Capítulo 4

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As primeiras semanas na França estavam longe de ser como Lucas tinha imaginado tempos atrás. Ele não se sentia feliz, realizado e muito menos orgulhoso. Só duas pessoas viam à sua mente: Sophia e seu filho.
Ele sabia que o certo era ficar ali, afinal ele sempre arquitetou isso, mas às vezes se via tentado a largar tudo e voltar. Ainda mais com Sophia não atendendo nenhuma ligação sua e tendo o bloqueado em todas as redes sociais. Se não fosse Matt, ele não saberia de nada. Seu amigo era quem sempre lhe mandava fotos dela e por Deus, ela estava linda. Era Matt quem lhe acalmava e dizia que o bebê estava bem. E ele tava feliz por ter a chance de saber qual seria o sexo do bebê, já que Matt disse que não faltaria a uma consulta.
- Lucas – Mandy, uma mulher linda de cabelos curtos e morenos o chamou. – Você está atrasado, vamos. – e lhe puxou pelo braço.
Mandy era a única pessoa que ele conseguia conversar ali, era a única que aceitava passar a noite conversando com ele em vez de aproveitar o tempo de folga.
- Por que tá com essa cara? Pensando na Sophia novamente?
- Em tudo – ele bufou.
- Daqui a umas semanas passa.

***



- Hoje vamos saber se é sobrinho ou sobrinha. Hoje a gente consegue. – Alicia falou, levantando as mãos.
- Doutora, eu não quero saber o sexo do bebê. – Sophia disse.
- Você não quer saber? Tem certeza, minha filha? Vai ser bom.
- Não quero. E não mostre a nenhum de nós. Por favor.
- Sophia – Matt tentou.
Lucas queria muito saber o sexo do bebê e o rapaz sabia disto.
- Eu não quero, não insistam.
E ele sabia o que ela queria dizer com aquele olhar. Ela sabia que ele ligaria e contaria a Lucas, e como ela mesma disse: eu não vou deixá-lo saber nada do meu filho.

- E aí? – Lucas falou empolgado do outro lado da tela. – É menina?
- Eu não sei.
- Você não disse que a consulta era hoje? – Matt balançou a cabeça, afirmando. - Você não foi?
- Fui. Mas a Sophia pediu pra não saber e proibiu a doutora de nos mostrar. Ela sabia que eu iria te contar.
- Ela não pode fazer isso! – Nesse momento, Mandy chegou perto dele.
- Na verdade, pode, cara. Ela é a mãe e tá se virando sozinha.
- Mas eu sempre te mando comprar coisas pra o bebê.
- O que foi? – Mandy perguntou assim que percebeu como Lucas estava.
Ele apenas arrumou os óculos e fez um sinal para que ela o deixasse sozinho e voltou a sua atenção para a tela.
- Comprar coisa é o de menos, Lucas. Eu iria ajudá-la nisso com ou sem seu dinheiro.
- Nem você me entende. – bufou.
- Eu entendo, mas eu também a entendo. Você escolheu tá aí, e admiro sua coragem. Mas você sabia que seria assim, na verdade, pior.
Lucas fez menção de falar, mas Matt continuou.
- Você foi corajoso em seguir em frente, arque com as consequências da sua escolha. Vou continuar te contando tudo que sei, mas não posso obrigá-la a nada. Então, você não saberá do sexo.
- Tudo bem, vou sair. Obrigado.
Assim que ele desligou, Mandy se aproximou.
- Problemas com a ex?
- Eu já disse que não a tenho como ex. – Ele a repreendeu.
- Lucas, você tá na França. Você não disse que sempre sonhou com isso? Aproveita.
- Não dá, eu sou um pai que não pode nem saber o sexo do filho.
- Só por enquanto, – ela começou a fazer uma massagem nele – esquece isso tudo.
Mandy saiu de trás dele e foi pra sua frente, sentando no seu colo.
- Eu posso te ajudar a esquecer – abriu os botões da própria roupa até embaixo dos seios, pegou a mão dele e colocou na parte descoberta. – Só por hoje.
E o beijou. Esse beijo foi concedido. E Lucas, que estava irritado com Sophia, pensou: Só por hoje.

(Play na música 2)
- Sophia, você tá bem? – Alicia chegou com uma xícara de café perto da cama da amiga.
- Eu não queria e nem quero que ele saiba o sexo.
Alicia não precisou perguntar do que ela estava falando, sabia do que se tratava.
- Matt contaria a ele – a menina completou o pensamento da amiga.
- Isso. – Concordou. - É só a gente comprar coisa unisex.
- Claro, já vi muitos casais fazerem isso, a gente consegue. E o bebê ainda assim vai ter o quarto mais lindo de todos.
- Vai sim – riu. – Alicia, será que você pode me deixar sozinha um pouco? – perguntou e viu a amiga torcer a boca. – Eu estou bem, só preciso de um tempo pra mim. Por favor.
- Tudo bem – bufou. – Qualquer coisa chama.
- Obrigada – acariciou a mão da amiga.
Sozinha, Sophia deitou na cama e começou a lembrar de momentos com Lucas. Como a primeira vez deles. Tinha sido tão linda, tão boa.
Ou como eles ficaram sem jeito no outro dia. Lucas arrumou os óculos umas seiscentas vezes.
Ela riu com essa lembrança.
A primeira consulta dela, que ele marcou um dia após descobrir. Lembrava até do diálogo dos dois.
- Sophia, conte tudo pra médica. Não esqueça de nenhum detalhe. – Lucas não parava de falar desde que saiu de casa.
- Você quer que eu conte como fizemos esse bebê também? Como foi nossa noite?
Ele a encarou, incrédulo. Ela bem que seria capaz disso.
- Eu sei o que falar pra médica. Então fica calado e não se meta na nossa conversa lá dentro.

Depois lembrou-se do dia que ela teve o sangramento. Lucas praticamente pirou.
- Lucas, eu vou ficar bem. Fica calmo.
- Sophia, promete?
- Claro. Já viu vazo ruim se quebrar? Esse bebê é tão ruim quanto eu. – Disse, rindo pra tentar acalmá-lo, mesmo que ela também estivesse bastante assustada.
- Você e suas piadas – ele falou, como se ela não tivesse jeito.
- Essa criança é a junção de nós dois, acho que já deveríamos esperar que ela aprontasse algo. Não tinha como ela ser normal.
- Eu te amo, Sophia. Eu amo vocês dois.

Ao lembrar-se disso, Sophia chorou. Era tão dolorido lembrar-se de como tudo parecia perfeito.
- Tá aqui seu biscoito. Promete que não vai vomitar?
- Vou tentar – ela disse, rindo. – Agora passa esse biscoito pra cá.
E minutos depois de comer, ela estava vomitando.

Ela riu e chorou, ao mesmo tempo.
- Sophia, será que ela me escuta?
- Ele – deu ênfase a palavra – escuta sim. É o que dizem.
Lucas assentiu e começou a acariciar a barriga da garota e falou:
- Aê, filha...
- Filho!
- Aê, bebê – ele mostrou a língua pra Sophia. – Você sabia que sua mãe tá cada dia mais linda depois que você surgiu? Ela só não fica tão linda quando vomita e esse é um dos assuntos que eu queria conversar contigo – Sophia escutava com lágrimas nos olhos. – Será que você poderia pedir menos coisas? E tipo, já que você quer comer tal coisa, engole tudo, não deixa sua mãe colocar pra fora, ela me evita quando isso acontece. E eu amo demais sua mãe pra ficar longe dela, e amo você também.

E ali, imersas nas lembranças, lágrimas, dor e saudade, Sophia dormiu.

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