O mundo dos mortos era visto pelos vivos como o paraíso ou como o inferno. Porém, não há de fato um local onde ficam somente as almas boas ou más, o mundo dos mortos na realidade era o mesmo mundo que o dos vivos. A única diferença era que os vivos não viam os mortos, e que vivos não poderiam tocar em mortos, mas mortos poderiam tocar em vivos e usar objetos do mundo dos vivos.
Para Kymbra isso era extremamente interessante, ela passava a maior parte de seu tempo observando os vivos de longe, cativada por suas vidas, por mais monótonas que fossem. A garota enxergava vivos e mortos como poesias, cada um escrevendo seus próprios versos e estrofes do destino.
Já Mark, invejava os vivos, não que os odiasse, porém se sentia triste por não ter um coração pulsando e pulmões que necessitavam de oxigênio. Para ele os vivos tinham muita sorte, e os mortos eram apenas uma memória do que um dia foi realmente algo, em outras palavras, os vivos são perfeitos e os mortos são o lixo da Terra.
Em quanto essas duas almas tinham pensamentos diferentes em relação aos vivos e mortos, Morte sempre fazia questão de ter certeza que eles estavam bem. Kymbra dizia que a figura encapuzada não precisava se preocupar, os dois já morreram, não tinha como algo de pior acontecer. Porém, Morte tinha o conhecimento de algo que nenhum morto ou vivo tinha, de fato as almas no mundo dos mortos era praticamente imortais, praticamente, haviam diversas maneiras em que almas poderiam deixar de existir completamente.
Nem mesmo a própria Morte estava segura, por mais que a hipótese parecesse absurda, a Morte poderia morrer... Não realmente morrer como os vivos, mas ela poderia desvanecer e se isso acontecesse, ninguém mais morreria e o mundo dos mortos e o mundo dos vivos iriam ser destruídos. E este era o pior pesadelo para todas as criaturas que sabiam de sua existência.
Bem, quase todas. Uma criatura em especial queria ver a Morte desvanecendo e o mundo dos mortos e vivos sendo destruído, está criatura era o Tempo, um antigo amigo da Morte, agora um grande inimigo. A rivalidade entre esses dois seres já se trazia a muitos e muitos milênios, diferente de Tempo, Morte evitava os conflitos que poderiam haver entre eles, não porque era sua vontade, mas para não magoar a Vida, a antiga paixão de Morte.
Mas não é só porque tentamos evitar os problemas que eles vão desaparecer. Tempo ainda guardava grande rancor de Morte, e durante muito tempo planejou tudo para que a figura encapuzada desvanecesse de uma vez por todas. Para a infelicidade de todos, o plano foi colocado em ação agora.
#######
Morte passava grande parte de seu tempo tendo certeza que todas as almas no mundo dos mortos estavam bem, pelo menos era isso que ela dizia para si mesma, pois observa mais Kymbra e Mark do que qualquer outra alma no mundo dos mortos. Já a outra parte do seu tempo, que seria destinado para se acalmar ou treinar feitiços era gasto com suas duas almas favoritas.
Depois da morte de Mark, a conexão entre as almas se quebrou, então Kymbra e o garoto não precisavam estar sempre perto um do outro, porém isso não importava para os dois, eles já haviam se separado uma vez no mundo dos vivos e agora que estão juntos no mundo dos mortos, nada vai os afasta-los.
No momento, Morte estava no seu castelo, o qual só poderia ser visto por criaturas que entravam no mundo dos mortos. Kymbra e Mark estavam lá também como de costume, ouvindo uma das várias histórias que a figura encapuzada tinha para contar, ela sabia sobre toda a vida de todas as almas que já existiram algumas de pessoas famosas e importantes, outras de pessoas com uma vida pacata e simples.
Os olhos castanhos de Kymbra estavam brilhando, encantados com cada palavra que Morte falava. Mark no entanto, não estava tão interessado assim na história, seu olhos verdes só se concentravam na garota ao seu lado, seu coração inchava quando via que Kymbra estava feliz e segura.
- Quando eu o trouce para o mundo dos mortos, senti que estava fazendo um favor aos seres vivos em tirar uma alma podre como a dele de seu mundo e pena do nosso mundo por termos que conviver com ele. – Assim Morte terminou sua história sobre a alma de um homem muito maldoso que causou um grande mal aos vivos.
- Você poderia contar mais uma história? É tão incrível poder saber sobre a vida e morte das almas! – Kymbra praticamente implorou para a figura a sua frente.
- Adoraria contar querida, porém essa foi a sétima história que contei para vocês hoje.
- Na realidade foi a decima. – Corrigiu o garoto de olhos verdes, que estava desesperado para uma pausa de tantas histórias.
- Tanto faz, eu só quero saber mais! – Disse a garota animada.
Morte sorriu para os dois e se direcionou para uma das paredes do castelo, com um movimento de suas mãos o ambiente onde estavam mudou completamente. Antes estavam no salão principal do castelo, e agora se encontravam na biblioteca, com estantes gigantescas, que davam a impressão de serem infinitas, todas recheadas com livros grossos, alguns com uma aparência nova e outros quase se transformando em poeira.
- Kymbra, como sei que você adora ler assim como ama ouvir as histórias das almas que existem na Terra, permitirei sua entrada em minha biblioteca de almas.
A figura encapuzada estendeu a mão para a garota e a ajudou se levantar. Kymbra mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo, aquilo era um sonho se tornando realidade, não havia mais nada no mundo que amasse tanto quanto ler, bom talvez escrever seria algo que amasse mais que ler, porém isso não vem ao caso no momento.
- O que são todos esses livros? - Perguntou Mark.
