Capítulo 2

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Mamãe pegou as minha roupas e colocou tudo dentro das malas , sem me dirigir a palavra , ela continuou arrumando as minhas coisas para a viagem. Eu apenas observava ela.

No carro, mamãe continuou em silêncio, ligou o rádio e seguiu em direção a Netherby. Eu já estava dormindo quando ela me acordou e disse que havíamos chegado.
Pela janela do carro, eu não tirava os olhos da mamãe enquanto ela conversava com a Sara.

As duas se viraram e encararam para mim. Eu as encarei . Mamãe fechou a cara e Sara um sorriso falso .

Mamãe começou a falar animadamente , gesticulando muito.
Claro que estava contando, com detalhes terríveis, a proeza de sua única filha ter conseguido ser expulsa de uma escola considerada "tão boa" .

Sara morava em um pequeno chalé, no meio do nada. Um desses lugares frequentados por gente velha em suas férias chatas, ou então para os quais as mães costumavam mandar filhas rebeldes, a fim de mantê-las longe da influência da cidade.

Ela era divorciada e vivia com sua gata, Akira. Era poeta, e tinha um sebo na cidade,o greater Netherby.

As poesias da Sara eram tão ruins que davam dor de cabeça. Não passavam de um palavreado bombástico e interminável, cheio de tolices sobre a vida sexual das francesas, e os odores humanos corporais.

Coloquei minha bagagem no vestíbulo e entrei no chalé, tinha a impressão de estar entrando nesses lugares que vendem todo tipo de bugiganga. Não havia nem um espaço sequer. Pisquei várias vezes para enxergar melhor , monte de livros , caixas, pedaços de papel de parede , brigavam pela minha atenção .

- Pode ficar a vontade Hannah , minha casa é sua casa - disse Sara , que parecia estar feliz com minha presença.

- A mamãe já foi ? - perguntei enquanto continuava na sala piscando feito uma maluca .

- Sim, ela já foi, deixou um dinheiro para você , para suas necessidades - respondeu ela. Estava com várias pulseiras que quando ela se mechia , parecia um sino, daqueles com um barulho bem irritante

Sara foi até a cozinha , voltou com duas grandes xícaras de café e começou a dizer :

- Hannah , você já é bastante crescida para saber que não posso ter obrigar a ficar aqui sem sua vontade , não mando em você e nem quero mandar. Pode ir embora se quiser. Só peço que me avise antes de qualquer decisão.

Isso me deixou boquiaberta, por que durante a viagem, no carro com a mamãe eu vinha ensaiando um discurso do tipo :

você não pode me obrigar a ficar aqui. Vou fugir. Você não é minha mãe . Depois que ela me disse isso, resolvi não abri mais a boca , exatamente como eu vinha fazendo com a mamãe.

- Posso usar o telefone ? - perguntei ( mamãe confiscara meu celular ) .

Sara ficou um tempo agitando as pulseiras até dizer :

- Para falar a verdade, o telefone está cortado .

Por alguns segundos , achei aquilo ótimo. Depois aquilo me chateou. Sem TV, sem telefone, sem amigos . Nada de diversão e uma eternidade para fazer um grande nada. É, talvez algum tempo no acampamento militar fosse melhor que isso.

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