A turma da Rua Quinze não conseguiu desprender os olhos
daquela figura estranha...— Eu sabia que essa idéia não ia dar certo, André — comentou
Tigre.
Os quatro garotos estavam sentados na rua Quinze, enquanto
Napoleão roia seu osso calmamente.
—É, o Napoleão é inteligente, mas não é um cachorro policial —
observou Pedro, disfarçando o sorriso.
—Mas a gente tinha de tentar alguma coisa. E a idéia foi boa —
rebateu André.
—Foi sim, para o Napoleão, que está jantando mais cedo — falou
Pedro, provocando o riso dos companheiros.
—Olhem que figura estranha vem vindo lá na esquina — disse
Serginho, interrompendo a conversa do grupo.
O homem era alto, magro e vestia um paletó escuro, apesar do calor
do fim de tarde. Tinha um bigode estreito, e pouco abaixo de seu olho
esquerdo havia uma cicatriz que descia até perto da boca. Carregava uma
maleta, que parecia deixá-lo ainda mais esquisito. Um tipo de pessoa que,
sem dúvida, chamaria a atenção em qualquer lugar do mundo. Como se
fosse um homem com pernas de pau visitando um parente em uma tribo
de pigmeus. Ele caminhava firme, sem olhar para os lados, ignorando
completamente o grupo de meninos sentado na calçada do outro lado da
rua. A turma não conseguia desprender os olhos do homem, como se
todos estivessem hipnotizados. E ninguém conseguia dizer uma palavra.
De repente, Napoleão largou seu osso, levantou-se e, atravessando
a rua, investiu contra ele, latindo alto. O cão e o homem se olharam por
um instante e, curiosamente, foi o animal quem pareceu demonstrar
medo. E recuou, embora continuasse a rosnar. O homem, como se nada
tivesse acontecido, continuou sua caminhada até o fim da rua, onde
entrou no casarão da esquina. Só então Napoleão parou de latir e
retornou para junto da turma, que parecia saída de um transe. Tanto
que ninguém esboçou o menor gesto para deter o cachorro, que avançava
contra um estranho sem nenhum motivo aparente. Um comportamento
incomum, já que normalmente Napoleão era manso e dócil.
— Puxa, que coisa esquisita. Vocês viram como o Napoleão recuou? — perguntou Serginho, o primeiro a quebrar o silêncio que envolvia a
turma. — Por que será que ele não gostou desse homem?
— Vai ver esse cara fez qualquer coisa para o Napoleão algum dia
— arriscou André, olhando para o cachorro.
— Pode ser. Dizem que os cães não esquecem nunca mais as
pessoas que os maltratam — disse Pedro.
— Nunca vi o Napoleão tão bravo. Até pensei que ele ia morder o
homem — falou Serginho, afagando o cão, que voltara a atenção para
seu osso.
— Então é esse o homem que alugou o casarão da esquina. Minha
mãe comentou que a casa da dona Olivia tinha sido alugada por um
sujeito estranho, que não cumprimenta ninguém na rua — lembrou
Tigre.
— Estranho ele é mesmo. Vocês viram a cicatriz que ele tem na
cara? Ele parece um bandido de filme — disse Pedro, e todos
concordaram com a comparação.
— Eu pagava para saber por que o Napoleão ficou daquele jeito. Ele
nunca avançou em ninguém aqui na rua — falou Tigre inquieto.
— E o que ele faz no casarão, mora lá? — quis saber Pedro.
— Minha mãe não sabe. Ela só sabe que ele alugou a casa da
dona Olivia, que estava fechada desde que ela foi morar com a filha no
Paraná, no ano passado. Mas acho que ele não mora lá, não — explicou
Tigre —, parece que ele vai abrir uma firma na casa e está trazendo os
móveis e as máquinas devagar.
— Agora estou lembrando: minha mãe comentou outro dia que um
caminhão estava descarregando mudança no casarão da dona Olivia —
lembrou André.
— Quando foi isso? — perguntou Pedro curioso.
— Acho que foi na semana passada. Eu até ia dar uma olhada, mas
era hora de jantar e acabei não indo.
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A TURMA DA RUA QUINZE.
AdventureAMIGOS DE VERDADE E MUITA CONFUSÃO De repente, Marcão desaparece e a turma da Rua Quinze fica em polvorosa. Onde o amigo pode ter ido parar? Por conta própria, o grupo resolve investigar um suspeito casarão que fica no fim da rua e é aí que a ave...