- Cada livro é a história de uma alma, dentro e fora do mundo dos mortos e vivos. Estes livros estão sempre continuando, sem um final real. Aqui vocês poderão encontrar a história de todas as almas que existiram na Terra. Não costumo deixar ninguém além de mim entrar nesta biblioteca, porém Kymbra parece ser muito interessada com a vida e morte dos outros, eu não posso estar a todo o mento contando essas histórias e além disso não tenho todos os detalhes, então agora vocês podem ver quantas histórias quiserem e quantas vezes quiserem.
Kymbra nada disse, só abraçou Morte com força. No primeiro momento, a figura encapuzada se ficou sem reação, mas logo envolveu seus braços ao redor da garota, já faziam milênios desde a última vez que outro ser demonstrou algum tipo de afeto para a coletora de almas. De repente, Morte se sentiu como se algo perfurasse seu coração, seu corpo ficou mole nos braços de Kymbra, que foi a única coisa que evitou que a ceifadora caísse no chão.
- Morte? O que foi? – Perguntou Kymbra, ajudando sua amiga a deitar-se em um dos sofás que havia na biblioteca.
- Chame Shimera... Rápido... – Sussurrou Morte para garota que segurava sua mão com força.
Sem tempo a perder Kymbra correu para fora da biblioteca e foi atrás de Shimera, a fiel ajudante de Morte, uma das almas mais velhas que existe no mundo dos mortos. Em quanto corria, a menina não podia parar de pensar na possibilidade de perder sua grande amiga, mesmo achando esse pensamento ridículo, achando que Morte não poderia morrer, a preocupação não iria embora.
Depois de correr muito, encontrou Shimera no jardim no castelo, olhando a roseira com todas suas rosas vermelhas desabrochadas. Kymbra mentalmente se repreendeu por não ter procurado no jardim em primeiro lugar, ela sabia muito bem que o lugar favorito da ajudante era o jardim ou qualquer ambiente com muitas árvores e flores.
Chegava a ser engraçado olhar para Shimera no meio de tantas flores coloridas, ela não parecia o tipo de pessoa para isso. A mulher pouco sorria, seus cabelos loiros contrastavam-se com sua pele escura, os olhos azuis gelados e os lábios sempre pintados de vermelho, passavam a impressão que ela era uma pessoa fria e insensível.
- Shimera!
- Oh, o que aconteceu de tão grave para você estar assim Kymbra?
- É a Morte, ela não está bem!
- Como... Leve-me até ela.
As duas mulheres se dirigiram até a biblioteca, quando chegaram Morte estava pior do que antes, seus olhos roxos estavam perdendo o brilho, os cabelos laranjas ficando cinzas e sua pele negra parecia estar se desaparecendo. Mark logo ao lado dela, segurando sua mão sem saber o que fazer.
Assim que a ceifadora colocou os olhos em sua ajudante, estendeu sua mão para ela. Shimera logo foi ao lado de Morte, e com todo o cuidado observou cada coisa que estava fora do normal com a coletora de almas. Em quanto isso, Mark e Kymbra esperavam, com medo do que a loira poderia dizer para eles.
- Como você está se sentindo? – Perguntou Shimera para Morte.
- Algo... Perfurando meu... Coração... Não sinto... Minhas mãos... – Respondeu a ceifadora, fazendo um grande esforço.
- Consigo sentir uma magia, muito forte, dentro do seu corpo. Uma magia que a muito não sentia.
Shimera parecia estar falando consigo naquele momento, muito concentrada para reparar no mudo ao seu redor. As duas almas junto da ceifadora e da ajudante estavam confusas e com medo, como uma magia poderia estar causando tanta dor no corpo de Morte e por que alguém faria isso com sua amiga?
- Uma magia?... Só tem uma criatura... Que pode ter feito isso... – Afirmou Morte.
- Sim... Parece que ele veio se vingar. – Disse Shimera, concordando com a outra.
- De quem vocês estão falando? – Kymbra já estava cansada de se sentir inútil e confusa naquela conversa inteira, então decidiu tentar entender melhor o que estava acontecendo.
- Estamos falando do Tempo. Uma criatura muito poderosa, capaz de matar tudo e todos. Até mesmo Morte. – Esclareceu a ajudante.
- Existe algo que podemos fazer para ajudar? – Mark estava desesperado para ajudar, sabia muito bem que se algo acontecesse com Morte, Kymbra iria desmoronar.
- Sim, existem duas coisas que poderiam ser feitas, porém no momento só podemos recorrer a um desses métodos. Teríamos que coletar os Sete Objetos Mortais. – Respondeu Shimera.
- O que são esses objetos? – Perguntou Mark.
- Para entenderem melhor vamos terei que os levar para outro lugar. Mas não podemos deixar Morte sozinha, não nas condições que se encontra. – Shimera ainda presava pelo bem de sua amiga mais do que tudo.
- Eu... Posso ficar... Sozinha por algum... Tempo... Vão logo. – Morte parecia repreender Shimera por sua preocupação.
Obedecendo a ceifadora, Shimera guiou as duas almas pelo castelo, passando por muitos corredores e salas até chegarem em uma escada que descia até um lugar realmente muito escuro e macabro. A ajudante desceu as escadas com calma, receosos, Mark e Kymbra a seguiram Shimera.
YOU ARE READING
The Seven Sons of Death - Part 1 (+14)
Adventure"Desde de o dia em que nascemos a Morte nos acompanha, observando ao longe nosso progresso para encontrá-la" Há muitos anos houve uma guerra entre a Morte e o Tempo. A batalha durou muitos e muitos milênios, até que Tempo saiu vitorioso... Mas...