Os Quatro Eremitas

Capítulo 2 - Sem Volta (Pt. 1)

   Enquanto corria, a garota se perguntava se realmente era seguro confiar em alguém tão novo, mas que era capaz de matar um homem com tamanha facilidade. Por sua vez, na mente do garoto, o único pensamento que ali ecoava era se realmente teria valido a pena matar um membro do exército real apenas para salvar alguém de quem ele sabia absolutamente nada. Ao saírem pela porta que dava acesso aos camarins e a caminho da saída para os fundos do bar, o garoto sussurrou para a garota, enquanto os dois se esgueiravam pelo corredor, iluminado apenas por luzes neons roxas:

   - Qual seu nome garota?- Ainda relutante, a garota sussurrou de volta.

   - Sou Scarlet, princesa de Bastília, obrigado por...

   - O nome já é o suficiente – O garoto interrompeu a fala de Scarlet quando chegaram ao fim do corredor ficando frente a frente com a porta de saída. – Você pode me chamar de Billy.

   Billy abriu a porta que era a saída para um beco entre o bar e os prédios da cidade. Uma chuva forte castigava a cidade naquela noite, daquelas que dificultam a visão de qualquer coisa que esteja a mais de um metro a sua frente. Ele tirou o manto que cobria o corpo e a cabeça, e o deu para Scarlet, tornando possível que ela o observasse com mais detalhes. Vestia uma camisa xadrez aberta e de mangas curtas, das cores preta e vermelha, e por dentro, uma blusa preta. Uma bermuda jeans escura e seu tênis vermelho.

   Em sua cintura, do lado esquerdo, Billy trazia uma bolsa transversal marrom que aparentava estar cheia,  e do lado direito, uma espada de cabo verde e sem guarda-mão, resguardada dentro de sua bainha presa ao cinto. Nas costa, havia uma espada com uma guarda-mão grossa e cinzenta, e o cabo era um tanto fino e coberto por um pano branco, provavelmente para evitar que o atrito entre a mão e cabo feri-se a mão de quem empunhasse a espada que, por sua vez, não possuía uma bainha e estava simplesmente presa à alça da bolsa.  Ela ainda não sabia, mas o garoto seguia à risca algumas regras que a vida havia lhe ensinado a dar valor e uma delas era justamente estar sempre preparado para fugir quando necessário.

   Scarlet achou Billy um pouco mal-educado já que o garoto não a tinha deixado terminar seu agradecimento, porém, ela compreendeu que não possuíam tempo para perder com esses detalhes. Quando ele pegou sua mão e a puxou, ela entendeu que eles tinham que partir. Os becos entre os prédios pareciam formar um labirinto urbano na periferia de Bastília, com seus grafites nas paredes, pequenas plantas arbustivas em vasos e musgo crescendo em cima de restos de objetos velhos e quinquilharias que o povo da cidade jogava de suas janelas concedia à cidade uma aparência única do confronto entre a natureza e o urbano. Demorou um pouco até eles começarem a escutar o barulho de tropas de soldados em seu encalço. Eles enfim saíram do complexo de casas e prédios que a periferia da cidade tinha se tornado após passar anos recebendo refugiados das guerras.

   Saíram em direção a um bosque de vegetação bastante fechada que, aliado à chuva, tornava a visibilidade de ambos quase nula, porém, Billy parecia saber o que estava fazendo, já que continuava seguindo em frente, levando Scarlet consigo. Depois de um tempo a princesa protestou: 

    - Ei - Ele não deu ouvidos - Ei, Billy - Novamente sem reação - PARA - Ela gritou e dessa vez ele parou e se virou.

   -  Qual o seu problema? Não temos tempo para conversa. Eles estão atrás de nós. 

   - Eu sei, mas  você sabe para onde estamos indo? Eu mal consigo ver meus pés nesse breu e você continua entrando nesse bosque.

   - Você disse que iria confiar em mim.

   - Sim, mas... - Billy segurou a mão de Scarlet novamente.

   - Pode ficar tranquila. Se perder não é um plano de fuga pelo qual eu optaria, ok? - Algo na forma em que ele a encarava transmitia segurança para ela. A lembrava da forma como seu pai a olhava quando dizia que não haviam monstros debaixo de sua cama ou dentro do armário e ele sabia, pois ele mesmo os havia espantado.