CAPÍTULO 7

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Ao entrar no quarto uma onda de arrepios percorreu minha espinha, senti a falta do ar entrando em meus pulmões, e ali estava ele. Quase irreconhecível, deitado naquela cama, cheio de aparelhos ligados a si.
Agora eu entendo a raiva de Dona Rita, pois eu estou me odiando neste momento.
Ao me aproximar vejo cortes profundos devido aos estilhaços de vidro em seu rosto antes forte e curvilíneo, agora magro e pálido.
Sinto uma dor profunda no peito e uma ardência nos olhos, me contenho para não chorar.

Henry abre os olhos e me assusto com aquilo, pois não esperava e não sei como  reagir, mas faço uma pose de durona como sempre fiz. Ele não pode me ver abalada.

— O-oi.— gaguejo e me repreendo por isso. Pego em sua mão que está mole, e fico olhando para ela, não tenho coragem de olhar em seus olhos, sinto vergonha.
E assim eu fico por alguns segundos ou talvez minutos, me sinto péssima por não saber o que lhe dizer. Aí me lembrei que trouxe a nossa caixinha de fotos.
Peguei a caixa em mãos.

- Olha só o que eu trouxe. - dei uma animada e sorri para ele, agora olhando em seus olhos verdes. E por algum motivo vi um brilho surgir neles, pode ter sido apenas coisa da minha cabeça, mas me motivou.

Comecei a contar nossas histórias, primeiro peguei uma foto de quando éramos apenas dois pirralhos, quando meus pais conheceram os de Henry e pela primeira vez nos vimos naquele jantar da empresa onde eles trabalhavam.

—Eu tinha 8 anos e você 10, se lembra?— eu sorri e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha que insistia em cair diante dos meus olhos. — Você estava lindo naquele terninho engomado, não gostei de você de cara — sorri novamente e por dois segundos desviei o olhar lembrando da cena — pra mim você era mais um garotinho metido a besta, mas não pude negar que era muito bonito.

Henry me olhava atentamente, mas indiferente, inexpressivo como se me visse mas não soubesse do que eu estava falando, e isso me machucou de uma forma inexplicável, aquela motivação de poucos minutos atrás ia se esvaindo, mas não podia permitir que isso acontecesse.

— Nesse dia você me mostrou como era exatamente o oposto do que eu pensava e nós brincamos a noite toda. Simples assim, ignorando que era um jantar de gala importante.

Depois peguei outra foto, quando Henry aos 15 anos me deu o primeiro beijo e nossos pais tiraram uma foto minutos  depois, porém eles não faziam ideia do que tinha acontecido.

— Essa foi tirada minutos depois do nosso constrangedor primeiro beijo, você não tem noção do quanto eu fiquei vermelha, — ri— a você tem sim, está vendo essa foto — a ergui e apontei pra ela — meu rosto está um pimentão, garças a você.

Esperei uma reação, mas foi em vão.

Tinham muitas fotos, muitas histórias, mas eu queria uma gargalhada vinda dele ou apenas um sorriso bobo.
Mas não recebi nada além de um olhar inexpressivo, como se ele não estivesse ali por inteiro, como se estivesse viajando em outra órbita.

Eu queria Henry de volta, isso seria pedir muito?

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⏰ Última atualização: Aug 08, 2017 ⏰

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