03 ~ Vai correr tudo bem

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03 ~ vai correr tudo bem




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Abro os olhos olhando diretamente para o sol, fecho os olhos por alguns momentos e quando os volto a abrir, olho para os lados com alguma dificuldade devido às dores. Estou a flutuar em águas castanhas, à minha volta consigo ver troncos de árvores a flutuar, ramos, telhas... Tusso fazendo com que alguma água saia pela minha boca. Nado até um tronco e agarro-me a ele.

Estou sozinha, provavelmente sou uma das poucas sobreviventes. Passo as mãos pela minha cara que arde bastante, retiro-as e observo-as vendo sangue, provavelmente a água salgada não ajuda muito.

« Salva-te » Oiço a voz do meu irmão na minha mente. Será esta a última recordação que vou ter dele? Vou sentir saudades do seu toque, dos seus olhos verdes que me transmitiam tanta calma, da sua voz rouca...

Ao pensar nele, dou por mim a chorar descontroladamente.

Oiço um barulho que já não ouvia desde que desmaiei. Olho para a minha direita e observo uma onda não tão grande como a anterior, mas estou fraca, irei conseguir sobreviver a esta onda? Fecho os olhos e mergulho concentrando todas as minhas forças para conseguir sobreviver, pelo meu irmão!

Volto à superfície e consigo ver a onda cada vez mais longe. Não tenho pé, se não conseguir encontrar um local que esteja fora de água, seco, estou sujeita a entrar em hipotermia.

Nado o mais que consigo, tentando ao máximo manter a cabeça fora de água, o que se torna uma tarefa difícil com o passar do tempo.

Sinto algo por baixo dos meus pés, nado um pouco mais, conseguindo agora sentir o solo por baixo dos meus pés, tenho pé de novo.

Suspiro de alívio e caminho para fora de água. Preciso de alimento, sinto-me fraca. Caminho por cima dos destroços, tentando forçosamente encontrar algo que tenha sobrevivido ao tsunami. Os estragos foram muitos, nem um edifício sobreviveu à força da água, para onde quer que olhe, apenas vejo lama, árvores caídas e tijolos. Mas até onde a água chegou?

- Ajudem! - Oiço um grito masculino. Devo ajudar? Ou devo seguir a minha procura de alimento? Ele pode estar magoado, ou numa situação pior...

- Onde estás? - Grito o mais alto que consigo, mas sinto uma picada no peito. Suspiro e começo a andar, ou a coxear, em direção à voz. Eu tenho de o ajudar, é uma vida, é impossível de ignorar.

- Ajuda-me, por favor!- Oiço-o novamente gritar, corro em direção à sua voz, mordendo o lábio na esperança de ignorar as dores que estão a surgir por todo o meu corpo - suplico-te! - Oiço novamente, vejo um braço abanar no meio de um monte de destroços. Corro e começo a empurrar tudo o que está em cima dele.

-Consegues levantar-te? - Pergunto passando a mão pelos seus cabelos negros húmidos, desviando-os da grande ferida que tem na testa.

- Posso tentar... - O seu tronco levanta-se bastante devagar, ficando da minha altura. Rasgo uma tira da minha camisa e limpo-lhe o sangue da cara, posso não o conhecer, mas há algo nele que me lembra o meu irmão. Isso faz preocupar-me com ele. Talvez é o facto de parecerem ter a mesma idade, quer dizer, eu tenho a mesma idade que ele tem, somos gémeos, apenas nasci uns segundos antes de Harry.

- Ei, está tudo bem? - O rapaz acorda-me dos meus pensamentos. Tenho vontade de dizer que não, não está tudo bem, que perdi o meu irmão gémeo. Mas apenas desato a chorar abraçando-o. Não sou de ferro e não sei se vou sair daqui viva, pode levar dias, semanas até nos encontrarem- Queres falar? Chamo-me Zayn - Largo-o e limpo as minhas lágrimas.

- Kaylee - Digo forçando um sorriso. Precisamos de um local seco para dormir, daqui a nada escurece - Anda, vamos ver se há um sitio seco onde possamos dormir...

Começo a caminhar com Zayn a meu lado. Após umas horas de caminho encontramos uma árvore que parece ideal para passar a noite, visto que está a escurecer e pode vir outra onda.

- Vamos subir? - Pergunta Zayn com um sorriso forçado.

- Vai tu primeiro, eu ajudo-te - Digo com o sorriso mais sincero que consigo, ele acena com a cabeça e começa a subir a árvore, com a minha ajuda. Reparo numa ferida na sua perna que vai até ao osso, desvio o olhar da ferida e suspiro. Depois de o pôr lá em cima subo eu.

Observo-o durante uma pequena fração de tempo e olho para a sua perna, ele está de calções, o que me permite observar melhor a ferida que tem na canela. « Não toques, por favor » sussurra ele num tom aflito.

Solto um pequeno riso e agarro na tira de tecido que tinha rasgado da minha camisa para lhe limpar a testa, neste momento, é o melhor que se pode arranjar. Prendo-lhe o tecido à perna e observo o sol a dar lugar à lua e as nuvens às estrelas.

Este era o primeiro dia de férias que iria passar com o meu irmão. Que ironia do destino! Poucos minutos antes de surgir a primeira onda estava eu a ler um livro sobre uma catástrofe natural parecida, em que quem contava a história era um sobrevivente.

- Tinhas alguém cá? - Pergunto ainda a ajeitar o nó da liga improvisada na sua perna.

- Sim, o meu pai, mas ele prometeu-me que se encontrava comigo no hospital - Diz ele com um grande sorriso nos lábios.

- Como podes ser tão inocente? Não percebes que nem ele nem o meu irmão como a maior parte das pessoas que cá estavam sobreviveram? - Falo agressiva, a raiva consumiu-me. Talvez deveria de ter morrido com o meu irmão!

- A esperança é a última a morrer, nunca ouvis-te dizer? Devias de acreditar que o teu irmão está vivo, Kaylee! É a única coisa que me mantém preso a esta vida é a porra da esperança! Eu sei que o meu pai possivelmente está morto, mas não achas que seria melhor acreditar que não? - Grita ele com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara,sei que fui bruta, mas estava irritada. Abraço-o e sussurro-lhe um « desculpa ». Encosto-me ao seu peito e acabo por adormecer assim.

The Impossible // zayn malikOnde histórias criam vida. Descubra agora