Emma nunca vira Regina dormindo, mas por vezes gostava de imaginá-la. Perguntava-se se a garota parecia um anjo, se sua expressão era serena, a respiração leve. Se falava coisas sem sentido, se conseguia passar a noite inteira do mesmo lado da cama, se levantava no meio da noite para comer algo ou apenas tomar um copo de leite, se não se importaria em abraçá-la quando os trovões dominassem os céus, só para afastar seu medo.
Contudo, não poderia contar com seu caloroso abraço nas noites de tempestade. Não mais.
Ver as curvas do corpo de Regina, envolto por um grosso e escuro lençol, foi como ser atingida no coração por centenas de balas de canhão de uma só vez. Era surreal só pensar naquilo, mesmo aproximando-se cada vez mais daquela maldita maca e a enxergando de forma tão nítida como sempre, uma voz em sua cabeça insistia em convencê-la que aquela imagem não passava de uma ilusão, talvez mais uma parte de seu terrível pesadelo.
Passaram-se alguns minutos onde a garota não fez outra coisa senão mergulhar na escura imensidão do negro tecido, seus olhos congelaram enquanto ela ainda tentava organizar uma mente confusa. Foi quando finalmente se deu conta de onde estava e a realidade bateu em sua face com tanta violência, que resolveu olhar.
Puxou o lençol e visualizou seu rosto, onde havia alguns cortes. O sangue parecia ter sido limpo e sua pele estava extremamente pálida, ainda mais do que da última vez em que a vira, quando seu coração ainda batia fracamente. De fato, aquela era uma das únicas coisas diferentes nela, achou que parecia um anjo mergulhado em sono profundo e qualquer um que a olhasse naquele momento poderia pensar o mesmo.
"Regina..." Menos que um sussurro saiu de sua boca. Ela só sentia essa agonia no peito, mas nenhuma lágrima vinha até seus olhos, talvez todas já tivessem secado.
Percebeu que a mão dela estava fria assim que a sua a tocou, e era muito estranho sentir o peso que ela parecia ter ganho. Um pouco acima, em seu pulso, estava a pulseirinha semelhante a que a própria Emma usava. Ao ouvir o barulhinho que ela produzia, a garota se lembrou do dia em que teve a brilhante ideia de utilizá-las para transmitir pequenas mensagens.
"Estava conversando com Hermione." Regina revirou os olhos, odiava aquela garota e sua constante necessidade de se mostrar ao mundo. Também odiava a forma como Emma parecia adorá-la, jurava para si mesma que não era ciúmes e mesmo assim sentia essa raiva.
"Ah, qual é? Ela é legal!" Continuou. Percebia agora o olhar levemente irritado da outra garota. "Me ensinou uma coisa incrível que até você vai gostar." Tirou do bolso das vestes duas pulseiras douradas e as segurou em frente à menina enquanto sorria triunfante. A outra permaneceu observando-a com um olhar confuso no rosto.
"Ensinou a transfigurar bijuterias em joias? Isso é muito útil se você quer ficar rica--"
"Não! Olha só." Nisso, puxou a varinha e apontou para uma das pulseiras, murmurou alguma coisa que parecia ser um encantamento, mas nada aconteceu. Regina começou a se perguntar se aquilo era o que ela pensava que era, e não podia acreditar que Emma surgira com essa ideia antes dela, que já havia lido sobre aquele feitiço centenas de vezes.
"Droga!" Exclamou por fim, ao ver o resultado falho.
"Suponho que isso não deveria acontecer..." Voltou a ajeitar sua gravata verde e cinza. Ambas estavam no armário de vassouras e ela só tinha no corpo metade de suas vestes. Regina não disse nada sobre conhecer aquele feitiço, por dois motivos. O primeiro era que nunca conseguira executá-lo da forma correta, por alguma razão que ainda desconhecia. O segundo era que não gostaria de estragar a surpresa, a qual tinha certeza que Emma passara horas preparando. Ela provavelmente já havia conseguido ótimos resultados, e tentava repeti-los ali em sua frente, só o esforço já lhe provocava felicidade.

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A Maldição Imperdoável
Fiksi PenggemarJunho, 1997. Tudo andava aparentemente normal na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Dolores Umbridge havia sido mandada embora do cargo de diretora alguns meses atrás, e assim Dumbledore estava de volta. Apesar da ameaça que Lorde Voldemort rep...