One

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Você é um idiota, Sasuke. Foi o que pensei ao sentir meu coração acelerar ao entrar no carro. Anos se passaram e agora eu retornava para minha cidade natal. Shisui terminava de guardar as malas enquanto Itachi procurava freneticamente por uma rádio boa.

Apoiei a cabeça na janela. Estava nervoso, admito. Afinal, depois de quatro anos desaparecido, eu retornava para Konoha. Desbloqueei o celular; vinte e quatro chamadas perdidas de Sakura, que provavelmente sabia que eu voltaria, vinte e uma de Karin, duas mensagens de Suigetsu e uma de Neji. Suspirei e ignorei tudo, coloquei um fone de ouvido e dei play na primeira música que vi, uma do Nirvana. Meu primo havia finalmente conseguido ajeitar as coisas no porta-malas e já estava sentado com as mãos no volante, enquanto meu nii-san continuava com a sua busca nas rádios.

O carro começou a andar e um longo trajeto se seguiria. Desisti dos fones de ouvido quando começou a tocar Green Day no rádio e Shisui e Itachi começaram a cantar. Shisui até que cantava direitinho, agora Itachi... Desafinado e não sabia metade da letra, mas insistia mesmo assim. Guardei os fones, desliguei o celular e tentei dormir.

Acordei algumas horas depois, ainda estávamos na estrada. Os dois da frente estavam quietos e nisso minha ansiedade voltou. O medo de me ignorarem, brigarem comigo ou até mesmo não lembrarem de mim. Sim, era verdade que eu havia ido embora sem mais nem menos, que desapareci sem avisar ninguém, que bloqueei todos de lá. Sim, isso tudo era verdade. Também era verdade que eu costumava me afastar dos outros, que era frio e fingia não me importar. Mas era tudo para esconder o gigantesco lado emocional e frágil que existia em mim.

Quando conheci Naruto, meu melhor amigo, eu não demonstrava gostar dele. O ignorava, menosprezava e ria da sua cara. Mas assim que chegava em casa, sentava no colo de Itachi e lhe contava animado tudo o que havia acontecido. Naruto Uzumaki, meu primeiro amigo e agora meu maior medo.

Se eu tinha medo da reação dos outros, a de Naruto eu temia com todas as forças. Não admitia, mas eu realmente gostava daquele loiro idiota. Quatro anos, ele deve ter mudado. Quando criança era um garoto animado e burro, simpático com todos e que não desistia nunca. Como será que ele está hoje em dia? Continua o mesmo?

Sei que no início ele me mandava mensagem quase todo dia. Eu não respondia e decidi bloqueá-lo. Passaram alguns meses e o desbloqueei, e para minha decepção, as mensagens pararam. Sim, até Naruto Uzumaki desistiu de mim. A única pessoa que eu mantive contato foi Neji Hyuuga.

Eu e Neji não éramos muito próximos, mas éramos muito parecidos. Sérios, sem expressão e com pose de superior, mas isso por fora. Por dentro, dois garotos carentes que tiveram que crescer cedo demais.

Secretamente, nos aproximamos. Nada demais, colegas de dia e melhores amigos de noite. Passávamos horas e horas na madrugada, desabafando e afogando as mágoas em café e chocolate. E no dia seguinte colocávamos nossa melhor máscara de tédio e a vida seguia.

– Tem café? – perguntei rompendo o silêncio.

O café é um lance da minha família. Quando estamos assustados, irritados, animados, apaixonados, enfim, com os nervos à flor da pele, bebemos café. Puro, quente e sem açúcar. Se um Uchiha pede um café, já se sabe que ele não está bem.

Itachi tirou uma garrafa térmica de sua mochila e me entregou. Dei um grande gole e suspirei baixinho.

– Voltar para Konoha te incomoda? – perguntou meu irmão.

– Tenho medo. Muito medo, na verdade. Medo de me odiarem, medo de não se lembrarem de mim, medo, medo, medo.

– Eles são seus amigos, Sasuke. – disse Shisui tentando me confortar. – Eles vão entender.

Um lance não verbalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora