Capítulo 12

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Eu estava descobrindo muitas coisas sobre mim mesma. Quem diria que eu acabaria me transformando numa negociante de mão-cheia? Quando as pessoas compravam livros para revender ou queriam um desconto, a barganha comigo não era das mais fáceis.

Eu também estava lendo muito mais. Encontrei alguns velhos romances, que acabei gostando.

Tentei aprender francês sozinha, mas a fita cassete estava em um estado deplorável.
Um dia, Vera me perguntou :
- Você não sente falta de Londres? Quando eu tinha quinze anos, sonhava em ser uma garota urbana sofisticada.
Depois de muito tempo, pensei na minha antiga vida em Seattle:
- Sinto falta de percorrer lojas de roupas, de comer fast-food, e de estar no meio de uma multidão de desconhecidos.

- Netherby tem seus confortos e consolações - disse Vera, com um sorriso significativo.
Era reconfortante estar ali. Sarah morreria de desgosto e Akira viraria pele e osso sem minhas idas ao mercado para renovar seu estoque de ração. E existia também o James.
Eu também gostava de conviver com Vera.

Ela estava me ensinando a cortar cabelo e a fazer o coque bufante, sua marca registrada. E também me ensinou a fazer pompons.

Numa manhã de terça-feira em que eu lia tranquilamente minha coletânea de versos, a campainha tocou,continuei lendo. Estava concentrada numa poesia de William Shakespeare.
Alguém tossiu.

Olhei e vi a Alex.
Em pânico, olhei para o livro para ter tempo de pensar algo.
Talvez ela só estivesse à procura de um livro...

-Quero falar com você- Disse ela, e sua voz era tão cortante quanto uma lâmina de aço.

- O que mais tem por aqui são palavras- respondi, tentando fazê-la rir.

Se eu conseguisse, talvez ela não tentasse me matar. Agarrei-me à lombada de meu livro.

- Para de incomodar o James- Disse ela com voz gelada.

Engoli em seco e vasculhei desesperadamente meu cérebro, em busca de algo para dizer.

Incomodar? Ela não parecia nem um pouco incomodado,pelo contrário.

Mas Alex não estava com disposição para uma discussão profunda. Dobrou-se sobre o balcão, agarrou meu colarinho e disse:

- Deixe-o em paz Hannah.

- Ei, me larga- respondi fracamente, pois seus dedos pareciam ter poder sobre humanos, e perdi a estabilidade do meu corpo.

A rua estava deserta. Onde se enfiaram todos aqueles olhares bisbilhoteiros quando mais precisava deles?

Respirei fundo, tentei recuperar parte de meu espírito e gritei :

- Não seria o caso de ele desistir ?

Alex franziu a testa.

- Ele não precisa de você, já percebi como olha pra ele.

O veneno que ela colocou no "Você" era apavorante.

Eu me sentia o ser mais repugnante e mal cheiroso do mundo.
Fiz força pra olhar nos olhos dela. Seus lábios esticados em um sorriso sarcástico, estava com uma expressão de medo em seu rosto. Senti pena dela.
Então eu disse :

- Eu sei que você e James são amigos,e não estou afim de estragar nada.
- Eu realmente te odeio Hannah, com todas as minhas forças, James e eu tem uma ligação especial,que vocês jamais terão.

- Saia daqui agora ! - gritei praticamente chorando.

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