Capítulo 2
Acordei suada com Stela me abraçando fortemente contra seu peito.
— Calma, filha. Foi só um pesadelo!
— Ãh? Mãe?! — indaguei ainda tonta.
— Sim, meu amor. Você gritou e quase me matou de susto. Há muito tempo você não tinha
pesadelos. — E me encarou por um momento. — Com que você sonhou?
— Não me lembro de nada — respondi cinicamente.
— Melhor assim. — Encheu o peito de ar e tornou a me abraçar.
Passei longe da verdade. Menti porque me lembrava muito bem do meu pesadelo, e me
custava recordar tamanha amargura que fiz Stela passar. Já o tive diversas vezes no passado.
Quando tinha doze anos de idade um acontecimento deixou uma profunda cicatriz em nossa
relação de mãe e filha. Fiz a loucura de acampar escondida com mais duas colegas de turma.
Elas haviam contado para seus pais, mas eu não. Não contei porque já sabia a resposta. Stela
nunca deixaria. E eu queria sair com outras pessoas, eu queria ter amigos! Aproveitamos um
feriado prolongado e acampamos por quatro dias. Quando retornei, minha mãe estava
internada em estado de choque em um hospital local. Como Stela estava frágil! A mulher forte
e determinada que havia dentro dela parecia ter morrido. A febre a consumira, queimando seu
corpo e sua alma sem compaixão. Delirava, pronunciando coisas estranhas, sem sentido. Os
médicos diziam não encontrar a causa. Mas eu sabia qual era o motivo: eu! O remorso foi
impiedoso com minha consciência, massacrando-a. Quando me viu, sua cura foi quase
instantânea, mas sua fisionomia era de tristeza e decepção. Aceitou minhas desculpas, mas
com duas condições: nunca mais viajar sem antes lhe dizer para onde estava indo e sempre
utilizar um determinado cordão, para ela um amuleto da sorte. Segundo Stela, não era uma
joia. Embora fosse feito de fios de ouro trançados, era, no entanto, muito simples e delicado.
Dele se destacava um estranho pingente feito de uma pedra para mim desconhecida. Não
parecia preciosa, mas era realmente diferente. De cor sulferino bem brilhante, exalava um
perfume semelhante ao do sumo do limão. Apesar do aroma ser bastante agradável, sua
presença constante me gerou um pouco de enjoo no início. Mamãe costuma dizer que tenho um
olfato apurado, mas minhas colegas dizem que sou muito fresca. Acho que concordo com elas.
O fato é que desde então uso este cordão e não o retiro para nada. Acho até que algum tipo de
ligação maior entre nós duas foi estabelecida a partir daquele terrível episódio, pois desde
então Stela parece pressentir quando me encontro em alguma situação difícil e sempre surge
do nada para me socorrer. Em pequena eu até que gostava de suas brilhantes exibições, mas,
de uns tempos para cá suas aparições no estilo “mulher-maravilha” vêm me importunando de
uma forma sufocante, efervescendo diversos atritos entre nós duas. Cheguei ao ponto de me
livrar de dois celulares simplesmente para que ela não me fizesse passar por vergonhosassituações. Por diversas vezes sei que fui alvo de gozação entre os meus colegas, o que me
distanciava ainda mais de todos. Há menos de um ano tivemos uma briga feroz. Após
travarmos uma guerra psicológica, finalmente chegamos a um acordo quando, falsamente,
ameacei abandoná-la de vez. Nosso relacionamento melhorou, e muito. Algumas recaídas de
ambas as partes, mas nada que pudesse comprometer o nosso novo elo. Estávamos num
momento particularmente feliz quando passeávamos por aquela maldita praça, portanto, não
contaria sobre o pesadelo. Afinal de contas, para que remexer em coisas ruins do passado?
— Está na hora de levantar, dorminhoca.
— Ah, não! — soltei um muxoxo e afundei a cabeça no travesseiro.
— Em pouco tempo você se acostuma com o fuso horário, meu amor.
— Os fusos horários é que precisam se adaptar à nossa vida de ciganas, mãe — toquei na
tecla que a incomodava.
— Tenho que ir. — Como sempre, ela se esquivou. — Boa sorte no novo colégio.
— Ugh!
