Prólogo

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Há diversas coisas sobre o mundo que ainda não sabemos, muitos segredos que se escondem á nossa frente. Eu tinha apenas 15 anos quando tudo começou, e nesse tempo eu ainda não sabia de nada...

Sabia que havia algo nesse mundo que não fazia sentido, por exemplo, o que meu pai fazia nas segundas á noite ? Aonde ele ia com meu irmão aos sábados ?

Qual era o meu propósito na vida?

Muito prazer, meu nome é Clarisse, ou Agnis e vou contar como foi que minha vida mudou tanto em tão pouco tempo.

Lembro como se fosse ontem o dia em que cheguei aqui, estávamos eu, minha irmã e minha cunhada em minha casa, atrasadas para uma festa. Mas, como sempre, demorei a me arrumar e isso as deixou irritadas.

- Nossa, você é muito lerda pra se arrumar...  - Resmungou minha irmã, enquanto mandava mensagens pelo celular.

- Vocês só me avisaram que vamos sair agora - Respondi.

- Adriele... Você tem que ver isso - Disse minha cunhada, rindo da minha face totalmente vergonhosa.

-  O que foi agora? - Ela revirou os olhos e caminhou até nós.

- Olha só a merda que a Clarisse fez no rosto ... Como você fez isso?

- Não deve estar tão feio- Respondo.

Adriele entrou no banheiro e, junto á Luna, e começou a rir. Ela pegou um pano e começou a passar no meu rosto. Acabo rindo também e após um tempo, ela começou a refazer minha maquiagem.

- Luna, que horas são? - Indagou a morena enquanto passava um batom avermelhado em meus lábios.

- Eu não sei, vou pegar meu celular no quarto - Ela girou a maçaneta redonda de ferro. - Está trancada...

- Como assim? - indagou Adriele.

- Leo, isso não é engraçado. Abre a porta logo. - Disse ela de maneira autoritária.

- Mas ele acabou de sair, Luna. - Adriele responde, desconfiada. - Você não trancou por dentro?

- O que foi gente ?

- Alguém está atrás da porta e não quer sair. - Minha cunhada respondeu.

Eu girei a maçaneta e a porta se abriu.

- Viu? não era nada - Disse e me assustei ao vê-las com os olhos arregalados. - Vocês estão pálidas, o que foi?

- Clarrise - Diz ela assustada e de maneira silábica - Fecha essa porta.

-  Por que?

Me virei esperando encontrar a razão por trás de seu medo e ao olhar para a porta, vi um piso de madeira juntamente á um grande salão com uma estátua centralizada em frente á um grande portão dourado.

-  Mas que o que é isso? - Perguntei em uma mistura de medo e curiosidade.

- Não sei, mas não vou sair daqui... Nos filmes de terror eles sempre morrem, fecha essa porta e vamos ficar aqui até alguma coisa mudar. - Luna disse.

Adentrei a grande sala e vi uma estátua no canto da sala de uma bela mulher com vestes brancas e uma capa que se ajusta ao seu corpo, como se a moça estivesse realmente viva. Maravilhada, começo a procurar respostas ou pistas no grande salão sobre como o nosso banheiro se tornou isto, mas nada encontro.

O grande papel de parede dourado que envolvia toda a sala com detalhes em madeira dava um ar sofisticado ao local e o teto de vidro além de permitir a vista do céu cheio de pássaros brancos, nos permitia enxergar melhor cada detalhe. A estátua ao canto da sala segurava roupas e sua expressão transmitia paz a todos os que viam seus olhos serenos. Ela piscou.

A estátua se moveu e, sem fazer barulho, pisou no chão firmemente caminhando em minha direção com a capa arrastando no chão como um leve e delicado tecido, capaz de cair e mostrar seu corpo delicado e bem desenhado. Era lindo, mas desesperador.

Na tentativa de processar toda aquela informação, meu cérebro se manteve raciocinando por alguns segundos até que eu pudesse começar a correr desesperadamente ao banheiro. E nas faces das meninas havia tanto espanto que seria engraçado, até, se eu não estivesse em perigo.

Quando meus pés tocaram alegremente o piso áspero do banheiro a estátua parou, dando lugar a um barulho estridente vindo da porta de madeira a ser arrastada no chão. O ranger da madeira velha trazia-nos tensão e medo, além da curiosidade de querer saber o que nos aguardava atrás da mesma.

De dentro dela saiu uma mulher ruiva com os cabelos presos em uma trança longa vestida em um vestido vermelho e capa dourada, sorrindo. Ela não me pareceu surpresa, fechou a porta novamente e caminhou em nossa direção enquanto eu ainda me decidia se deveria fechar aquela porta sem ouvir o que tinha a dizer ou aguardar sua chegada até nós. Seus olhos verdes entraram em contato com os meus e a curva que seus lábios faziam projetando um sorriso não me deixaram dúvidas de que ela sabia o que estava fazendo e, curiosa, decidi ficar com a segunda opção, tendo em vista que se quisesse, ela já teria me matado. Ela pigarreia.

- Vocês finalmente chegaram. São as três alunas novas não é ? Sejam bem vindas á escola do sul, Duwessa.

-  Desculpa, acho que está havendo um engano... -Luna tentou se explicar, mas fora interrompida.

- Não existem enganos, senhorita. Suas novas roupas estão ali - Ela apontou para a estátua, que segurava três capas, saias e blusas sociais das quais não fazia idéia de onde surgira.

- Aqui é bem frio mesmo no verão, então não esqueçam suas capas provisórias.

- E quem é você ? - Indaguei, maravilhada.

- Sou Pandora, a secretária do diretor. Ele me avisou da chegada de vocês. Vistam suas roupas e sigam o pássaro azul e branco.

-  Que pássaro?

-  Ele ainda não chegou, mas se apressem. - A ruiva respondeu e se retirou da sala, deixando como lembrança seu perfume com cheiro de canela.

Esse foi o começo de tudo, foi o que me fez repensar sobre a vida que havia tido até este momento, sobre as coisas que julguei ser maravilhosas, sobre os mistérios que eu pensei saber. O que a sociedade faria se soubesse que um mundo mágico como o dos filmes realmente existe?

A secretária Pandora se retirou, levando consigo minhas dúvidas sobre qual era meu propósito e minha insegurança para segui-lo. Eu decidi que a seguiria, a escutaria e decidiria se ali seria ou não meu lugar.

Inferno 96Onde histórias criam vida. Descubra agora