Mais uma linha e já lá vai não sei quanta
No meu sangue.
Hoje não vim para escrever merda.
Hoje vim foi pra fazer merda.
Há mil luzes neste cubículo
E toda a gente cabe nele.
Todos dançam uma música estranha
Que só toca na minha cabeça
E que só não me enlouquece mais,
Porque cheirei mais uma linha.
Só a cheirei porque me obrigaram.
Só a cheirei porque preciso que estes vasos sanguíneos
Expludam e saia este sangue preto todo.
Já que o vosso nunca foi preto.
Ou já que nunca o tiveram correndo
Nas veias lineares e primitivas...
Há primeiro uma euforia que eu penso ser real.
E é real! (convenço-me). Estás a armar-te em Carlos? (retraio-me).
"Toca com as mãos frias nesse rosto sujo!"
(dizem-me, obrigam-me).
"É real! Pertences a este cubículo onde cabe toda a gente..."
"Planeta Terra... Cheio de gente demente... "
"Tu és também esta fútil gente..."
"Encara-te ao teu Inferno... Tornaste-te nele...
Mesmo pensando que serias o teu céu..."
"Toda a gente sabe que foste para além do Carlos..."
"Toda a gente sabe que és o lugar onde o Carlos ainda não chegou
E pede a Deus para não chegar..."
"Pena que Deus não exista,
Porque, coitado. Ele lá vai chegar."
"E vai também cheirar,
Uma tira de cocaína".
Depois, caí no chão...
Sei bem que o passado não volta.
E ser Carlos é ser-se o passado,
E ser Lázaro é a minha proteção.
Lázaro Andrade