Capítulo 07: Confusão

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"Não quero ser aquela que vai preencher o silêncio...

O silêncio me assusta porque diz a verdade.

Por favor, não diga que tivemos aquela conversa

Não vou lembrar, poupe as palavras, não vai adiantar..."


Bella

Levei duas horas para encontrar os cinco títulos listados no papel de Jane. As estantes da biblioteca têm cerca de 12 andares de altura, com recantos e buracos suficientes para metade do corpo discente se esconder.

Finalmente encontrei um dos livros enfiado entre o teto e o topo da estante onde deveria estar guardado. Mais um truque de biblioteca: se você não quisesse que alguém retirasse os livros que você precisava, você os escondia. Com frequência eu ficava imaginando quantos volumes tinham se perdido para sempre na confusão das estantes porque algum aluno esquecera quais eram os seus esconderijos, ou nunca se preocupara em desfazer o estrago quando o semestre acabara (está vendo, você acha que estudantes das universidades da Ivy League eram um bando de pessoas honestas e confiáveis, mas não. Nunca pensei que Jane fosse do tipo que teria esse tipo de comportamento).

Dirigi-me para a sala de leitura mais próxima e me instalei em uma das mesas de madeira entalhada que iam de uma ponta à outra. Gigantescas poltronas de couro cor de vinho e lâmpadas de leitura elegantes com cúpulas verdes completavam a decoração, e o sol matutino de sexta-feira brilhava nas janelas com vitrais e destacava os arcos góticos de pedra que se elevavam em uma abóbada acima da minha cabeça. As salas de leitura simplesmente exalavam um ar de ambiente acadêmico de alta classe. Imediatamente comecei a me sentir sonolenta. O que tinha mais a ver com o teor de cafeína de um cappuccino: Uma tragédia grega escrita há mais de dois mil anos ou ensaios empoeirados sobre fraternidades universitárias do século XIX?

Argh. Decidi espantar o tédio trocando de um para o outro regularmente.

Medeia era maquiavélica, mas o volume sobre sociedades não me presenteou com nenhuma informação útil. Sério, eu lá me importo se a Phi Beta Kappa começou na William & Mary? Quero saber o que está acontecendo na Skull & Bones no século XXI.

— Oi, Bella.

Olhei para cima e vi Seth Clearwater de pé ao lado da mesa. Estudante do último ano, Seth e eu não andávamos nos mesmo círculos sociais, mesmo ele sendo colega de quarto de Ben. Ele não estava no meu curso, nunca estivéramos na mesma sala e, até onde eu sabia, não havíamos trocado mais do que três palavras aquela noite no clube.

— Humm, oi.

Tudo bem, quatro palavras.

— E aí? — Seth torceu o pescoço em direção ao meu material de leitura, o qual, felizmente, estava no momento aberto na página em que Medeia assassinava seus filhos. Ele vestia uma camisa polo verde-clara e estava com a bolsa de carteiro atravessada no peito e tocava a alça com os dedos.

— Aula de Tragédias Gregas, não é? De qual você mais gostou?

Prometeu Acorrentado — disse eu.

Ele riu, o que fez com que recebesse olhares feios de pelo menos três outras pessoas na minha mesa. Seth se recompôs então, mas continuou tamborilando na alça da bolsa.

Se você me perguntar, o ritmo, mais do que a conversa sussurrada, era o que fazia sua presença ser um fator de distração. E agora havíamos chegado a duas dúzias de palavras.

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