3 - Despertando

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Senti alguma coisa tocar meu rosto e abri meus olhos piscando. Eu tinha dormido e não tinha percebido. Minha cabeça apoiada no meu braço e minha mão ainda segurava a dele.

- Bom dia.

Nossa, essa voz, esse sotaque, eu poderia escutar ele falando por horas.

- Obrigado.

Porra! Esqueci que ele escutava pensamentos.

- Pare com isso. É invasão de privacidade. – Levantei minha cabeça aos poucos e me espreguicei.

- Você é tão linda. – Ele falou erguendo a mão e pegando uma mecha do meu cabelo. – É a mulher mais linda que já vi.

- Você não estava preso em um complexo? Não é bem um elogio.

- Eu não preciso ver todas as mulheres do mundo pra saber que nenhuma delas se compara a você.

Os olhos dele pareciam famintos sobre mim. Minha boca ficou seca da repente e eu passei a língua sobre meus lábios. Eu bonita? Não. Eu era esforçada. Sabia trabalhar com meus ângulos e meus pontos fortes, mas eu não era iludida ao ponto de achar que era bonita, muito menos a mulher mais bonita que alguém já viu. Meus olhos eram muito grandes para meu rosto, meu rosto simples demais, passaria despercebida em uma multidão com certeza.

- Eu acharia você mesmo estando entre uma multidão. – Ele falou argumentando meu pensamento.

- Isso não é uma discussão. E você está ferido, deve ter perdido muito sangue.

Ele pegou minha mão e colocou sobre o peito dele que, para a minha surpresa havia se curado completamente deixando apenas linhas finas de cicatriz. O calor da pele dele sob minha mão, as batidas do coração dele me deixou tonta. Eu olhei ao nosso redor procurando o médico, mas Kawa segurou meu queixo e virou em direção a ele.

- Estamos sozinhos aqui.

- Eu preciso ir no banheiro. – Falei estática contra a mão dele.

Eu fui guiada até o banheiro e tranquei a porta antes de me virar para a pia. Quando me olhei no espelho era como ver o resultado de uma noite no clube. Eu parecia uma daquelas garotas que fazia a caminhada da vergonha depois de ter ido pra cama com o cara da fraternidade. Rimel borrado, cabelo por todos os lados. E ele dizia que eu era a mulher mais linda que ele já viu. Nossa, ele era doido. Insano.

Usando muita água, eu tentei lavar o máximo que consegui o meu rosto. Retirando todos os rastros da maquiagem e com as mãos úmidas eu tentei domar um pouco meu cabelo. Após a maratona eu olhei meu reflexo.

- Adeus bisca de luxo, olá garota normal sem sal.

Não é como se eu me achasse feia. Eu só era sem sal. Tirando a cor dos meus olhos e meu cabelo que deveria ter licença para caibre pesado de tão armado que era, eu não tinha características muito marcantes. Os caras costumavam esquecer meu nome, esquecer que me conheciam, eu era bem esquecível. Aí eu conheci Lilith e ela me ensinou alguns truques. Não que isso tenha mudado minha vida, mas agora eu conseguia não ser tão esquecível. Meu chefe, o pervertido, que o diga. Bastou eu usar maquiagem e um vestido que ele descobriu que eu existia.

Em menos de dois meses fui promovida, ganhei um aumento, mas como adicional também ganhei noites de trabalho extra onde meu maior trabalho era esquivar das mãos dele. Ele nunca tinha sido violento ou ido além do que meu 'não' o fazia parar, mas eu logo teria que tomar coragem e confrontar ele. Estava ficando insuportável. Especialmente por ele achar que me mandar presentes caros era aceitável. Eu devolvia, claro, mas não queria minha carreira construída em avanços sexuais.

Dei uma última olhada no espelho e abri a porta sentindo borboletas no meu estômago. Eu era tão adolescente. Nem parecia que eu tinha vinte e seis anos. Eu era uma adulta, mas minhas mãos suavam.

Quando saí ele estava de pé e de costas pra mim.Nossa, ele era enorme! As costas dele eram uma tela de cinema. As cicatrizes cobriam sua pele e minha mão queria tanto tocar elas. Seguir o desenho até eu decorar ele ao ponto de conseguir ver elas de olhos fechados. Meu Deus,estava quente aqui ou era só eu?

Profundamente SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora