Contos pra acabar - 6º ANO 2017 - O ano que não vai terminar...!

CONTO IV - Acampamento Corujas ou os melhores dias se foram?

- No meu Google Maps, está marcando uma hora e quarenta e três minutos até o Corujas! – Pietra Lellis anunciava para Mariana Bernardes.

As duas amigas costumam viajar juntas para o acampamento Corujas, em Itu, todas as férias – julho e janeiro religiosamente. Desta vez, contudo, a viagem teria a companhia de quase todos os alunos do sexto ano do Liceu Jardim!

- O que será que vai ter de diferente desta vez? – Mari achava impressionante a criatividade dos organizadores do acampamento. Sempre eles vinham com alguma novidade, além das atrações já consagradas, como os jantares temáticos, o "dia da fogueira" e outros eventos.

- Mal posso esperar! – animava-se Pi, lembrando de tudo que já havia vivido em temporadas anteriores.

Às 17h20min precisamente, o motorista do ônibus deu a partida no motor e já era possível sentir o deslocamento do veículo. Na parte de fora, em frente à portaria principal da escola, muitos pais amontoavam-se para dar tchau aos seus filhos! Atrás do primeiro ônibus, outros três também já ganhavam os primeiros metros!

***

O 6ºE, sala de Pi Lellis e Mari, era uma turma bastante animada! Ao longo do caminho, não houve um só instante de silêncio. Tocaram-se, nas caixinhas de som que haviam sido trazidas, as principais músicas do momento, além é claro, de terem sido realizadas todas as brincadeiras possíveis para uma viagem de aproximadamente uma hora e meia.

Enzo "Xingu" comandava o movimento da turma do fundão; Pietra Navarro conseguiu aumentar sua capacidade de enfileirar palavras em 75%, o que fez com que Arthur, Malu e Nicole, seus companheiros de banco, reduzissem suas respectivas capacidades de audição nos mesmos 75%; Felipe Prometti preencheu o tempo de seus amigos, propondo, ao longo de toda viagem, três enigmas macabros.

- Enzo, Zapparoli e Shinohara, o próximo enigma é o seguinte: uma mulher solitária se joga de cima de um edifício comercial. No instante em que vai cair no chão, ela se arrepende de ter pulado*. O que aconteceu?

Os meninos, assim como boa parte do ônibus, ouviram intrigados o anúncio do enigma que provavelmente os acompanharia na última parte da viagem.

- Lembrem-se: para resolver, vocês podem me fazer até 50 perguntas cujas respostas sejam do tipo sim ou não. – Prometti disse cada uma das palavras do enigma bem devagar, porque gostava de saborear as expressões faciais de desafio e de dúvida dos amigos.

No banco ao lado dos meninos, Raquel e Gabi Orbetelli comentavam que seria mais um enigma indecifrável. Tendo ouvido a nova proposta de Prometti, do meio do ônibus, Silvestre gritou:

- Ela estava triste com alguma coisa do trabalho?

- Não!

- Estava triste com alguma coisa da família? – Lu Nakamura arriscou.

- Não!

- Estava doente? – perguntou João.

- Também não! – Prometti respondia, exibindo sua satisfação pelas perguntas distantes que a turma ia lhe fazendo.

E assim a viagem passou até chegarem às portas da fazenda onde estaria localizado o acampamento.

***

19h! Pi Lellis e Mari Bernardes não escondiam a ansiedade. Não se tratava apenas de revisitar um lugar de que gostavam tanto. Não era apenas isso. Era, sobretudo, o fato de que elas poderiam viver, mais uma vez, a experiência do acampamento, acompanhadas de seus amigos de turma e de escola. Isso era inédito e também era o máximo! Finalmente todos conheceriam os monitores mais animados do mundo, e também o lago sem água, e as duas baladinhas a que teriam direito, e as atividades esportivas, e as atividades culturais e um monte de outras coisas! Que os portões se abrissem para deixar esse grande sonho se tornar realidade!

***

Olá, sexto ano E, sejam bem-vindos ao acampamento Corujas. Vocês terão os melhores sete dias da vida de vocês! – anunciava o Tio Passa.

Meninos e meninas do 6ºE já estavam sentados no salão principal. Aparentemente as bolsas já haviam sido levadas para os chalés que abrigariam cada grupinho de alunos.

- Daqui a pouco, de acordo com a nossa comunicação de rádio, chegarão os outros sextos e nós começaremos a primeira atividade!

- O que será que vamos fazer primeiro? – pensava em voz alta Lorena. Maria Clara e Beatriz logo aproximaram-se da garota para responder aquilo que achavam... Lucca, Renan, Tiago, João, Marcelo e Matheus queriam muito conhecer o lugar – as quadras, as piscinas etc; Isa Catellan, Gabi Carnevali, Aninha e Clara discutiam as fantasias que haviam comprado para o jantar temático de Harry Potter; Mendes, Gabriel Farias e Murilo Earth estavam interessados na hora do futebol!

Após os primeiros momentos de animação, contudo, sentados ali, ainda no salão principal, Pi Lellis segredou no ouvido da amiga:

- Mari, você não está achando tudo um pouco estranho?

Na verdade, Mariana estava achando tudo muito estranho até ali. Em geral, a chegada de todos os ônibus de acampantes era muito bem sincronizada. Em nenhuma das onze vezes em que haviam ido, lembrava-se de ônibus retardatários. Pelo contrário: fazia parte da mágica do lugar o início arrebatador das atividades a partir do exato momento em que saíam de dentro dos ônibus e eram conduzidos solenemente até o salão principal, que, naquele momento, já deveria estar decorado com o grande tema da temporada. Além disso, Mari estranhou também o tom de voz do Tio Passa, pois já conhecia aquele monitor e sabia que ele não estava se comportando de forma natural. Das duas uma: ou a organização do acampamento estava preparando uma super surpresa ou...

- Você acha que tem alguma coisa estranha acontecendo? – Mari devolveu a pergunta de Pietra com outra questão e os olhos arregalados.

- Não... o que poderia ter acontecido? – Pi tentava-se convencer de que a primeira hipótese da amiga era a mais coerente. – Estamos onde queríamos estar com nossos amigos de escola e nada pode dar errado!

- Senhoritas, vocês estão precisando de alguma coisa? – Curiosamente Tio Passa disparava aquela pergunta como se não as conhecessem e o que era ainda pior: o monitor utilizava um tom de voz de repreensão, coisa que nunca havia acontecido até então...

Antes, contudo, que entendessem o que estava acontecendo e o que deveriam responder, algo surpreendente se passou: a luz do acampamento acabou, deixando a turma e o salão principal completamente às escuras.

Em um primeiro momento, Prometti e Silvestre puxaram a gritaria de animação, imaginando que aquela queda de energia poderia dar um tom ainda mais épico para o início do acampamento. No entanto, passada a euforia, as crianças ouviram, em alto e bom som, uma voz que os intimidou:

- Alunos e alunas do 6ºE, bem-vindos ao acampamento Corujas! Eu sou o Senhor Corujas!

Pi Lellis e Mari estavam oficialmente apavoradas. Elas sabiam que simplesmente não existia nenhum Senhor Corujas e estavam convencidas de que algo muito ruim estava para acontecer. A voz continuava:

- Aqui vocês viverão seus melhores dias! Só que não... Espero que aproveitem cada segundo, porque, não tenho dúvida alguma disso, eles serão os últimos da vida de vocês!

*Enigma retirado da caixa Black Stories – 50 enigmas macabros.