mal. Ela estava quieta, mas acordada e eu me atrevi a perguntar:

- Mamãe como tia Celia consegue dinheiro? Empregada Domestica não ganha tanto – comentei. Ela remexeu um pouco na cama e fez uma cara feia. Acho que não gostou da pergunta

- Anne querida, sua tia tem vários amantes ricos. Não seja como ela! - sua voz era fraca, mas sua ordem foi ouvida

- Não vou ser - e ignorada

Graças a Deus eu não prometi nada. Semanas depois estávamos mais afundados em dívidas, e minha mãe só piorando. No desespero de perder a minha mãe, a casa e tudo aceitei a proposta da tia Celia. Ela me ensinou bons modos, como agir, falar, dentro outras coisas, me fez ver que eu podia ser amante e que eu também podia ser dama de companhia, e até mesmo fingir ser filha desses homens para os mesmos conseguir fazer negócios - mas jamais deveria dar a minha virgindade a eles. Segundo, tia Célia minha virgindade deveria ser guardada para fins maiores.

Com o tempo e os truques de titia eu consegui dinheiro. Paguei pelas dividas, os remédios e dei uma boa vida de criança para minha irmã. De certo modo foi tudo em vão, pois tempos depois minha mãe morreu, mas não foi por culpa da doença. A casinha onde morávamos não era um bom lugar, choveu muito forte e o barranco que tinha atrás da casa deslizou acabando com tudo e mamãe não sobreviveu.

Depois disso eu e minha irmã mudamos para a casa do Tio Viny, mas não fiquei lá por muito tempo, pois para eles eu ganhei uma bolsa em um ótimo internato fora da cidade. A verdade é que eu fui morar com Gabriel, o primeiro idiota.