A irmã

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✴✳ Parte Rodrigo:✴✳

A viagem inteira eu havia pensado em tudo e em nada a mesmo tempo, em um mês havia  perdido a minha mãe, minha casa, minha escola, minha cidade e talvez minha sanidade. O Marcos, o meu pai, havia falado que a vó Carmem e o vô Luiz iam me aceitar super bem, e que o problema seria a Meri, minha irmã, ele vivia falando nela, que era impulsiva, sentimental, teimosa, sensível, tudo ao mesmo tempo, e sinceramente, estava com muito medo da reação dela, uma menina mimada e única, como agiria em relação a mim?

Bom, até agora as coisas estavam indo bem apesar dela não querer jantar conosco a amiga dela era muito divertida e os meus avós também, estava tudo em paz, fomos pra sala, conversamos, contei sobre minha infância pobre, mas feliz, Clara resolveu ir embora e vovó me mostrou um álbum de família parecido com o que eu havia trazido na mala com todas as minhas coisas, nunca havia passado fome, mas não era tão rico assim, meu pai e o vô Luiz ficaram conversando enquanto a vó Carmem me levava para conhecer a casa, que por sinal era muito linda e grande. Ela era uma senhora muito bonita, sem vaidades, uma daquelas vovós de filme, mas quando eu perguntei ela me afirmou que não fazia tricô porque era coisa de velho. Ri, ri muito, ela me mostrou alguns quartos de hóspedes, uns três e disse que eu podia ficar com o maior, tinha uma janela que dava para as ruas iluminadas de Belém, me contou que havia um Shopping não muito longe, acho que o nome era Boulevard e que de manhã iríamos lá comprar algumas coisas pra deixar o quarto com a minha cara. Levei minhas malas lá pra cima, e enfrente ao meu quarto tinha uma porta que eu imagino que seja do quarto da Meri, depois vou falar com ela pensei, depois.

Tomei banho e coloquei um short que tinha na mala, abri a porta do meu quarto e bati na porta da frente.
Eu ouvi um pode entrar, então entrei.

-Oi- falei, e minha voz saiu mais fraca que esperava, abri a porta e me deparei com um quarto incrível, realmente muito bonito com uma varanda pequena, mas bonita, só era mais simples que o quarto dos avós.- Podemos conversar?

- Sim- eu a vi levantar e ir pra varanda sentar em uma cadeira com uma bem ao lado e uma mesa em frente, ao olhar, a vista era linda, todas aquelas luzes me lembravam o Rio de Janeiro, eu estava feliz por estar ali.

- Bom Meri, conte-me sua vida nos últimos, 15 anos?

-16, pra falar a verdade.

- Hum, desculpa ae.- Ela deu um riso fraco, ela era muito bonita, lembrava extremamente o nosso pai.

-Tudo bem, sabe Rodrigo, eu não ter ficado pro jantar hoje não foi por sua causa, são meus problemas com o papai, tá?

-Relaxa, ele bem que me falou que você era meio difícil.

- Meio? Kkkkk, sou muito difícil!

- Acho q eu tenho um desafio pela frente.

-É, acho que tem.

- Eu sempre quis ter uma irmã, sabia? Vivia pedindo uma pra minha mãe, antes dela, você sabe, morrer.

-Meus pêsames. Mas pelo menos tu conheceu tua mãe, eu nem isso pude fazer.

Senti uma dor horrível no peito e uma lágrima insistiu em cair.

-Você está chorando? Nossa! Vem aqui.

Ela me abraçou bem apertado, como se já tivesse sentido essa dor. Naquele momento eu fui melhor consolado desde que minha mãe morreu, ela simplesmente me abraçou, um simples gesto tirou de mim uma carga enorme.

-Como ela morreu?

-Morreu de dengue, dengue hemorrágica. Maldito mosquito!

-É uma doença que pode ser evitada.

-É se acabar com os focos do mosquito, mas isso não acontece.

-Então, porquê você veio aqui?

-Bom, acho que queria te conhecer,né?

-É. Papai deve ter falado coisas horríveis de mim!

-Disse que você era um pouco difícil, mas eu entendo.

-Não quero que me entenda, só que me aceite.

-Eu acho que seremos bons irmãos.

Ela olhou para o céu e sem olhar pra mim falou:

-É, talvez sejamos.

Ficamos um tempo sem falar nada, apenas olhando para o céu estrelado.

-Você não tem vontade de sair daqui?

Perguntei pra ela

-Não, gosto dessa cidade, sair daqui só para viajar.

-Eu tenho vontade de viajar pelo mundo todo.

-Mas uma hora você vai encontrar uma pessoa que te faça ficar, aí você vai saber que todas as suas viagens, todas as suas experiências, todas as suas conquistas, só serviram para te levar até ali, para conhecer aquela pessoa e viver aquele momento.

-Você já pensou em ser escritora?

-Já, mas sou dramática demais, meus livros seriam iguais as nivelas mexicanas.

-Eu gosto das novelas mexicanas.

Ela me olhou, depois virou a cara e falou rindo:

-Sabia que você tinha uma cara de Maria do Bairro.

Ri, depois falei:

-Depois dessa vou dormir

Fui saindo da varanda.

-Boa noite Meri.

-Boa noite Rô.Posso te chamar assim né?

-Só em casa, é meio gay.

Ela riu

-Tudo bem Rozinho.

Sorri e saí do quarto. Fui para o quarto e logo dormi, a cama era confortável e eu estava cansado. Era como se fosse ali que eu precisava estar. Talvez fosse ali que eu precisava estar.

A Luta De MeriOnde histórias criam vida. Descubra agora