Tudo de novo. Novo colégio a ser descartado em breve. Novos colegas cujos rostos
seriam rapidamente esquecidos. Minha mente já havia se acostumado a apagar os primeiros
dias em uma nova turma. Algo perfeitamente normal para quem já havia passado pelo estresse
de trocar de escola mais de dezoito vezes em menos de dez anos.
Rapidamente tomei um banho e me vesti da forma mais discreta possível: calça jeans,
tênis All-star, uma camiseta preta básica. A última coisa que eu queria era chamar a atenção.
Como sempre, discrição era a minha palavra de ordem.
— Por aqui, querida. Minha artrose me mata, sabe? Já estou ficando cansada de mostrar
a escola para tantos alunos novos. Em geral não costumamos admitir alunos novos com o ano
letivo tão adiantado assim, querida. Normas da casa, sabe? É muito complicado coincidir as
matérias e etc., mas não sei o que deu na cabeça do diretor este ano. Assim como você, temos
mais quatro alunos novos começando exatamente nesta semana. Isto é incrível! São todos
casos especiais, assim como o seu, queridinha. — explicava-me a Sra. Nancy, secretária do
colégio. Ela tinha os cabelos grisalhos arrumados num penteado de capacete, era baixa e bem
gordinha.
A escola ficava no Upper East Side e era uma construção muito agradável, toda em
tijolinhos marrom-avermelhados. Tinha cinco andares bem iluminados, assim como salas de
aula claras e espaçosas, dois modernos laboratórios de ciências, um estúdio de artes, um
ginásio bem amplo, além de uma incrível sala de música com paredes à prova de som.
— Ah! Aqui está a sua grade de matérias e horários, querida. Saiba que as classes estão
divididas de acordo com a profissão escolhida por cada estudante, mas algumas matérias são
comuns a todos. Sua mãe inscreveu você em psicologia, querida. Confere?
Eu confirmei com a cabeça. Definitivamente meu cérebro nunca ouviu tantos “querida”
em um intervalo de tempo tão curto. Acho que ela estava tentando me fazer algum tipo de
lavagem cerebral
— Ótimo! — disse checando o rádio. — Bom, querida, o dever me chama. — E deu um
risinho de satisfação. — O restante da escola você vai ter que descobrir por conta própria.
Boa sorte!
Era chegada a hora. Já deveria estar acostumada, mas não estava. A sensação era de que
um ovo inteiro se alojara na boca do meu estômago. De qualquer maneira, usaria a tática de
sempre: chegar cedo, sentar bem lá no fundo da sala e passar despercebida. A esta altura do
período letivo, provavelmente estaria livre de apresentações constrangedoras.
A primeira aula seria de Química II. Dirigi-me para a sala especificada no mapa. Não
gostei do que vi: as últimas carteiras estavam todas ocupadas! Meu plano já estava
começando a falhar. Achei aquilo estranho, mas tudo bem. Os alunos que já haviam chegado
me observavam com olhar de curiosidade e reprovação, deviam achar que eu era uma louca
perdida perambulando pelas salas da escola. Uma garota muito falante sentou-se ao meu lado,
remexia alguns cadernos, fechava os olhos e balbuciava algumas fórmulas, o típico desespero
de quem não está com a matéria devidamente estudada. Demorou algum tempo até que ela
percebesse a minha presença.
— Oi. Meu nome é Melanie, mas pode me chamar de Melly. Você veio fazer esta prova
com a gente? É algum tipo de segunda chamada? — apresentou-se meio espantada com a
situação.
Pronto! O ovo inchou de novo.
— Ah, não! A prova é hoje?
— Sim. Você não sabia? — rebateu ela mais assustada ainda.
— Não. Acabei de chegar. Sou nova no colégio e na cidade — respondi desolada.
— Puxa! — Foi só o que Melly conseguiu pronunciar. — Mas, olhe, ainda tem a
recuperação… se você se esforçar… eu acho que os professores terão que facilitar nas
próximas provas, porque além de ter vários colegas com dificuldade na matéria, outros alunos
acabaram de entrar no colégio, assim como você.
Sua intenção era a de ajudar, mas suas palavras me apunhalaram de maneira abrupta.
