Retorno aos lares II

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De volta ás atividades monótonas do mundo sem sal em que se encontrava - pensou Clarisse ao acordar e ter a bela visão da lua cheia á se esconder entre as nuvens conforme o sol começava a marcar presença na madrugada calorosa, preenchendo sua janela como uma pintura.
A pequena fresta deixada pela cortina quebrada de seu quarto a permitia ver um outro mundo, um que ela queria enfrentar. E com a mente de volta ao seu quarto, ela retira o edredom de seu corpo.

Sua vida sempre fora assim, cheia de nenhuma aventura. Ela se olha no espelho e retira uma mecha de seus cabelos castanhos do rosto, recebendo do espelho sua imagem em um olhar preguiçoso. Boceja ao sentir falta de sua mecha branca que lhe caía tão bem no outro mundo do qual ainda nem sabia como chamar.

Ela abre a porta, que faz um estalo devido á sua idade e desce as escadas de pedra, uma pedra da qual nem ela sabe descrever tampouco dizer qual é. Pega a chave sobre a mesa, e vestindo apenas um vestido vermelho de pijama sai de casa e pega as correspondências, da mesma forma que fazia toda manhã. Em meio ás contas ela encontra dois envelopes destinados á Marrie Françoise e Agnis Serov, olhando para os lados desconfiada de que alguém pudesse vê-los.

Caminha em passos largos e apressados para casa, ela abre o seu rapidamente, tirando um livro, um caderno e uma pena azul, sem acreditar que o pequeno envelope conseguiu guardar o grande livro, que deveria ter pouco mais de quinhentas folhas. Cautelosamente, passa o envelope de sua irmã sob a porta do quarto dela, para que esta veja quando acordar e deposita as contas sobre a mesa da sala.

Após um banho, coloca o uniforme da escola, do qual sua beleza nem de perto pode ser comparada ao uniforme de Duwessa. Arruma a cama e pega seu caderno escolar, decidindo deixar o livro mágico no baú de seu quarto, que tinha as coisas mais estranhas e variadas possíveis.

Seu irmão ainda não havia acordado, e por ser cedo ela decide que o deixaria dormir um pouco mais. Ele já é grande o suficiente para não se atrasar - Pensou ela. Ao pisar fora de casa, nota as diferenças de sua cidade com o outro mundo, tão provido de beleza, do qual até os banheiros devem ter uma aura majestosa capaz de te fazer sentir vontade de morar sobre uma privada. Após uma longa viagem para um destino próximo em um transporte público que lhe rendeu um ótimo descanso, Clarisse finalmente chega aos portões da escola Drummond, que por coincidência, ou não, também era azul. Embora se tratasse de um azul mais escuro e velho, sem vida talvez.

Embora tivesse muita afinidade por quase todos daquela escola, a jovem sentia pena de todos por viver naquele local e não compreendia tamanha adoração que tinham por ele. Ela entra na escola e caminha em passos lentos até sua sala, procurando em seguida um lugar sob o ventilador de teto que lhe dê vantagem ao calor do verão que esquentava o telhado da escola e abafava sua sala. Ela nem de longe era a mais estudiosa de sua classe, tampouco se esforçava muito mais do que os desinteressados, nem alegava estar tentando, não era tão importante para ela.

Clarisse deixa suas coisas sobre a mesa e se retira da sala, seguindo até a cafeteria em busca de algo para comer e se contentando com um pobre sanduíche natural e um refrigerante de limão em plena manhã. Ao contrário de todos, não se importava em comer doces pela manhã e talvez por isso estivesse um pouco acima do peso, como dizia seu irmão. Sente seu ombro pesar ao ser tocado não tão gentilmente por uma mão fria:

- O que faz aqui? - Indaga seu amigo, Richard.

- Eu estudo aqui, ao contrário de você que é só uma mochila na sala. Devia parar de matar aula, isso pode te prejudicar, você sabe.

- Estou bem, estou nessa há anos. E como você está ?

- Bem. Um pouco cansada.

- Cansada do que? quase nunca sai de casa...

- Ultimamente tenho me aventurado mais, é bem divertido.

- Aonde foi?

- Segredo - Um sorriso brinca em seus lábios.

- Se você diz - Ele levanta as mãos em rendição.

- Bom, estou indo pra sala. Se decidir ser responsável uma vez na vida, pode passar lá.

Clarisse se levanta e recolhe sua lata de refrigerante, que ainda se encontrava pela metade. Seu amigo sorri em despedida e, em sua sala, ela deita sua cabeça sobre a mesa e fecha os olhos.

*

As aulas passaram rápido e ao que tudo indica, Clarisse havia dormido em todas elas.
Ela boceja e pega seu caderno, que era a única coisa que ela levava junto ao seu estojo, se dirigindo ao grande corredor azul-defunto da sua escola e sendo cumprimentada com acenos de cabeça e sorrisos por todo o percurso até o portão de saída da escola.
Ao pisar fora da escola, sente algo a esquentar em seu bolso e pega um bilhete que até então não existia.

Convocação á primeira aula: Introdução á magia.
Início: 11:30. Ponto de transporte mais próximo: mercado Sol nascente, banheiro masculino, segunda cabine.

Ela joga o papel fora e olha o horário em seu celular, que marcava 11:00. E nota que o local estava próximo, podendo vê-lo no fim da rua. Olha ao redor para ver se ninguém está a seguindo, e consegue ver seu irmão ao outro lado da rua.
Não era tão difícil ele estar lá, tendo em vista que estudam na mesma escola, mas seu irmão tem a habilidade de aparecer nas piores horas. Com cautela, ela anda vagarosamente, seguindo de maneira furtiva até o mercado e acaba o perdendo de vista.
Suspira e entra no mercado, a parte difícil já passou.

Após rondar o lugar 2-3 vezes, nota que  talvez estivesse no lugar errado, já que não viu nenhuma placa indicando em qual sentido seria o banheiro. Decidiu que a melhor opção seria perguntar a alguém, talvez uma atendente.
Olha para os lados e segue em frente, seu irmão poderia estar por perto, já que ela não viu aonde ele foi. Se dirige ao caixa.

- Com licença, você sabe me informar aonde fica o banheiro?

- É só para funcionários senhora.

- Mas é que eu estou com um certo problema ... - Ela faz a melhor cara de doente que consegue e gesticula um sinal que indica enjoo. - não pode ceder pra mim apenas uma vez?

- Suba as escadas e entre a direita.

- Obrigado.

Ela continua com sua falsa expressão doente até que termina o lance de escadas. Olha ao redor e segue as instruções da atendente contatada, finalmente entra no banheiro masculino com muita vergonha e acaba por ver seu irmão de costas a entrar no que parecia a terceira cabine. Desesperada, corre até a segunda e repete em sua mente Duwessa, Duwessa, Duwessa diversas vezes, como se isso adiantasse o processo. 
Ele abre a porta da cabine onde ela se encontrava, mas não havia ninguém mais lá.

- Podia jurar que havia mais alguém aqui, Mestre Klaus... - Diz Leonardo

- Deve ter sido um bruxo nojento, o portal é nessa cabine.

- Por que me instruiu a entrar na terceira?

- Invadi o sistema mágico da escola e abri portais separados que necessitam de uma magia abaixo da média, não quero gastar muito isso aqui.

Ele aponta mostra uma pedra vermelha que brilha disfarçadamente.

- Vamos ? - Indaga Leonardo.

- Pode ir na frente, estou esperando mais um.

Inferno 96Onde histórias criam vida. Descubra agora