Cap. 43 - Só quero ir pra longe.

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Pov. Sophie

- Soph, isso não é algo bom para você - Ouvi a voz do meu pai atrás de mim.

Estar em casa sempre é um problema, ter que aturar alguém que deixou de ser meu herói e se tornou só alguém na minha vida, ainda machuca.

- O que faço na minha vida não te diz mais o respeito - Disse colocando qualquer líquido de uma das garrafas a minha frente para logo beber. É cerveja. Mas vai isso mesmo.

- Eu sou o seu pai - Aumentou um pouco o tom de voz, como de costume. Nunca conseguimos uma conversa normal, afinal.

- Até quando? - Permaneci no tom baixo, e o vi começar a respirar mais forte e irritado.

- Você ainda é uma criança, não sabe o quer da vida.

- Você também não, então me deixe fazer minhas escolhas - Olhei nos seus olhos, idênticos aos meus. - E eu sou uma criança? Não é isso que diz quando vem pedir ajuda para mim pagar as aulas de Henry, ou coisa parecida.

- Eu não te criei assim - Ele praticamente gritou, chamando atenção dos outros ao redor.

- O que está acontecendo aqui? - Mamãe se aproximou e eu lhe dei um sorriso de lado.

- Sophie sendo má educada, e me desafiando! Isso é coisa dessas amizades dela - Disse o homem a minha frente.

- Diga a seu marido que não tenho que lhe dar satisfações. Não moro mais com ele, já sou quase de maior e não lhe devo satisfações seja do que quero na faculdade ou com quem saio - Disse entre dentes para o mais velho.

- Claro, com quem saí. Você não era assim antes de fazer amizade com aquelas meninas - Ele disse.

- Elas apenas me fizeram ver que ser quem sou, não é errado - Eu lhe falei para logo virar para minha mãe. - Desculpe por isso. Vou ir embora antes que acabe estragando sua festa - Beijei seus cabelos já com fios brancos e fui andando em direção a saída.

- Volte aqui. Como assim "quem sou", menina? - Meu pai acabou me seguindo.

- Quer mesmo que eu te diga? Quer mesmo ter essa discussão? - Ele concordou irritado. - Vou te resumir. Você vai se irritar, provavelmente me bater, por que você é um escroto que pensa que eu tenho que ser como você quer!

- Fale!

- Eu sou bi! Ou pan, não sei. Tanto faz os rótulos - Dei uma risada forçada. - Sou como as pessoas que você diz odiar. Beijo garotas!

Todas as outras pessoas da família já estavam ali, atraídos como o bando de fofoqueiros que são pelos nossos gritos. Vi o rosto de muitos ficarem surpreso enquanto alguns se dividiam entre "eu já sabia" e "isso é errado".

Vi o homem que chamava de pai ficar vermelho de raiva. Sua mão já estava fechada, como se quisesse socar a cara de alguém ou seria a minha?

Meus tios já estavam por perto.

- Minha filha não é uma dessas abominações! - Ele gritou e se aproximou de mim rápido demais para alguém segurar e me deu um tapa no rosto.

Senti meu rosto arder, e lágrimas de dor começaram a sair. Um gosto de sangue na minha boca, e comprovei que havia cortado quando cuspi no chão e vi vermelho.

- Então não sou sua filha - Eu disse irritada e vendo o quanto o homem que na minha infância era amoroso, na verdade era um monstro.

Peguei a chave da moto que estava sobre a mesa. Ela seria minha dali um ano, mas que se exploda. Ficar aqui eu não fico.

Fui para a garagem, peguei um capacete que estava ali, e já estava subindo na moto e ligando.

- Soph, filha - Ouvi a voz de minha mãe. Ela estava chorando.

- Agora não, mãe - Eu terminei de fechar o capacete. - Tchau.

Acelerei saindo da garagem, pegando caminho para o centro da cidade. Só queria ir para longe. De preferência um lugar onde poderia gastar minhas frustrações.


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