Nunca em toda a minha vida eu havia sido reprovada em alguma matéria.— Senhores, atenção! Quero que saiam daí do fundo da sala e se distribuam de forma
equidistante, fileira sim, fileira não, uns atrás dos outros — comandou com autoridade um
senhor moreno que acabara de chegar. Era magro e exibia um cavanhaque e costeletas
esquisitas.
Sem muita pressa a turma se acomodou segundo as orientações dadas. As provas estavam
sendo distribuídas, uma a uma, quando então ele e uma boa parte da turma notaram a minha
presença, para a minha infelicidade.
— Olá! Eu sou o professor Hastings. Pelo visto você é nova na turma também, não é? —
saudou-me com ar amistoso.
Foi ótimo ouvir o também. Saber que não havia sido jogada sozinha na arena com os
leões já era de algum consolo. Só consegui assentir com a cabeça.
— Qual é o seu nome?
— Nina Scott. — Com exceção de alguns alunos que aproveitavam este momento de
distração do professor para conseguir alguma cola, agora eu era o centro das atenções de toda
a turma. Argh!
— Bem-vinda, Nina! Espero que já tenha conhecimento desta matéria. Mas, não se
preocupe, ainda temos a prova de recuperação — concluiu tentando ajudar.
O estrago já estava feito. Que venha a prova!
Para a minha grata surpresa eu já tinha estudado praticamente toda a matéria que estava
sendo cobrada. Terminei o teste relativamente cedo e fiquei enrolando o tempo para disfarçar.
Ao entregar a prova, saí com rapidez da sala e, sem olhar para trás, ouvi alguém me chamar
pelo nome:
— Niiiina, espere! — Era Melly, correndo em minha direção. — Como foi na prova? —
E, antes que eu pudesse tecer um mísero comentário, ela se adiantou em responder: — Estava
muito difícil mesmo!
— Bom — disse eu meio sem graça —, por sorte eu já havia estudado esta matéria.
— Nossa, que sorte a sua! Venha, agora temos aula de História. — E como um guia de
turismo, gesticulou para que eu a seguisse.
Fui acompanhando seus passos. Melanie Baylor era uma garota alegre e falante até
demais. Tinha os cabelos ruivos encaracolados e muitas, mas muitas sardas no rosto e colo, o
que parecia achatar o tamanho do seu pescoço. Ainda não havia concluído se ela era
descolada ou apenas simplória.
Ignorando minha palpável indiferença, Melly me ciceroneava, mostrando-me áreas docolégio que a Sra. Nancy não teve tempo de me apresentar. A única que realmente chamou a
minha atenção foi o refeitório. Assim como toda a escola, era muito claro e acolhedor com
todas as suas janelas abertas, deixando que o sol entrasse, iluminando-o e aquecendo o
ambiente.
— Venha, Nina. Vou apresentar você a outros colegas.
— Desculpe, Melly, mas eu não estou a fim — adverti de forma seca.
— Como não? — Melly parecia confusa.
— Veja, Melly, eu entrei nesta escola na metade do ano letivo — tinha que dar uma
desculpa rápida —, o trabalho de minha mãe nos obriga a mudar muito de cidade, e não sei se
estarei aqui até o final do ano. Aliás, não sei se estarei aqui até o final deste bimestre,
portanto acho desnecessárias todas estas apresentações.
— Ah! — disse ela, surpresa. — Tudo bem! Então vamos!
— Mas você pode ficar com as suas amigas, não tem problema — assinalei.
— Fala sério! Você está vendo alguma amiga por aqui? Popularidade não é o meu forte,
Nina. E, pelo visto, não é o seu também — piscou. — Acho que vamos nos dar bem — e me
lançou um sorriso cúmplice. — Venha, senão vamos nos atrasar para a aula de História. É com
o gato do professor Clooney.
— Olá! Você é a Nina Scott? — senti alguém cutucar meu ombro.
— Ãh? Oi. Como você sabe o meu nome? — perguntei com um fingido ar de curiosidade.
— Bem, é que sem querer ouvi uma conversa da Sra. Nancy — respondeu-me um garoto
sentado na carteira atrás da minha. — Você é realmente uma CDF!
Se havia uma palavra que sempre me deixava aborrecida era esta: “CDF”. Nerd até
podia aceitar, porque eu era mesmo… Só uma nerd para ter quase dezessete anos e não saber
ainda como lidar com uma cantada bobinha de algum garoto da minha idade. Mesmo que eu
deixasse minha timidez e tendência genética para “bicho do mato” de lado, como conseguiria
ser mais descolada e sociável levando a vida que eu era obrigada a ter?
— Exagero da minha mãe. — Minha resposta saiu azeda.
— Êpa, é brincadeira! Não é para você ficar chateada comigo. É um elogio, tá bom? — e
sua face desbotou.
— Tudo bem.
— Meu nome é Phillip. E estes são meus amigos — virou-se para o lado e apontou. —Peter, Frederic e Will.
Animados ois e olás foram emitidos em poucos segundos, o mesmo tempo que gastei para
fazer o check-list dos garotos. Phillip era magro, de estatura mediana, cabelos escuros
enrolados e muito sorridente. Peter era bem pequenino e tímido. Mal conseguiu olhar para
mim. Frederic era gordinho e meio bobalhão. Por fim havia o Will. Ele era moreno claro,
olhos escuros e brilhantes. Parecia o cérebro do grupo. Compenetrado, falava pouco e ouvia
toda a conversa com muita atenção. Gostei dele.
O professor de História entrou bufando pela sala e bateu a porta por trás de si. Parecia
muito mal-humorado e não era um gato como Melly havia descrito. Pelo contrário, tinha uma
enorme cara de buldogue. Já sabia que não poderia confiar muito nos gostos de minha nova
colega. O professor Clooney Stamford, apesar de sua aparência nada simpática, tinha uma
dinâmica incrível e, pelo que se podia notar, era bastante intolerante com qualquer um que
atrapalhasse seu método de ensino. Em outras palavras, ninguém podia abrir o bico.
Ao término da aula o sinal tocou e novamente senti novo cutucar em meu ombro
esquerdo.
— Nina, você vai ficar na nossa turma? — Phillip parecia bem animado. Animado até
demais.
— Acho que sim. Depende do emprego de minha mãe — hesitei. Apesar de acostumada a
ficar só, estava começando a gostar do fato de colegas quererem a minha presença.
— Tomara que sim! — Ele tinha um olhar vibrante. — A gente se vê!
— Ok!
— Parece que o Phillip gostou de você, Nina! — Melly soltou um longo suspiro assim
que ele saiu.
— Não é nada disso!
— Hum… — ela retrucou com um sorrisinho malicioso. Lógico que eu havia percebido o
olhar interessado de Phillip, mas tentei disfarçar. Poderia ser uma excelente aluna, mas no
quesito garotos e flertes meu histórico era uma negação. — Tomara que apareçam mais gatos
por aí… Os garotos daqui são tão pouco interessantes!
— Como assim? Não está todo mundo aí? — rebati. — Pensei que tinha sido a última a
me apresentar.
— Negativo. Dois deles chegaram na segunda-feira, mas ainda faltam outros dois —
completou Melly.
O dia seguinte foi bem mais tranquilo. Minha ansiedade havia desaparecidocompletamente só em saber que eu não seria a única aluna nova. Que coincidência ter mais
quatro alunos novos começando o ano escolar na mesma semana que eu! Ao chegar cedo para
a aula de Matemática II, encontrei Melly conversando com algumas garotas.
— Nina, essas são Susana e Clarice. — Melly assumira um cômico ar formal.
— Olá, tudo bem?
— Oi, Nina. Como consegue estar adiantada se viaja tanto? — perguntou-me a tal
Clarice com um misto de curiosidade e inveja indisfarçável. Era uma garota magra, muito
pálida, de pescoço comprido e cabelos finos e ralos.
Nem vinte e quatro horas se passaram e todo mundo já sabia da minha ridícula vida. Que
grande fofoqueira resolvi ter como amiga!
— Minha mãe me matriculou cedo e, por sorte, sempre consegui acompanhar e…
— Foi o que eu disse para elas! — interrompendo-me, Melly apressou-se em se explicar,
ao ver que eu não havia gostado nadinha da fofoca. — E que você é muito inteligente também!
— terminou quase em um murmúrio ao constatar que meu olhar a fuzilava de maneira
impiedosa.
— Estávamos aqui confabulando se os novos alunos serão bonitos. — Susana mudou de
assunto, comentando com um risinho maroto. Ela era o exato oposto de Clarice: corpulenta,
exibia volumosos cabelos louros sobre um rosto e uma língua igualmente rechonchudos.
