Capítulo 32

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Hyungwon me levantou do banco de madeira da sala do velório me forçando a seguir a comitiva fúnebre que levaria Harry para sua cova. É duro ver em lápides seguidas os seguintes nomes: Penélope Rose Gomes, Laila Marie Banks, Jacob Will Park (Vulgo Jack), Luise Claire Clark e agora a mais nova lápide com a cova aberta esperando seu último passageiro: Harry Jacob Clark.

Minhas pernas fraquejaram quando vi sua foto já posta em seu memorial de pedra. Seu nome estava bem desenhado e a data que eu quero esquecer também estava lá. Vinte e cinco de novembro de dois mil e dezesseis será um dia que talvez eu faça como Kihyun, apague da memória. Se ele se lembrou de algo? Não. Se ele irá lembrar? Isso é um mistério.

Os coveiros ergueram o caixão do carrinho e desceram ele com uma corda a sete palmos abaixo do chão. O corpo de Harry está ali e é tão doloroso saber que o garoto bonito, de olhos verdes e covinhas está frio, pálido e morto indo para baixo desse monte de terra. Meu peito ardia de dor e a mão de Hyungwon pousava em meu ombro solicita e serena me passando a calma que eu não estava conseguindo absorver.

- Senhora? - O coveiro me olhou com pena - Gostaria de jogar o primeiro punhado de terra? - Balancei a cabeça afirmativamente incapaz de expressar uma palavra.

Caminhei a passos vagarosos e ajoelhei no chão, pegando um punhado de terra com as mãos. Meus dedos compridos, finos e pálidos soltaram os grãos secos sobre o caixão. O barulho da terra caindo sobre o tampo de madeira foi acompanhado por um trovão no céu cinza daquele sábado. Yang soluçava em algum lugar no meio das pessoas, reconhecia o choro dele, pois durante toda essa noite que passamos entre hospital e delegacia, sem dormir, o mesmo não parou de chorar.

Shownu abaixou do meu lado e me abraçou enquanto Yang depositava um punhado de terra também. Suas mãos trêmulas jogaram uma rosa branca sobre o tampo do caixão e o coveiro começou a jogar pás de terra. Hyunwoo me acolheu em seu peito quente, revestido por um terno e roupa social preta. Minha calça jeans surrada e minha blusa de manga longa fina, mesmo preta, representando meu luto, não conseguiam fazer esse trabalho tão bem quanto eu queria.

Por que as coisas são assim? Por que as pessoas morrem? Sofrem? Choram? Por que o mal existe? Por que dizem que o bem sempre ganha, mas sempre tem um, porém? O porém são pessoas como Harry, Laila, Penélope, Jack e até mesmo Luise. Talvez essa história pudesses ter tido um final feliz com todos vivos. Talvez se Jack tivesse me assumido quando eu era um bebê e não tivesse entrado nessa vida de crimes... Mas aí... Só aí eu me dei conta que Hyunwoo não estaria nela. Nessa vida ideal é perfeita em minha mente. Não conheceria em um café aleatório uma Maya e uma Phoebe, não conheceria Kihyun, Hoseok, Hyungwon, Jooheon, Changkyun e Minhyuk, Yang, a senhora Jung; Harry não existiria, algo bem mais doloroso.

Essa história feliz não me ensinaria o que a amar de verdade. Não amar só por dizer, mas aprender a amar na prática, no convívio da mesma casa, da mesma rotina, de beijos roubados e casamentos não planejados. Não me daria o meu grande amor, apesar de todas as traições, muito menos uma família especial como essa. Isso parece o fim, mas há tanta coisa a percorrer ainda antes de colocar a palavra em questão: fim. Fim é muito finito, parece que depois dali tudo acaba, mas depois da morte há sempre um novo começo. Harry vai voltar de alguma forma, em uma nova vida, eu sinto, e quem sabe poderá vivê-la talvez melhor e mais proveitosamente do que essa.

Depois de cobrirem com o tapete de grama, Shownu me ofereceu o pequeno buque de lírios. Não entendo como eu ainda sinto apresso por flores tão cruéis, é como eu sempre digo, as aparências enganam, lírios são tão esplêndidos que jamais imaginei que em sua essência pudesse existir um veneno mortal, segundo Chung-ho. Depositei um sobre onde Harry está enterrado agora, um sobre Luise, um sobre Jack - Com um sussurro de perdão saindo dos meus lábios de forma inconsequente - um sobre Laila e um sobre Penélope...

HOPE - Monsta XOnde histórias criam vida. Descubra agora