Capítulo 3

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- Amiga, seja qual for o resultado, eu vou estar aqui.
- Eu não sei se consigo abrir. Alicia, toma, – ela colocou o envelope na mão da amiga – abre você.
- Posso abrir?
Sophia fechou os olhos e falou:
- Pode.
E como Alicia não era de muitos rodeios, e assim como Sophia estava morrendo com a possibilidade, foi logo rasgando o envelope e correndo os olhos pelas letras atrás do resultado, e lá estava ele, em letras garrafais: POSITIVO.
Ela colocou o melhor sorriso e procurou a melhor forma de dizer.
- Abre os olhos, Sophia.
A garota abriu.
" Melhor eu contar com humor " Alicia pensou.
- Fica calma – riu. – Agora tem ser good vibe pra não perder o bebê.
- Você...
- Sim, eu estou falando sério.
- A mãe dele pede pra eu não atrapalhar os planos do garoto, e o que eu faço? Engravido dele, e o melhor, na casa dela.
- Não fala assim, Sophia – Alicia repreendeu. – Vocês dois fizeram, não se engravida só.
- Faço o que agora?
- Agora você vai a casa dele, que já é quase sua casa, e conta pra ele. Ele vai entender.
- E se não entender? – Sophia perguntou com os olhos cheios de lágrimas.
- Ele vai entender, ele te ama.
- Ele nunca disse isso.
- Você também não disse isso a ele, mas nós duas sabemos que você o ama. Nunca foi necessário um dos dois falarem, basta tá perto pra perceber. Vocês se amam.
Dito isso, as duas se abraçaram e Sophia resolveu que o melhor a se fazer era confiar na amiga.

- Lucas, hoje eu vi uma menina na rua chorando porque tava grávida – e essa menina era eu, ela pensou em acrescentar.
- Por que ela tava chorando?
- Por que ela não sabia se o pai da criança iria gostar de saber da notícia.
- Ela era nova?
- Relativamente, devia ter a minha idade.
- Então ela era nova. – Ele disse, rindo, mas ela não riu. Ficou olhando pra o prato enquanto ele cozinhava.
- Deve ser difícil pra ela, não é mesmo?
- Deve. Pra os dois, na verdade. Imagina, ele tá na casa dele de boa, e ela chega com essa bomba.
- Também não precisa chamar de bomba, né? É um bebê!
- Eu sei, moça. É só que deve ser barra pra os dois. Mas não esquenta com isso, graças a Deus não estamos nessa situação.
Foi o que bastou pra Sophia começar a chorar.
- Sophia? O que você tem?
Ela só chorava.
- Sophia, você tá me assustando! – exclamou arrumando os óculos. – Sophia? – ele balançou a menina.
- Lucas, desculpa. Eu juro que... – voltou a chorar.
- Desculpas pelo quê?
- Nós dois vacilamos, no outro dia, eu...
- Vacilamos onde? O que foi, Sophia?
- Você vai me odiar. Vou entender se você surtar.
- Você só está me deixando mais assustado.
Como Sophia viu que não iria conseguir falar, pegou a mão de Lucas e colocou sobre sua barriga, ele a olhou assustado.
- Você... – ele não terminou, apenas arrumou os óculos e a encarou.
Sophia apenas balançou a cabeça em um sim. Lucas se afastou um pouco, ainda perplexo, e massageou as têmporas.
Sophia tentou se controlar e limpou as lágrimas, depois encarou Lucas, que olhava pra o chão. Ela deu alguns minutos a ele, mas o tempo passava e ele continuava calado.
- Moço.
Ele continuou olhando pra o chão.
- Lucas, fala alguma coisa. – Ela pediu com lágrimas escorrendo dos olhos.
- Meu Deus, eu vou... Nunca tinha planejado isso.
E aí as palavras da mãe de Lucas vieram à mente de Sophia, e ela entendeu. Ele não queria a criança.
- Eu, tanto quanto você, não planejei isso, Lucas. Não precisa me dizer o quanto isso vai ferrar com tudo e jogar na minha cara o que vai acontecer com seus planos. – Ela soluçava.
O desespero nas palavras de Sophia fez Lucas a encarar.
- Eu só achei... – ela fez uma pausa quando percebeu o olhar dele sobre ela – Não será a maior surpresa do mundo se você me mandar sair da sua casa e da sua vida.
- Sophia, você tá louca? – ele indagou um pouco ofendido.
- Eu só...
- Eu não vou te mandar sair de lugar nenhum. Sim, eu estou chocado, amedrontado, ou melhor, em pânico com a notícia. Mas você não vai a lugar algum.
- Você ficou aí calado...
- Eu já te disse e repito, você vai estar onde eu estiver.
Ela chorava e ele a abraçou, desesperado demais para conseguir fazer outra coisa.
- Você sempre disse que não pensava em ser pai.
- Mas eu penso em você, eu amo você e amarei essa criança.
- Você... – ela sorriu boba.
- Sim, eu te amo.
- Eu também amo você.
- Acho que ainda podemos fazer amor, não podemos? – ele perguntou com aquele jeito bobo de sempre e arrumando os óculos.
- Sim – ela riu.
E assim confessaram o que faziam e sentiam um ao outro.

- Acorda, Sophia – Lucas a chacoalhava de leve.
- O que você quer tão cedo, Lucas?
- Você tem consulta.
- Hãm? Que consulta? Eu não tenho nada. – A menina resmungou e colocou o travesseiro no rosto.
- Eu marquei.
- Marcou pra quando? – ela novamente resmungou sem paciência.
- Pra daqui a duas horas. Levanta!
Como ela viu que ele não a deixaria em paz, sentou na cama.
- E eu posso saber que consulta é essa?
- Com a obstetra, o que mais seria?
- E o que eu tenho pra ir pra ela um dia depois de ter descoberto que estou grávida? Porque deve ser algo grave, pra me tirar da cama uma hora dessa. – E se jogou na cama.
- Sophia, não faz graça com essas coisas. Quer motivo maior pra ir à obstetra do que estar grávida? Você tem que se tratar agora!
- Me tratar? Amor, – ele sorriu bobo quando a ouviu falar essa palavra – eu estou grávida, não doente.
- Mas no fim não é quase a mesma coisa? Você vai enjoar, vomitar, inchar, ficar temperamental e ter desejos esquisitos, não dá no mesmo?
Sophia gargalhou e lhe deu um selinho.
- Meu Deus, prevejo que você vai pirar.
- Você vai à consulta, não vai? – perguntou, arrumando os óculos.
- Tenho escolha? – riu.
- Não!
- Então vou, mas relaxa, não vou enjoar nem nada disso.

- Sophia, você não come peixe. Por que raios você quer comer comida chinesa à uma hora dessas? – Lucas indagava pelo celular.
Era uma da manhã e Sophia resolveu lhe ligar pedindo comida chinesa e, pra ser mais irritante e estressante, ela nunca gostou de peixe. Tinha como a entender?
- Não é tão tarde assim, Lucas. E não interessa se eu não como peixe, eu quero comer hoje.
- Por que você não tenta dormir? Tenho certeza que a vontade passa – ele tentou.
- Você quer que nosso filho...
- Filha – ele disse.
- Ainda não sabemos, mas você quer que nosso bebê nasça com cara de peixe?
- Claro que não!
- Então eu sugiro que você me traga o que estou pedindo.
- É uma da manhã.
- Justamente! – ela exclamou – É uma da manhã e eu estou aqui, grávida e querendo comer, mas o pai da criança, que diz ser meu namorado e me amar, não quer me trazer comida.
E o pior aconteceu, ele percebeu que ela estava fungando. Ah não! Ela iria chorar.
"Meu Deus, depois desses noves meses eu vou estar louco. " Lucas pensou.
- Tudo bem, Sophia, eu vou conseguir comida chinesa pra você.
- E lembre-se, é chinesa, não japonesa.
Ela fungou, mas ele sabia que ela estava com um sorriso no rosto.

- Tá aqui, Sophia, sua comida chinesa. – Lucas jogou tudo em cima da mesa e foi se jogar no sofá. Não foi fácil encontrar algum lugar aberto à uma da manhã.
Sophia agarrou a comida e começou a comer de uma maneira que, se ele não a amasse tanto, correria de lá. Mas bastaram dois minutos pra ela deixa a comida de lado.
- Você não vai mais comer? – ele perguntou, indignado.
- Você sabe, não gosto de peixe – ela disse simplesmente.
- Mas você me assegurou que comeria.
- E eu comi, mas você demorou muito, daí só deu vontade de comer isso.
Lucas inspirou e expirou umas três ou quarto vezes.
- Eu juro que...
Mas quando ele virou pra ela, viu que a mesma não estava mais lá, tinha corrido pra o banheiro.
- Sophia? Você tá bem? – perguntou arrumando os óculos e indo em direção ao banheiro.
- Sai daqui! Não quero que me veja... – e vomitou.
- Mas...
Antes que ele chegasse perto, a menina fechou a porta.
- Me espere aí fora. Não entre.
Lucas esperou alguns minutos até que Sophia saiu de lá de rosto lavado e dentes escovados.
- Você tem que ir ao médico.
- Não é a primeira vez que vomito, Lucas.
- Justamente.
- Isso é normal – ela riu.
- Essas suas loucuras vai durar os nove meses? Eu estou pirando com suas ligações no meio da madrugada pra me dizer que quer comer tal coisa, pra chorar e pra conversar porque está se sentindo só.
- Dizem que depois para.
Disse e foi pra sala com cara triste.
- O que você tem, moça?

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