— O garoto sardento tem até um bom porte, mas não é interessante…
— Ah! Eu gostei — intrometeu-se Melly, toda animada.
— Já a aluna nova… — ficou evidente que não era a mim que ela se referia — é muito
bonita — concluiu Clarice.
— Bonita é Nina. — Bom, pelo menos não passei despercebida. — A loura é exótica,
ou, no mínimo, oferecida — alfinetou Susana, a líder da dupla.
— Susana — sondei tentando ser simpática —, quem são os alunos novos que chegaram?
— Melly não te mostrou? — Havia reprovação em sua voz.
— Não.
— Bem, é que eles são um pouco estranhos… Tsc! — e estalou a língua com desdém.
— Estranhos?
— É que parece que eles se conhecem, mas que não gostam um do outro. Parece que evitam até mesmo se olhar e, quando isto acontece, eles desviam o rosto um do outro.
Normalmente é o contrário, né? Os alunos novos costumam se unir, como se fosse uma defesa
contra toda a turma nova… sei lá! — Por detrás da malícia, Susana foi muito arguta em sua
observação.
— Mas tem mais — Clarice atropelou a conversa.
— Mais como? — interroguei desconfiada.
— Eles também não são novos como nós, quero dizer, eles parecem ter uns vinte anos de
idade, e não entre dezessete e dezoito como a maior parte da turma.
Concordando com o comentário da colega e elevando com animosidade seu nariz, Susana
me apontou os novos alunos com um revirar de olhos. Parei então para observá-los: a garota
estava sentada mais à frente, era loura, de cabelos curtos, lisos e espetados. Não parecia ser
alta e usava roupas muito justas que acabavam evidenciando um corpo muito bem feito. Já o
garoto não era realmente bonito, mas também não era feio como o haviam tachado. Lotado de
sardas no rosto, que me fizeram lembrar Melly de imediato, ele era ruivo e de porte atlético.
Parecia ser bem reservado, bem na dele. Enquanto eu o observava, tive a impressão de que,
por um breve instante, a garota loura me fuzilou com um olhar furioso.
Intimamente concordei com o que foi bem observado por Susana. Todo novato, por se
sentir um peixe fora d’água, costuma se aproximar de outro aluno novo e, desta forma, ele não
se sente tão deslocado. Disto eu entendia muito bem. Mas, para contradizer as regras, eles
estavam bem distantes entre si.
— E também não são nada sociáveis. Will tentou puxar conversa com eles, mas não deu
em nada. São calados como túmulos! — acrescentou Clarice.
Pelo pouco que pude observar, se houve uma pessoa com uma conversa que parecia ser
interessante até aquele momento, esta pessoa era Will.
— Como se chamam? — continuei o interrogatório.
— O ruivo chama-se John Bentley e a loura Samantha Wonders.
— Os meninos estão em polvorosa! — grunhiu Susana para mim. — Também, com este
tipo de roupa… Está quase tudo de fora! — disse fazendo uma careta e apontando para o
corpete superjusto e decotado que a loura vestia.
— Hum — suspirei, em parte feliz por não ser mais o centro das atenções, e em parte
infeliz, por me achar feia diante daquela garota tão hipnotizante.
O final de semana chegou e com ele um vazio se fez presente dentro de mim. Queria
conhecer pessoas novas e, principalmente, estava desesperada para ter os finais de semana
preenchidos com outras coisas que não apenas ficar em casa estudando ou conversando com Stela. Em outras palavras: queria ter mais liberdade!
Aproveitando-me do fato de que Stela estaria trabalhando naquele sábado, e sem que ela
soubesse, comecei a procurar por empregos de expediente reduzido, de preferência noturno.
Assim eu poderia ir à escola de manhã, fazer meus deveres e estudar à tarde e trabalhar à
noite. Para minha surpresa, consegui de imediato um emprego provisório em uma boutique
bem chique de roupas femininas na quinta avenida.
Como tudo que vem muito fácil…
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Não Pare!
RomanceNina Scott não suportava mais a vida nômade e solitária que sua mãe, Stela, a obrigava a ter. Mudar de cidade ou de país a cada piscar de olhos, conviver com tantas perguntas que a consumiam, assombrada por mistérios de um passado guardado a sete ch...