Hoje
Chutada de novo. Já é a terceira vez que sou chutada em toda a minha vida. Eu mal posso acreditar, estava indo tudo bem, tudo perfeito e de repente cá estou eu entregando meu currículo para uma mulher amiga de uma amiga de uma amiga de não sei quem da padaria.
Eu estava na padaria um dia desses e estava reclamando sobre minha necessidade de trabalhar, eis que uma madame me diz de uma moça que pode entregar alguns dos meus currículos por aí se eu desse a ela grana, como a madame mesmo falou "Foi assim que encontrei a empregada perfeita, é ótimo fazer negocio com essa moça" e eu fiquei arrasada, por acaso tenho cara de empregada?
Mas o fato é que a moça me deu um endereço e agora estou aqui sentado em um desses bancos velhos, esperando a boa vontade da entrega currículo me atender, segundo ela o seu trabalho de carteira assinada é mais importante e que assim eu teria que pegar a fila para poder falar com ela.
- Próximo – gritou a mulher
Levantei do banco velho e fui até a mulher com um olhar irritado. - Oi. Vim entregar o meu currículo. - disse apenas isso com a esperança de que fosse o suficiente para ela entender ou se lembrar do que se tratava.
Quero dar o pé daqui logo.
- Obrigada. Vão te ligar – respondeu carrancuda.
Sai dali e fui encontrar Dani, minha melhor amiga. Eu a conheci na faculdade, ela estava na minha turma de direito constitucional.
Lembro-me como se fosse ontem, ela entrou na sala e se sentou ao meu lado. Ela estava com uma sacola de bala na mão e me ofereceu uma, aceitei e ganhei uma tremenda amiga. Eu conto tudo sobre mim para ela e vice versa, ela me aceitou da maneira que eu sou, com bagagem e tudo, isso foi ótimo para mim, pois sempre carrego comigo o medo de não ser aceita por conta da vida que levo.
Ando durante uns trinta minutos e agradeço a Deus por eu estar de sapatilha e não de salto, como o de costume. Para a minha sorte Dani estava em um restaurante próximo a empresa de seguros onde eu fui me encontrar com a mulher do currículo.
Viro a esquina e logo vejo minha amiga sentada em uma mesa do lado de fora do restaurante sorrindo para o telefone... Dani e os seus namorados...
Sento-me ao seu lado, o barulho da cadeira se arrastando faz com que ela olhasse para mim e me dê-se um sorriso .
- Hey, raio de sol. - digo devolvendo o sorriso. - Como está?
- Bem. - ela responde guardando o celular na bolsa. - Eu já pedi.
- Tudo bem. - me remexo na cadeira e solto. - Não sabe da última, eu fui chutada de novo. DE NOVO. Ninguém merece, qual é o problema das pessoas? Me mandar ir embora assim... Só podem ter problemas mentais.
Ela ri - Você é ótima. Mas o que pretende fazer? Tem onde ficar?
- Claro né!? O ruim é que até hoje eu não consegui um emprego, me rendi e estou oferecendo meu trabalho como faxineira, empregado domestica e até babá.
- NÃO. - ela grita, faz cara de espanto e arregala os olhos. Quando ela percebe que gritou põe a mão na boca. - Você odeia crianças - agora ela fala em um volume normal, mais baixo.
- Eu sei. - eu dou um suspiro. - Nunca estive tão pobre em toda a minha vida. - assim que eu término de falar a comida chega, percebo que é um risoto de frango, amo risoto de frango. A comida parece estar tão saborosa e o cheiro... Ah, esse cheiro.
E então eu paro um momento para reparar no restaurante. Percebo que é um bistrô e com uma aparência de que a comida é bastante cara. Foda-se, qualquer coisa é só eu sair correndo e sendo assim eu dou uma bela garfada e gemo de prazer, a comida está deliciosa.
- Está uma delicia. - Dani murmura.
- Está sim. - mais uma garfada. - Dani, eu estou tão pobre que não posso pagar pela comida, a unica coisa que eu posso pagar é pelo Ônibus, que por sinal esta caro e vive cheio.
Ela dá uma boa risada. - Quanto drama, Anne. Fique calma, eu pago.
- De jeito nenhum.
- Cale a boca. Eu tenho pais rico que me enche de dinheiro, tenho um emprego, te convidei e pago pela comida e assunto encerrado. Se você insistir nisso vou ficar muito chateada e ficar três dias sem falar com você. - Fico quieta, de boca lacrada diante suas ameças, pode até parecer besta, mas certa vez ela ficou uma semana sem falar comigo. O primeiro dia sem nem um "oi" da Dani foi difícil, os seguintes dias foram piores e no final desse prazo eu pensei que irei morrer. Quando ela voltou a falar comigo eu explodi de alegria.
Terminamos nossas refeições e fomos embora.
Depois de uma semana ela me ligou empolgada dizendo que tinha saído daquele escritório asqueroso na qual trabalhava. Ela estava trabalhando como secretaria de um advogado safado que só ficava assediando ela, não entendia porque não denunciava, mas tudo bem agora ela não está mais lá. Comemoramos juntas sua saída do escritório podre na qual trabalhava
Depois de duas semanas foi a minha vez de ter uma entrevista de emprego. Ocorreu tudo bem, tirando o fato de que eu estava nervosa porque havia mentido sobre meu nome. Qual é, não me julgue, eu não posso ser uma domestica, sou uma advogada de sucesso.
O meu mais novo patrão era um homem na faixa dos sessenta anos, ele estava bem em forma se quer saber. Era um homem bonito de tamanho mediano, nem muito alto e nem baixo. Seus cabelos grisalhos brilhavam e ele gozava de uma barriguinha de chopp. O que não pode ser deixado de lado é que ele é um homem agradável, gentil, meio solitário - apesar de ter uma filha chama Sabrina - e um tanto mulherengo.
Não vou negar que me ocorreu de que ele poderia ser mais uma das minhas vitimas, mas não pude fazer isso com ele. Carlos, esse era o seu nome, me ganhou, ganhou minha amizade e estima, eu já não era mais apenas uma empregada eu me sentia como sua amiga.
Certo dia ele me convidou para se sentar junto a ele no jardim para tomar um chá, ele adora chás.
- Te investiguei, menina. - ele disse assim que me sentei em frente a ele. - Eu sei o que você andou fazendo com alguns pobres homens.
Eu sabia do que ele se referia. No primeiro instante, não vou negar que fiquei nervosa, mas logo me acalmei, não tinha motivos para estar nervosa, sinto que posso confiar em Carlos. - Nem tão pobres e inocentes assim. Há um padrão. Em sua maioria eles enganaram, traíram, mentiram e agiram de má fé com pobres garotas e esse é o meu consolo, faz com que eu não me sinta tão mal.
- Pensa que é justiceira? Veja querida, assim é a vida. Acontece.
- Sei que sim.
- Tem que parar... Isso vai te destruir um dia, Anne. - olho para ele um pouco surpresa, mas não deveria, visto que eu já sei que ele sabe quem sou eu. - Eu sei o seu nome há muito tempo, deixou sua identidade cair da bolsa uma vez, li seu nome antes que você pegasse e me olhasse nervosa.
- Certo. Foi amador da minha parte, reconheço. - digo envergonhada. Por Deus, eu havia sido muito idiota. Que tipo de otária anda com a identidade original na bolsa quando está mentindo sobre sua identidade para alguém?
Ele sorri. - Como eu dizia tem que parar.
- Não vou.
- Isso vai te levar a destruição. Ouça-me, meu irmão era interesseiro e ambicioso como você e ele está na lama agora. Ele tem dinheiro, mas é só. É um homem mais solitário que eu. Não vale a pena machucar as pessoas para ter o que quer de forma suja, você é linda e inteligente. Faça valer o significado do seu nome.
- Você sabe?
- Sim, eu sei. Acho lindo. Pura e graciosa... Anda, seja uma garota pura, sem sujeiras na historia, faça o seu melhor. Tenha a graça de viver com sorrisos e amigos do lado e a pureza para ser boa para o próximo. Tenha relações pura.
Pensarei nisso, Carlos
- Não sou mais graciosa, tampouco pura. - me levanto. - Tenho que ir trabalhar.
- Você ainda é pura e graciosa.
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Pura e Graciosa
ChickLitQuando mamãe ficou doente começaram a surgir novas coisas dentro de mim, o medo era um deles. Eu tinha muito medo de perder a mamãe, eu já tinha perdido vovó e eu não estava disposta a perder mais alguém que eu amava. A situação de mamãe não melhor...