› Capítulo 4 ‹

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Não houveram questionamentos sobre a mudança de quarto e muito menos sobre os meus novos afazeres. Madeleine recebeu a informação de que eu trabalharia como criada, e apenas isso. Assim prosseguiu os meus dias. As tarefas que me eram impostas, eram sempre com relação a parte térrea da casa. Acredito que a senhora de cabelos loiros tenha compreendido o porquê de todas as mudanças.

Apesar de ter me distanciado de Max e Fiona, o meu organismo não havia voltado ao normal. A minha língua não estava captando o gosto correto dos alimentos e isso estava começando a me frustrar. Havia momentos que eu sentia tanta fome, porém, quando mastigava a comida, tudo parecia completamente diferente – nem consigo descrever.

Com isso, Madeleine estava cada vez mais preocupada. E eu também estava. Devido à falta de alimentos, o meu trabalho estava bem mais lento do que o normal e diversas vezes sentia tonturas que quase me faziam desmaiar. Madeleine já tinha insinuado que falaria com Max, para que ele chamasse o médico para me analisar, contudo, a fiz prometer que não faria tal ato.

Além disso, nada de especial acontecia comigo.

Com as mudanças acabei me distanciando dos livros, o que me deixou bastante chateada. Entretanto, não poderia reclamar de algo que havia escolhido. Eu fui até Max e optei por me distanciar de tudo aquilo que me entristecia.

O trabalho me distraía, o que era um alívio. Não via e nem ouvia a voz dos Chermont há dias, e isso era uma dádiva.

Termino de passar um pano úmido na mesa de madeira escura e começo a pôr os objetos e papéis sobre ela novamente. Uma camada fina de suor está firmada na minha testa, o meu corpo está gelado, todavia me sinto molhada de suor. A porta da biblioteca é aberta e quando ergo os olhos para o homem bem vestido, noto que minha visão está estranha. Os meus lábios estão entreabertos, e percebo que estou puxando ar de forma desesperadora.

— Sophia? — a voz que sempre me aquece, não segue o seu ciclo. — Você está bem?

Antes que possa responder, as minhas pernas falham, ouço ruído de passos apressados. Até que eu desfaleça.

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Desperto com os olhos tornados para o teto de madeira escura e envernizada. Esse não é o meu quarto. Não mais. Os meus olhos examinam o lugar a minha volta e encaro o homem ruivo sentado sobre o sofá próximo a porta. Em seu semblante percebo o quanto está preocupado. Não demora muito para que eu note que há outro homem ao meu lado, porém, sentado em uma cadeira que havia sido posta para ele. Os seus cabelos negros tornam os olhos verdes vivos em seu rosto, a pele bronzeada e queixo quadrado o deixam encantador.

— Olá, Sophia. Como está se sentindo?

— Bem.

— Nada de tonturas ou algo mais?

— Nada.

— Madeleine disse que ela não tem se alimentado direito nos últimos meses — Max se pronuncia.

O doutor me encara com o olhar penetrante, e com uma indagação pregada em sua expressão.

— Você poderia me dizer o por quê? — o doutor pergunta.

— Os alimentos não são mais os mesmos, até parece que perderam o gosto.

Ele acena em concordância.

— Algo mais?

Penso um pouco antes de responder.

— Não.

— Certo. — Ele respira fundo enquanto observa o vestido que estou usando — Suas roupas estão justas.

Não é uma pergunta. Franzo o cenho com a afirmação estranha.

Nem Tudo é DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora