Centralia, 1790.
Uma bela mulher estava sentada na cama olhando várias bonecas jogadas pelo quarto, mas estas não estavam espalhadas só pelo quarto e sim por todo o casebre. Bonecas de porcelana, estranhas com diferentes tipos de cabelos e roupas, no entanto havia algo de similar entre todas elas, no lugar dos olhos e da boca havia apenas um riscado vermelho, como se a pessoa que as criou ficasse com raiva do resultado e simplesmente riscasse um X enorme onde deveria ficar os olhos e a boca.
A sensação da morte estava impregnada naquele casebre escuro. Apesar de ser noite, as cortinas pretas estavam todas fechadas, nenhuma luz entrava ali, nem mesmo um pequeno raio de sol se atreveria a se esgueirar por aqueles escombros durante o dia. O local não estava nem um pouco arrumado, cadeiras jogadas no chão, copos quebrados, retratos tortos e caídos, espelhos totalmente destruídos, mobília velha e suja de pó.
A mulher que estava sentada na cama olhando para aquilo tudo tinha cabelos compridos, negros com mechas roxas e olhos estranhamente azuis. Era um azul que beirava o branco, mas não deixava de ser lindo. O olhar frio, como se não tivesse nenhum sentimento brilhava no escuro. Lábios vermelhos e a pele branca. Seios médios, mas coxas fartas e bumbum arredondado. Ela usava um vestido gótico sem mangas roxo e preto bem longo indo até os seus pés. Usava também uma bota preta cano alto e dentro da mesma guardava uma adaga. Nas mãos usava uma pequena luva também preta com alguns detalhes, mas que deixava os dedos à mostra com suas unhas pintadas de preto. E nos olhos, uma bela maquiagem roxa destacando seus olhos.
Levantou-se da cama passando por cima de todos os destroços e caminhando até o guarda-roupa abriu-o e mais bonecas caíram aos seus pés. Tirou algumas de lá e viu que uma das bonecas possuía apenas um dos olhos e a boca, mas essa era diferente, era bem maior do que as outras, parecida com um ser humano.
Estava toda retorcida no minúsculo local.
— Venha – chamou com sua voz fria.
O que até então se parecia com uma boneca se levantou sem nenhuma expressão no rosto e caminhou até a mulher que tinha estendido a mão para ela. A boneca pegou suavemente na mão gélida da mulher e a acompanhou até a cama. A "boneca" tinha os cabelos loiros compridos e olhos azuis. Usava um vestido preto com os babados brancos, suas mangas eram compridas e largas na ponta.
Passou a mão nos cabelos da boneca e tirou-lhes os cabelos que lhe tapava o pescoço, local onde ficou a encarar. Seus olhos azuis percorreram o pescoço da loira sentindo uma vontade enorme de mordê-la.
A morena olhou para a sala onde havia mais um monte de bonecas, uma delas estava sentada em um sofá e possuía um olho, um lindo olho verde. Os cabelos pretos e curtos, também com um vestido de babados, porém este ia até os seus joelhos.
— Sona, venha aqui.
A boneca de olhos verdes chamada Sona se levantou e caminhou até ela.
— Minha pequena Sona – falou passando a mão nos seus pequenos cabelos e levando os dedos finos até as duas marquinhas que se encontravam no pescoço da boneca. — Quer ser como eu?
— Sim, mestra – sua voz era fria como a da mulher à sua frente. Apesar de ter a boca riscada podia-se ouvir o som de sua voz, era como se sua boca estivesse ali mas aparecessem apenas os riscos vermelhos.
— Em troca o que você irá me dar? – perguntou segurando em seu delicado queixo.
— Farei tudo para você sem ao menos questionar.
— Mas isso você já faz.
— Posso trazer-lhe comida... – a mulher pareceu se interessar, mas aquilo não era o suficiente para agradá-la. — Posso te dar o meu sangue – acrescentou.
— Huum... Agora sim eu gostei – falou passando a língua nos lábios. — Seu sangue tem um gosto muito bom, Sona.
Ela não disse nada.
— Você será minha serva assim como é agora, mas para toda a eternidade – disse voltando-se para a outra boneca que estava do seu lado. — Venha cá, pequena – chamou dando alguns tapinhas em sua coxa.
A boneca se levanta e senta no colo da mulher.
— Qual o seu nome?
— K-Katy – gaguejou com medo.
— Está com medo, Katy?
Ela apenas balançou a cabeça.
— Do que tem medo?
— De ficar como eles – disse apontando para as bonecas de porcelana quebradas.
Um pequeno sorriso perverso aparece em seus lábios, levantando uma das mãos ela retira os cabelos da garota do pescoço deixando-o livre.
— Pois é exatamente assim que irá ficar – respondeu ela e pequenas presas apareceram.
A boneca arregalou os olhos, mas antes de fazer algo a morena já estava mordendo seu pescoço, sugando seu sangue, sua vida.
À medida que seu sangue era sugado, o seu último olho azul ia se apagando e formavam-se os riscos vermelhos no lugar. Passados alguns minutos a boneca tinha apenas a boca. Sua pele ia ficando dura e aos poucos virando porcelana. Instantes depois a boca foi se apagando também, formando riscos novamente. Depois de completamente apagada a garota ficou dura de vez, sua pele agora era porcelana, e sua vida esvaíra, passando para a vampira.
A morena soltou-a, fazendo com que a boneca se quebrasse quando seu corpo tocou no chão.
— Sua vez, Sona – disse novamente dando tapinhas em seu colo.
A garota sem questionar se levantou e sentou. Sona por si própria retira o cabelo do pescoço deixando-o livre para sua mestra.
— Boa garota.
O ato se repete, a mulher começa a sugar o seu sangue. No seu pescoço escorria-se um filete de sangue que escapara de sua boca.
Quando o último olho de Sona estava prestes a se apagar de vez, a vampira para de sugar e morde seu próprio pulso sugando seu sangue, mas não engoliu e sim o deixou em sua boca, filetes de sangue escorriam pelos cantos. Com uma mão ela segura o queixo de Sona e se curva demoradamente para a "boneca" no seu colo. Apesar de se parecer com uma, era provável que já tinha seus vinte anos. Raspando docilmente os lábios, ela mergulha em um beijo profundo despejando seu sangue na boca de Sona.
Durante o beijo, a pele da "boneca" vai voltando ao normal deixando de ser dura. Os olhos reaparecem, assim como a boca. Apenas vampiros conseguiam ver a verdadeira aparência por trás das "bonecas de porcelanas". Para uma pessoa comum, eram apenas bonecas com olhos e bocas estranhas.
— Diga – sussurrou em seu ouvido.
— Eu, Sona, aceito ser serva de Violet Demons.
— Contrato aceito – disse Violet com os olhos totalmente rubros.
Aquele era um contrato puro de lealdade. Um contrato que só iria ser quebrado com a morte.
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Porcelana - Rubrum Luna
VampireOBRA PUBLICADA! TODOS OS DIREITOS RESERVADOS! CAPÍTULOS DE DEGUSTAÇÃO COMPRE AQUI - http://www.lojayoungeditorial.com/home/Porcelana Nos corações dos habitantes de Centralia, vivem superstições que só poderiam existir em seus mais profundos pesadelo...