História Heroin, or nearly so

Miami

O sol já havia aparecido, mas não ajudou muito a esquentar a manhã fria daquele dia. Levantei e vesti uma roupa qualquer que ajudasse amenizar o frio. Parei novamente em frente ao espelho, várias perguntas ainda me perturbavam.

Em um primeiro momento achei insano o que estava realmente pensando, mas depois de quase sete horas de viagem não tinha como voltar sem ter feito nada. Miami é uma daquelas cidades que verão ou inverno era sempre quente, não me arrependo de ter vindo com roupas mais "leves", somente a jaqueta era algo diferente para aquela cidade.

Decidi que começaria pelo pronto socorro de onde lembro ter "vindo". Ao chegar na recepção encontro uma mulher de vinte e poucos anos, loira e a todo tempo estava pendurada ao telefone do hospital que não parava nenhum instante. Esperei uns quinze minutos e nada. Ninguém ao menos percebia que eu queria algo, mas quando decidir ir embora um médico, que aparentava está na casa dos cinquenta anos e acabara de dar uma notícia muito ruim à família que o aguardava, olhou em minha direção e reagiu como se aquilo fosse uma grande surpresa.

---Lauren... – caminhou até mim ---Lauren Jauregui!

O olhei meio desconfiada, não me recordo de seu rosto, não era um dos médicos que cuidaram de mim há alguns anos, era novo demais para isso. Mas respondi com toda educação, talvez ele soubesse de alguma coisa.

---Sou Dr. Christian Friedrich. O que faz por aqui, querida? – perguntou curioso ---Soube que está vivendo em Los Angeles, uma heroína na verdade!

---Sim, sim. Moro em Los Angeles, e não chego a tanto, mas tento ajudar as pessoas – respondo meio sem graça, ainda era estranho quando dizem essa palavra em voz alta. ---Então, procuro por respostas sobre meu passado sabe. Pensei que pudessem me ajudar de alguma forma.

---Ah, entendo – ele disse mas já com um tom desanimado, era de se imaginar. ---Mas temo que não encontrará muito por aqui. Eu mesmo fiquei anos pesquisando sobre seu caso, procurei em todos os locais algo que pudesse explicar, bem, você. Mas nada. Aqui no hospital sua fixa apenas consta que te socorremos na rua Flagler, porém veio sozinha e não recebeu visitas, depois você simplesmente havia sumido, presumo que partiu para Los Angeles na mesma noite.

Contou tudo de uma vez. Ainda que decepcionada, pedi desculpa por tomar seu tempo, muito necessário, e o agradeci pelas informações.

Então era isso, não havia nada mesmo. Como um borrão passado por cima de toda minha vida. Caminhei até a praia, e como sempre estava cheia. Surfistas aproveitando as ondas, mulheres espalhadas por toda areia em suas cadeiras tomando sol, crianças procurando conchas ou apenas construindo um castelo de areia. Era tudo maravilhoso aqui.

Sentei em uma das lanchonetes próximas e pedi uma água de coco, acho que cairia muito bem.

---Lauren Jauregui em minha lanchonete?! Mas que grande honra – ouvi a garçonete que me atendia. Uma morena de cabelos cacheados, um corpo moldado e cor pintada pelo sol de Miami. Impecável. ---Sou Candace, muito prazer.

---O prazer é todo meu, Candace. – apertei sua mão mas a todo tempo a olhando de um jeito galanteador. Não sou nenhuma santa, não é mesmo?!

Ela me serviu a água de coco e como não havia mais clientes continuou ali comigo.

---E ai, o que faz tão longe de sua cidade?

---Bem, na verdade sou daqui mesmo e vim fazer uma vista, estava com saudade do clima, das praias, das mulheres... – disse a fitando, ao mesmo tempo que balancei a sobrancelhas para descontrair, o que lhe arrancou uma gargalhada e me fez sorrir com minha idiotice. ---Também queria saber algumas coisas sobre meu passado, mas ao que parece era um zé ninguém antes do acidente.