Capítulo 4

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  "Dizem que, num jogo, uma pessoa tem ou não tem o dom para jogar." -Grey's Anatomy.   


INTERNATO

{Segundo dia}

[Fernanda]

Vá, volte, ande, se mecha, suma da minha frente! Essas são as frases que mais ouço ultimamente. Me sinto esgotada tanto fisicamente como psicologicamente, eu não estava preparada para isso, na verdade acho que ninguém está, a faculdade não nos prepara para isso, não nos prepara para a vida real.

Os músculos de todo o meu corpo protestam em sinal de cansaço quando recebo mais uma ordem do Sargento.

-Vá para a emergência, faça algo de útil por lá. -ele diz e eu aceno em concordância.

Aperto o botão do elevador, espero alguns segundos e aperto novamente, ...nada do bendito chegar. O jeito é descer os cinco andares até chegar ao andar de atendimento da emergência ou ficar esperando o elevador e tomar a maior bronca da galáxia por estar demorando, então resolvo ir de escada.

Chego ofegante ao primeiro andar e tento pensar coerentemente por onde começar.

-Doutora, tem uma garota no leito cinco vomitando e queixando-se de dores abdominais. -uma enfermeira me entrega o prontuário para a paciente.

Vou até o leito cinco e puxo a cortina de privacidade e a fecho atrás de mim. Sobre a cama hospitalar está uma mulher alta, corpo esguio e curvilíneo, cabelos escuros até a cintura e olhos azuis como duas pedras de safira.

A mulher aparentava ser bem nova e muito bonita, mas o estado deplorável em que se encontrava no momento não favorecia muito sua aparência, nem mesmo as caríssimas roupas e os sapatos de salto que agora jaziam no chão, amenizavam a palidez e o suor que grudava alguns fios de cabelo em seu rosto.

-Um minu.... -ela disse com a boca dentro do balde em que vomitava.

Ela terminou me entregando o balde e se recostou nos travesseiros atrás de si. Coloquei o recipiente mal cheiroso no chão e a fitei.

-Moça, pode me dizer o seu nome? -perguntei.

-Uhum, ainda bem que eu não conheço você... -ela disse tentando me reconhecer no meio de suas memória nubladas pelo álcool. -Só não conta... p-pro meu... -ela tentava se lembrar do restante da frase.

Ótimo, a garota estava claramente pra lá de bêbada.

-Tudo bem. Mas eu quero saber o seu nome primeiro.

-Sofia. -ela resmungou rindo de algo com os olhos fechados. -Meu nome é Sofia. -ela repetiu.

-Certo Sofia, o que você está sentindo?

-Uma droga de dor no coração...

-Que tipo de dor? -perguntei enquanto anotava tudo.

-Uma assim... beeem grande. -sua voz estava enrolada.  -Do tipo que te faz querer morrer. Aquele cachorro diz que me ama, mas no fundo só consegue me deixar triste... e chateada. -seus olhos marejaram.

Fiquei com um pouco de dó da garota, mas começava a ficar irritada com ela, porque caramba, eu estava trabalhando!

-Sofia, que tipo de dor física você está sentindo? No seu corpo, onde dói?

-Ah. Meu estômago, tá doendo horrores.

-Ok. Vou tirar seu sangue, fazer alguns exames e medica-la, está bem? -perguntei ao colocar as luvas e verificar seu abdômen.

Subordinados -Os Bertottis #2-DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora