Lancaster & Blackstone

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O burburinho de conversas animadas tomava conta da sala quando ela entrou. O cabelo dourado, que descia por seu rosto como uma cortina, tratou de chamar atenção como sempre fazia. Rose McBride odiava chegar atrasada, mas não houve alternativa àquela manhã. Sua avó, Margareth, finalmente lhe aplicara o tal castigo que vinha prometendo há meses, obrigando-a a arrumar o quarto.

Como Margareth repetia a ameaça cinco vezes por dia, Rose já havia se conformado de que nunca seria realmente cumprida. Era péssimo que a avó resolvesse tê-lo feito justamente naquele dia, em que ela teria sua primeira aula de História Moderna e Mitologia. Não que fosse uma matéria à qual estivesse interessada — para falar a verdade, era opcional, e ela só estava cursando pelo auxílio que poderia ganhar nas notas se fosse um estudo fácil — no entanto, os professores da U. L. High School possuíam uma política extremamente irritante de punição àqueles que chegavam atrasados.

Basicamente, o último a chegar em cada aula teria que passar mais trinta minutos em sala com o professor, realizando atividades extras. Se, por um lado, o propósito da escola era o de estimular que os alunos menos aplicados, geralmente os que chegavam mais tarde, melhorassem as notas, por outro, ignorava muitos motivos pelos quais qualquer aluno podia se atrasar, como ao ficarem presos no trânsito, por exemplo.

Não foi nenhuma surpresa para Rose, portanto, avistar a sala completamente cheia. Um suspiro de irritação deixou sua boca.

— Obrigada, vovó Mags.

Enquanto ela cruzava as fileiras ocupadas até o fundo da sala, fingia não detectar as expressões interessadas dos garotos. Sabia que grande parte do motivo eram seus olhos: aquelas esferas peculiares de cor violeta, capazes de atrair admiradores com facilidade e, certa vez, quando tinha nove anos, até mesmo um caçador de talentos, que insistira para que ela participasse de uma sessão de fotos exclusiva.

Naquela idade, seus olhos tinham sido um grande problema. As crianças caçoavam dela, principalmente as garotas, por ter aquele visual ligeiramente excêntrico.

Enquanto crescia, o que antes era motivo de piada se tornou admiração pela maior parte das pessoas. A puberdade também ajudou; antes, a cor era intensa e chamativa. Aos dezessete anos, parecia que o brilho de seus olhos, assim como o restante de si mesma, havia amadurecido.

Agora, apesar de continuar recebendo comentários desconcertantes de estranhos, ela apresentava um tímido tom púrpura, discreto o suficiente para torná-la orgulhosa da individualidade que possuía.

Do local próximo à janela onde a única carteira vazia se posicionava, um rapaz de cabelos castanhos acenava.

— Oi, James. — Rose cumprimentou ao se sentar — Não sabia que você também tinha optado por essa matéria!

— Bom, já que temos que escolher alguma dessas matérias inúteis de qualquer maneira, prefiro, pelo menos, permanecer em uma turma com alguém que conheço. A dor do estudo é mais suportável.

Rose deu uma risada, contente por ter um amigo para passar o tempo durante os noventa minutos que se seguiriam.

— Obrigada por guardar um lugar para mim. Embora somente ficando em pé para deixar mais evidente que fui a última a chegar. Esse sistema de punição é ridículo.

— Não se preocupe. — James disse — Talvez nem seja tão ruim assim. Se o assunto for Grécia Antiga, a aula pode até se tornar interessante.

Rose o encarou, cética.

— Acredite em mim, a aula passará bem longe do monte Olimpo. Provavelmente teremos mais uma longa discussão sobre o sistema administrativo das treze colônias.

A Ruína da Magia - Livro I (Saga: O Presente de Eins)Onde histórias criam vida. Descubra agora