ANTRAKO O SENHOR DO TEMPO O MESTRE DO DESTINO

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O menino chegou em casa apavorado, entrou porta á dentro em busca do Diário que havia escondido sob o colchão, pegou o lápis na mesinha de cabeceira, e ansioso, tomou o Diário em suas mãos, mas ele precisava se acalmar e pensar dez vezes antes de escrever alguma nova bobagem, desta vez tudo teria de ser perfeito e escrito de uma forma que consertasse os problemas que havia causado, ele tinha que pensar, tinha de ser inteligente e cauteloso, tinha que trazer sua mãe de volta, e tirar seu pai daquela enrascada.

Vladmir sentou-se confortavelmente na cama, respirou fundo, relaxou, e colocou as ideias pra funcionar, mas de repente algo roubou sua atenção, vinha flutuando na direção dele, um objeto pequeno e incomum, e conduzia-se, lentamente, para cada vez mais perto, algo que se parecia com um pendente preso a um cordão, aquele objeto foi se aproximando até ficar ao seu alcance, na altura dos olhos. A reação do menino foi a de tomá-lo, vendo que se tratava mesmo de algo para se colocar no pescoço, o fez sem mensurar, mesmo estando pasmo com aquele evento sobrenatural. Ao colocar o pendente no pescoço ouviu-se um som de liras angelicais, ou notas derramadas de uma harpa divina, ou coisa assim, e de trás de um móvel do quarto surgiu um rosto peculiar, como que se o tal indivíduo desconexo, reclinasse o tronco para frente, dando-se a perceber, em alegres apresentações:

— Olá... — Disse-lhe a figura, sorrindo para ele.

Vladmir encolheu-se rapidamente num canto, assustado pela abordagem repentina.

Quem é você? — Perguntou-lhe, com a voz ainda embargada pelo susto, e com os olhos esbugalhados de quem vê o inusitado.

— Eu sou Antrako, o Senhor do Tempo, o Mestre do Destino! — Disse-lhe o estranho, rodopiando pelo quarto como um pé de vento.

Quatro ou cinco rodopios em torno do seu próprio eixo, enquanto duas ou três meias voltas ao redor da cama, para só então, posicionando-se á sua frente, reclinar-se novamente, e tirando o seu chapéu, acenar-lhe em cumprimento.

— Eu não sabia que o destino era um palhaço, e nem que o tempo se vestia como um pinguim. — Ironizou o menino, por causa da sua aparência.

— Oras não me ofenda! — Reclamou o rodopiante. — Eu não sou um palhaço, e pra a sua informação, isto é um fraque da mais alta costura cósmica. É uma questão de estilo meu rapaz! E a minha palidez deve-se ao fato de que eu não sou deste mundo de pessoas róseas ou tostadas, assim como você. Minha pele é feita com a textura e o tom do leite das cabras dos Alpes suíços, mas é claro, você não entenderia, nunca esteve nos Alpes suíços. Nem sequer saiu ainda deste buraco, a que chamam de cidade. _ Mas vamos adiante. — Meu visual foi algo escolhido pelo meu bom gosto e significa simbolismo: As roupas representam os mágicos, afinal, é isso que eu sou, o mágico do tempo e do destino..., a..., e essa alusão ao que você chama de palhaço, denota a ideia da graça e da alegria de viver, que deveria ter a existência de cada ser humano, enfim...

— Ta certo, eu já entendi, você não é um palhaço pinguim, é o tempo e o destino de fraque estiloso. Mas o que quer comigo? O que ta fazendo aqui?

— O que eu estou fazendo aqui? Há, há, há..., você é mesmo um boçal! Bem que haviam me alertado de que eu lidaria com um sonso. O que você pensou? Achou que poderia manipular o destino sem que isso tivesse nenhuma conseqüência?Achou que poderia enganar o tempo se tornando imortal sem que, absolutamente nada, lhe acontecesse? A sim, você é um boçal! Por isso aquele maléfico safado te escolheu, agora eu entendi tudo. Só que não criança! Não se pode bulir nas leis naturais do universo sem que isso acarrete conseqüências devastadoras. Porque você acha que ninguém tinha feito isto antes? Acha que Deus ou o Diabo já não teriam lançado mão deste artifício, se assim o pudessem? E se nem mesmo eles o fizeram, o que te levou a pensar que aceitar aquela maldita oferta do felino esquisitão seria uma boa? A..., cada vez mais me convenço de que você é mesmo, sem sombra de dúvidas...

— Já sei: Um boçal! — Completou Vladmir.

— Exatamente. Um grandessíssimo boçal! Agora aqui estou eu, neste calor incomensurável, sendo picado por todo tipo de inseto peçonhento e desagradável, para tentar por um pouco de juízo nesta sua cabecinha de vento. Além do mais..., oras bolas..., como você pode aceitar a oferta sem nem ao menos pedir orientações? Não se compra um objeto que não se sabe como usar, sem que venha junto com ele um manual de instruções. Sua mãe não lhe ensinou isso não?

— Não deu tempo, ele se despediu muito rápido e eu estava impressionado de mais pra pensar em fazer perguntas. — Justificou-se Vladmir.

— Não importa! O fato é que você não deveria nem mesmo ter aceitado, só que, como aceitou, poderia pelo menos perguntar a ele o que podia e o que não podia fazer. Quando dei a legião de Lúcius o objeto sagrado, fizemos um acordo, e ele me prometeu que não escolheria ninguém que não fosse capaz de seguir a risca todas as condições que eu havia lhe imposto. Controlar seu próprio destino? Ok! Mais alterar o tempo e o destino dos outros? Foi de mais meu rapazinho! Você passou de todos os limites! Agora terá de arcar com as conseqüências.

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