Capítulo I

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Complexo CRUEL

Ano 1017 P/C

Dia: 6892

06:00 am


"Bom dia, Newton. Hora de levantar."

Abro meus olhos no instante em que Harriet, o computador de bordo do meu quarto, ressona as primeiras e poucas palavras do meu dia.

- Bom dia, Harriet. Horário? – questiono espreguiçando-me.

"Seis horas e um minuto. Hoje é quarta-feira, dia 6892, semana 984, mês 226, 165410 horas, 9924600 minutos e 595476057 seg...".

- Eu só perguntei o horário, Harriet, obrigado. Desligar comando – corto o computador de bordo e me levanto, seguindo para o ritual de cada dia.

Após um rápido banho que me custou 5 mil pontos, caminho até o local do café da manhã.

- Bom dia, Newt. O que vai querer hoje? – o garoto do refeitório questiona.

- O mesmo de sempre, Caçarola. Qual meu saldo? – estico meu pulso para que ele veja no laser quanto esse café vai me custar e o quanto terei que trabalhar para repor o que gasto.

- Você tem 57 milhões de pontos, menos o seu café ficará com... – ele faz uma pausa, checando as máquinas. – Cinquenta e seis milhões e novecentos.

- Ok – respondo sorrindo, ganhando minha bandeja e seguindo até as mesas no canto leste do refeitório.

Como rápido, praticamente socando a comida no meu estômago, afinal hoje é quarta-feira e toda quarta-feira ele vem. Ele, pronome pessoal masculino, substituto do substantivo próprio Thomas. Dirijo-me rapidamente para a sessão 250, local onde passo ao menos 12 horas do meu dia.

Um, dois, três, quatro...

Conto mentalmente as marcações no piso, chegando até minha estação de trabalho.

- Chegou cedo hoje, loirinho! – sei que Minho já está na sua estação pedalando sem parar.

Isso mesmo.

Pedalando.

Após o planeta Terra ter sido dizimado pelas explosões solares, causando praticamente o fim da humanidade e o CRUEL – Catástrofe e Ruina Universal: Experimento Letal tentado salvar a situação espalhando o vírus do FULGOR, devastando ainda mais as vidas remanescentes, lidando com a mutação dele e os CRANKS, socando pessoas imunes em labirintos para encontrar a cura, digamos que a situação agora está controlada.

Não, a cura para o FULGOR não foi encontrada.

O que os manuscritos que encontrei no meu computador de bordo dizem é que os CRANKS foram exterminados e, após o CRUEL criar um local seguro chamado REFÚGIO, a humanidade finalmente conseguiu se reerguer, porém ainda estamos nesse processo no período caracterizado por P/C – Pós Catástrofe.

Eu faço parte desse processo e as milhares de pessoas que convivem comigo também.

De todos os problemas que surgiram, os CRANKS, falando a grosso modo os humanos afetados pelo vírus do FULGOR que devoram gente,  foi o menor de todos os problemas.

A fome, o frio, a falta de energia, recursos, hospitais e tudo que possa imaginar para a sobrevivência do ser humano finalmente começou a afetar não só o CRUEL, mas as pessoas de fora dele, especialmente os imunes do REFÚGIO. Por isso nossa sociedade foi dividida em castas e somente alguns têm o privilégio de conseguir um lugar no paraíso.

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