Já havia anoitecido e como de costume os bêbados já povoavam as ruas e calçadas da cidade. Em um bar próximo ao centro da cidade, um lugar que não tinha nada de muito especial, nas paredes, várias luzes neons e plantas exóticas, no canto esquerdo um palco com uma tela de arame, na lateral um lugar para o garçom e para as bebidas e no centro, várias mesas para os clientes. Podia se notar as animosidades do lugar pela decoração.
Era um lugar que muitas adjetivariam como "espelunca", e lá a baderna havia começado antes mesmo do sol se por, já que uma trupe de mercenários havia chegado de um combate próxima daquela cidade, de onde eles saíram vitoriosos e, portanto, queriam comemorar, então ao cair da noite, todos os homens já haviam perdido quase que completamente a sanidade. Todos gritavam tendo consigo, prostitutas em seus colos e canecas de cerveja nas mãos. Cantavam, tentando acompanhar o ritmo da cantora que fazia sua performance no palco, atrás de uma grade para previr que algum indivíduo subisse e tentasse qualquer atitude imoral contra ela, afinal, para a dona do prostíbulo mais famoso da cidade, isso era o mínimo de segurança que se exigia. Alguns homens brigavam no meio do salão enquanto outros simplesmente eram arremessados pela única saída do recinto por grandalhões beberrões ou pelos próprios seguranças do bar.
A baderna era ouvida de muito longe, então nem mesmo aqueles que estavam lá dentro conseguiam entender o que cada um dizia. No entanto, nem todo esse alvoroço foi o suficiente pra impedir que o silêncio se fizesse quando uma garota adentrou no salão com as roupas ensanguentadas, implorando por ajuda. A primeira a se calar foi a cantora, seguida pelos bêbados e prostitutas no salão que ficaram encarando a garota, mas apenas duas mulheres se dispuseram a ajudar. Elas se levantaram das pernas de um homem onde estavam sentadas e correram em direção a moça para ajuda-la, quando quatro outros homens, trajados com armaduras douradas e com detalhes em vermelho entraram pela a porta do bar, dois deles pegaram a garota pelos braços e começaram a arrasta-la em direção a porta do bar. O terceiro afastou as mulheres que tentaram ajudar a garota e o quarto retirou o seu elmo, porém, ainda possuía um manto branco sobre os ombros que lhe cobria também a parte de baixo o rosto. Ele anunciou com voz severa, mas em tom de calma: "Ignorem o que acabou de acontecer e continuem a beber. Finjam que nada disso aconteceu." Os guardas já se encaminhavam para a porta quando a garota, ainda ofegante e sendo arrastada para fora, gritou e se debateu como se fosse sua última súplica antes de desmaiar:
- Por favor, alguém me ajude, eu posso lhes pagar...- Sua fala foi interrompida pela a mão do homem sem elmo, que se chocou contra a boca da garota fazendo-a cuspir sangue. Nessa hora um homem que estava próximo à porta se levantou, tirou sua espada da bainha e a colocou no caminho da porta.
- Ei, seus putos dourados, porque essa pressa? Vamos conversar. – Nenhum dos homens naquele lugar parecia ser do tipo de gente que sente empatia por amigos ou semelhantes, na verdade, eles não pareciam nem mesmo confiar uns nos outros, quem dirá ter amigos. Nenhum deles se importava com o que aqueles guardas fariam a aquela garota, ou o porquê dela estar fugindo deles, mas observar as joias no pescoço da garota e ouvir a palavra "pagar" surgindo na conversa foi o bastante para que a ganância de cada um lhes aguçasse os sentidos. Os outros mercenários foram se levantando e sacando suas armas um após o outro. Quatro deles tentaram se aproximar dos guardas, mas o homem com o manto, que parecia ser o líder deles, desembainhou sua espada e apontou direto para o pescoço de um deles, o que os fez parar e imediatamente, recuar. Ela parecia ser feita de aço da montanha, o que era raro até para os exércitos dos reinos mais ricos, e mesmo assim o homem a mantinha firme apenas com um braço, isso seria ameaça suficiente para amedrontar qualquer pessoa, mas aqueles presentes no bar já estavam fora de sí devido ao álcool em seu sangue, mas principalmente, à ganância em seus corações.
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Os Quatro Eremitas
AdventureO inevitável destino faz com que o caminho de um jovem mercenário se cruze com o de uma princesa perseguida. O sofrimento, condição inerente à existêcia humana, obriga o indivíduo a viver e tornar o meio ao seu redor em decadente antro de morte e de...