---Lauren, Lauren!
Ouço o meu nome sendo chamado, parecia distante, mas quando retomei a consciência por inteira percebo que era Max praticamente em cima de mim, impaciente e até mesmo apavorado. O ouço chamar mais algumas vezes.
---Hey, hey! – falo de um jeito que deu a entender que estava tudo certo
Ele deu um suspiro aliviado, sendo seguido de Joseph que estavam logo atrás junto a dois funcionários do parque.
---A brincadeira acabou, mas você não apareceu, esperamos e esperamos até que anoiteceu e nada. – disse meio cansado e completou com um tom de desapontamento. --Procuramos você por toda parte. Tinha que resolver dormir logo no meio?
Estava tudo muito confuso, não sei o que havia acontecido comigo, em um estante estava bem, no outro... Camila!
---Onde está Camila? – perguntei impaciente
---Ela está sendo acompanhada por alguns funcionários, teve uma queda de pressão depois do seu sumiço. Mas está tudo bem.
A última coisa que lembro foi a afastar do perigo para logo em seguida vê-la desesperada com minha situação ensanguentada. E de fato era algo para se preocupar, havia muito sangue e uma ferida enorme, mas quando olhei ao redor não vi manchas ou poça de sangue, nem mesmo eu estava com qualquer evidência de sangue. Mas a dor parecia tão real, quanto o sonho.
Saber que tudo estava bem com ela era o necessário, ainda sim queria vê-la para ter a certeza. Me levantei do chão e fomos até uma área onde ela estava sentada com um copo de água em mãos, com um semblante preocupado, mas nenhuma feriada, sangue, sequer um arranhão.
Assim que nos aproximamos o semblante preocupado desapareceu, quase surgiu uma expressão de alívio. Quase. Ao me examinar e ver que tudo está aparentemente normal, fez uma cara emburrada e deu início às reclamações e lições de "nunca desapareça e depois de horas volte normalmente". Bem, minha vontade era de explodir e rebater, mas me contive porque por um lado ela estava me enchendo a paciência, por outro isso significava que ela se importava comigo.
Sempre procurei por isso. Alguém que se importasse. Não era apenas algo do tipo gostar de uma pessoa, ou dizer eu te amo a alguém muito especial, está mais para algo que quer dizer "hey idiota, você é uma parte importante em minha vida". Não que Camila sentisse assim em relação a mim, mas já era um começo, certo?
Estava uma noite fria, vez ou outra alguma corrente de vento penetrava nossas roupas, eriçando cada pêlo do corpo. Sendo assim Joseph se apressou a chamar um táxi e logo estávamos em sua casa. Assim que entramos, Max recebeu a ordem de ir tomar um banho super necessário, o garoto pulou e brincou o dia inteiro. Camila foi preparar algo para ele comer quando voltasse.
Enquanto isso, acompanhei Joseph até a sala. Claro que iria querer saber sobre o ocorrido de hoje, mas não sabia se contaria o que vi ou sonhei, ainda não tinha entendido o que foi aquilo. Mais alguns minutos se passaram e ninguém disse nada.
---Você está bem, Lauren? – perguntou de uma vez. – o que aconteceu hoje?
---Sim, estou bem, eu acho. –respondi com sinceridade –E não sei o que houve, em um instante estava lá no parque no outro era como se tudo estivesse sendo real – respirei fundo ao lembrar ---E Camila estava lá também.
Ele me olhou curioso e interessado, e incentivou a continuar. Tirei minha jaqueta, não sei se era impressão, mas agora não fazia tanto frio assim.
---Havia alguns homens a agarrando e ameaçando – continuei mesmo não querendo pensar naquela cena novamente ---Então consegui tirá-la de suas mãos, mas depois de levar uma surra e um corte.
Ouvimos alguma coisa se partindo em milhares de pedaços na cozinha. De imediato pensei em Camila e praticamente voei até lá. Realmente havia cacos por todo lado de uma vasilha que provavelmente ela segurava. Ali parecia ainda mais quente do que na sala e Camila estava estática, podia jurar que nem respirava. Joseph fez menção de avançar até a esposa, mas o interrompi antes que se cortasse nos vidros e o aconselhei a ir ver o filho que demorava lá em cima.
Passei sobre os cacos fácil, o complicado foi fazer Camila voltar à realidade. Quando finalmente consegui sua atenção ainda não parecia totalmente concentrada no que estava acontecendo. Sem pensar nas possíveis reações a peguei no colo e levei para longe do vidro quebrado.
Não sei o que foi aquilo, mas também não perguntei, apenas a coloquei sentada em uma cadeira da sacada dos fundos e fiquei ali, esperando que relaxasse de novo. Passaram alguns minutos até isso acontecer, então a levei de volta para dentro, estava frio novamente, quem vai entender esse clima?!
Joseph e Max já haviam descido, e enquanto o menino assistia algum filme na sala o pai terminava de limpar a bagunça da cozinha. Ninguém disse nada, Camila passou direto para cima, disse que iria tomar um banho e descansar. Assenti e tratei de dizer que também estava na minha hora de ir. Despedi de Joseph e passei na sala para dar tchau a Max, mas o garoto já estava dormindo pesado jogado no sofá.
Inclinei e finalmente estava voando, amava aquela sensação, era incrível. Passei por alguns bairros, até que mais abaixo vejo um quarteto saindo correndo de dentro de uma farmácia, me aproximei e logo percebi que se tratava de um assalto. Antes mesmo que me percebessem já agarrei dois e os levei para o alto.
---Então, vão devolver o dinheiro ao senhor da farmácia ou querem dar uma volta também?
Se entreolharam apavorados com minha aparição, era rapazes de uns quatorze anos no máximo, e logo estavam jogando tudo no chão e quase chorando para que os deixasse ir. Quando os outros dois voltaram ao chão novamente, recolhi o dinheiro e devolvi ao dono e os levei a uma delegacia próxima. Sabia que não ficariam ali por muito tempo, mas era sempre bom dar um susto nessas crianças.
Voltei ao trailer, precisava dormir, ou tentar dessa vez. Quando entro e vou em direção a uma cama qualquer que coloquei há algum tempo, passo diante um espelho. Sem me conter observo meu corpo, livre de quase toda roupa, e vejo algumas cicatrizes que sempre estiveram ali, ao menos que eu saiba, mas não lembro como as ganhei. Olhei diretamente para o braço direito e lá estava um traçado consideravelmente grande e provavelmente feito com uma faca.
Ou uma espada.
Dou alguns passos para trás e tropeço em algumas caixas. Não era possível, foi apenas um sonho não é? Tentei ao máximo me lembrar, mas nada. Não lembrava nada.
Então pensei: se quero começar, acho que devo voltar de onde lembro ter tido uma vida.
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História Heroin, or nearly so
FanfictionLauren Jauregui é uma super-heroína que perdeu a popularidade que tinha, devido às suas tentativas de resgate pouco convencionais. Após salvar Joseph Cowell, um agente de relações públicas, ele se oferece para ajudá-la a melhorar sua imagem. A ideia...