Dezesseis.

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O trabalho, no dia seguinte, foi de uma lentidão angustiante, enquanto eu esperava. Era como se as horas estivessem engatinhando, sendo arrastadas para adiante a contragosto.

Ao chegarmos em casa, estava mais perto das cinco horas que das quatro e meia, e Lauren já me esperava na cozinha. Ela e Vero se falaram e não houve animosidade. Nem constrangimento.

Quanto a mim, fiquei ali parada, deslumbrada.

Lauren estava sem maquiagem e sem nada no cabelo, e vestia roupas normais. Nada de top justo. Nada de jeans apertados. Nada de joias, exceto a concha, pendurada no pescoço.

Mas estava adorável.

Era tão...

Puxa, não consigo explicar direito. Até hoje, não consigo.

— Bem? — Ela entrou em meus pensamentos, com sua voz baixa e seus olhos humanos. — Não vai me dar um beijo, Camz?

Levei um susto.

Com a beleza.

Com as palavras.

Vá até lá, eu disse a mim mesma, e pouco depois segurei a mão dela na minha e a beijei, depois beijei seu pulso e seus lábios.

— Ela encontrou você — disse a Sra. Cabello para Lauren. — Que bom!

Minha mãe entrou e olhou para mim, e me lembrei do que ela me dissera naquele mesmo cômodo, algum tempo antes, no início do inverno. Ela me falara sobre um irmão que um dia subiria na vida e que não devia se envergonhar. Talvez ela também estivesse se lembrando disso.

— É melhor você se apressar, Camila — falou para mim. — Acho que a Lauren já esperou bastante.

Fui tomar um banho, me vesti, e Lauren e eu saímos logo depois. Não houve recomendações para eu voltar em certo horário ou não chegar muito tarde. Nada disso. Para começar, minha família estava acostumada comigo perambulando pelas ruas, e segundo, se eu ficasse na rua até tarde demais, isso seria dito na próxima vez que eu saísse. Na minha família, cada um tinha uma chance por conta própria, e o tempo que ela duraria dependia de seu comportamento. Sarah já havia passado dessa idade fazia anos, e a Vero também estava chegando lá. Eu, por outro lado, ainda tinha que tomar cuidado, e ia me certificar disso.

— Vamos andando? — perguntou Lauren, e segurei a porta aberta. Saímos.

Tínhamos percorrido um bom pedaço da rua quando me dei conta de que não fazia a mínima ideia de para onde estávamos indo. Perguntei.

Lauren apenas continuou concentrada no lugar aonde íamos.

— Você vai ver. Não é nenhum lugar especial — disse ela.

Soou satisfeita, como se nada além de nós parecesse importar. Não naquela noite, pelo menos. Sua mão encontrou a minha e a segurou. Não houve palavras, mas não fazia mal. O sinal abriu para nós em uma das ruas e atravessamos. Tomei cuidado para não tropeçar na sarjeta.

— Por aqui — indicou ela, mais adiante, fugindo das aglomerações maiores e nos levando para um pequeno cinema em uma rua estreita e abarrotada. — Você se incomoda se entrarmos aqui? — perguntou. — Sou meio chegada a filmes antigos, e esse cinema passa algum todo sábado.

— Parece legal — retruquei.

Quer dizer, sejamos sinceros: a garota podia ter me convidado para ir ao inferno, e eu iria. De jeito nenhum eu ia discutir, por isso entramos.

A garota que eu quero (Camren | Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora