CONTOS QUE NÃO SE CONTAM

A Criatura

Num povoado no interior da Bahia, na década de 50, fatos sinistros vinham ocorrendo. Dr. Strauss era o único médico no único posto de saúde da região há mais de 20 anos.

A aparente tranquilidade do vilarejo escondia fatos sinistros que se agravavam a cada dia - o desaparecimento de crianças recém-nascidas.

Na região, havia um velho pajé pataxó que foi chamado pelas autoridades para descobrir o que estava acontecendo, já que estas não conseguiam desvendar o mistério.

Naquela noite, o pajé realizou um ritual com sangue e rim de bode. Cortou em pedaços o rim e misturou com o sangue numa cabaça. Entoou uma ladainha e ingeriu o conteúdo da cabaça. Em transe, disse que viu o médico e uma criatura demoníaca.

A visão do pajé chocou a todos. Em assembleia, os moradores do povoado designaram o prefeito e o padre para irem até a casa do médico.

Ao entrarem na fazenda, ouviram um urro medonho. Correram até o galpão. Lá, ouviram o choro de uma criança que logo foi abafado pelo som de uma serra. Correram. Era tarde. Sobre a mesa, havia um pequeno corpo mutilado. Sem esboçar reação, ao lado do corpo, estava o médico. Prenderam-no.

- O que é isto, Dr.?

- A ruína da minha vida.

Então, o médico, sob custódia, levou-os até mata. Lá encontraram uma criatura grotesca acorrentada e rodeada de ossos.

O Dr. então falou:

- Minha esposa foi amaldiçoada por um pajé pataxó, por isso nosso filho nasceu esta besta fera com um grande apetite por carne humana. Ao amamentá-lo, minha esposa foi sua primeira vítima. Não pude matá-lo, então acorrentei-o e passei a alimentá-lo com carne de recém-nascidos. Tentei dar carne animal, mas ele não comia. À medida que crescia, foi sendo necessário mais carne.

Tomado de indignação, o prefeito sacou sua arma e atirou entre os olhos vermelhos da criatura. O médico investiu sobre eles, mas o Padre puxou um facão que levava sob a batina e cortou sua cabeça.

Tudo foi queimado. O velho pajé sumiu. Dr. Strauss foi esquecido, mas o medo ainda povoa a mente de todos.

Conto publicado na Antologia "Escritores Malditos: Melhores Contos e Crônicas"