C A P Í T U L O 15

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Quarentena. Nunca tinha visto um estado desses de verdade. Mas é exatamente onde Ellen me coloca. Setembro vem e se vai e eu estou em quarentena. Quinze dias sem nenhuma comunicação com exceção de uma única mensagem "ME DÊ UM TEMPO" no dia em que ela saiu da minha casa com lágrimas nos olhos por causa da minha idiotice. Mais quinze dias sem comunicação pessoal apenas ligações durante o dia ou chamadas de vídeo de dois minutos antes de dormir. É assim que eu passo o último mês. Em resumo, o pior mês que eu já tive em muito tempo.

Os dias no calendário parecem ter sido duplicados. Vinte e quatro parecem quarenta e oito horas. Uma semana parece um mês. Um mês parece um ano. Cria-se uma rotina para mim. Ir e vir da Universidade. Ir e vir da clínica. Nada durante a noite além de uns goles de álcool. Apesar de eu ter passado cinco anos sem companhia, minha casa nunca pareceu tão vazia. Talvez porque eu nunca tenha passado tanto tempo em casa. Eu normalmente chegava da clínica e ia para a "caçada", mas não agora. Eu chego em casa e fico em casa me torturando. Pensando se ligo para Ellen ou não. No fim acabo decidindo por não ligar e respeitar o tempo que ela me pediu.

Ficamos distantes. Quase não conversamos nada. Quando nos falamos, mesmo poucas vezes, é para saber resumidamente sobre o dia um do outro. Sinto sua falta, Ellen. Eu não digo quando sinto vontade. Volte pra mim, Ellen. Eu não digo quando preciso dela ao meu lado nas noites em que não consigo dormir. Preciso de você, Ellen. Também não digo quando os pesadelos e lembranças amargas tomam conta de mim. Eu te amo, Ellen. Não digo quando isso me sufoca. Eu estou murchando longe dela. Estou perdido sem ela. Tenho inclinações a ceder a velhos hábitos e só o que me faz conseguir resistir é o desejo de poder dizer a ela tudo o que eu sinto, e eu quero ser eu mesmo quando fizer isso e não um medíocre drogado.

Mas durante esse tempo algumas coisas acontecem. O que de alguma forma ajudam a me manter distraído da falta que a Ellen faz nos meus dias. A ONG começou a investigar os pais do Damian para descobrir o que houve com ele, já que os desenhos que ele fez depois dos que eu mostrei à Mônica foram muito explícitos e justificam nossa preocupação de que algo muito ruim aconteceu com ele e sua família.

Ada sumiu da face da Terra ou pelo menos de Miami. Ela não estava mentindo quando disse que iria voltar para Nova Iorque. Pena que foi tarde demais. Ela teve tempo o suficiente para conseguir me derrubar mais uma vez. Teve tempo e controle porque eu fui fraco. Mais uma vez ela conseguiu. Mas nesse último mês eu fiz uma promessa a mim mesmo de que da próxima vez que eu a encontrar, vou tirá-la da minha vida de uma vez por todas, porque nem fodendo eu vou perder a Ellen por causa de algo que já me fez tanto mal.

Em um dos meus dias vazios, eu faço uma visitinha ao Logan enquanto meu avô ainda não descobriu o paradeiro do Will e do Tyler. Ofereço a ele uma boa quantia em dinheiro pra sumir da face da Terra e após uma semana, parece que ele foi sensato e fez isso porque um colega da polícia me fala que ele não está mais na cidade. Mas apesar das distrações, estar distante da Ellen me faz mal. Deixa-me mal. Então quando outubro chega, eu decido que já é hora de dar um basta nessa distância.

Sexta-feira. Saio da faculdade na hora do almoço e vou ao Sunrise antes de ir para a clínica. Vou chamar Ellen para fazer alguma coisa hoje à noite. Não importa o quê. Só quero a presença dela. Nem que seja pra ficar em casa assistindo um filme e falando besteira como a gente fazia antes. Eu a quero perto de mim. Lá, Terry me diz que ela está no estábulo da ala leste. Chego e a encontro com um escovão na mão penteando um dos cavalos, mas mais do que isso, ela está cantando um pouco ao pé do ouvido dele. Por um momento eu não me aproximo, não falo nada, apenas observo sua interação com o animal. É evidente o amor dela pelo que faz com ele. Preciso trazer o Tyler logo.

Reviver (SR #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora