CAPÍTULO 3: Os Agouros
Quando Takashi nos enxerga, larga o milho que segura perto do fogo, e vem correndo ao nosso encontro.— Precisam de uma ajudinha aí? — pergunta o garoto dos olhos puxados, nos lançando um incrível sorriso branco.
— O que você acha? — Joana resmunga quase sem força, sustentando o peso do meu braço esquerdo sobre seus ombros.
Takashi me segura o mais rápido possível e alivia meu peso deixando Joana livre.
—Pode soltar. — ele declara.
— Obrigada. — agradece a menina, ofegante.
— Nem sou tão pesado assim. — reclamo.
— Imagina... — rosna a menina, sarcástica, enquanto esquiva de um tapinha que tento dar em sua orelha.
Jony e Takashi me levam até a beira da fogueira onde todos nós nos sentamos.
— Boa noite meninos!
— Boa noite senhorita Sakuya. — respondemos em coro a saudação de Emi, ou então Senhorita Sakuya, como nós a chamamos. A bela e simpática mulher é mãe de Takashi, uma descendente de Asiáticos, como seu povo era conhecido no mundo pré-guerra.
Nos acomodamos á beira da fogueira, aproveitando ao máximo o calor do fogo. O mês de julho costuma ser gelado no Baixo Mundo, e hoje é um dia tipicamente Julino, propício a uma história a beira da fogueira.
— Perdi a conta do número de vezes que fomos até a casa de Selena te visitar. —Takashi, me conta, abocanhando a espiga de milho que segura nas mãos. — Mas você insistia em continuar dormindo.
— Acordei hoje pensando que ainda era quarta, esses quatro dias pareceram horas.
— E para nós pareceram meses. — Senhorita Sakuya entra no assunto — Ficamos preocupados.
— É bom te-lo de volta, o Refúgio se aquieta de mais sem você.
Sorrio com sinceridade ao ouvir as palavras de Emi e Takashi. Nos dias de hoje é essencial estar rodeado de pessoas que realmente se importam com você, mamãe e Selena escolheram as pessoas certas para juntarem-se a elas nessa jornada.
Sempre fomos mais apegados a Selena por causa de mamãe, mas perdi as contas do número de noites em que dormimos na casa de Takashi, onde passávamos as madrugadas em claro, jogando, contando histórias e principalmente conversando sobre as meninas do Refúgio que gostávamos. Jony sempre mencionou seu interesse por Joana, e por algum motivo isso sempre me deixou irritado. Takashi não cansava de falar de Angra, uma menina de cabelos cacheados e cor de fogo, que mora algumas casas depois da sua, e que atualmente é sua melhor ''amiga''.
— Precisa tomar mais cuidado com a floresta Herick, ela não é mais tão segura quanto foi um dia.
As palavras de Senhorita Sakuya fazem meu sorriso de gratidão e agradecimento serem substituídas por uma expressão de temor. Eu sou apaixonado pela Floresta, pelo Refúgio e tudo mais que compõe o lugar que eu chamo de lar, e não consigo imaginar a hipótese de algo transforma-lo em um lugar ruim e perigoso.
— E isso serve não só para o Herick, mas para todos vocês! — a mulher acrescenta, firme.
— Você acha que Zardon está querendo dominar a Floresta Verde assim como dominou as outras partes do Baixo Mundo Senhorita Sakuya? — pergunta Joana, enquanto mastiga seu milho assado.
— Ainda não sabemos querida. — a mulher sorri, parecendo tentar demonstrar confiança — Mas desconfiamos de muitas coisas que este homem pode estar tramando. — ela conclui, fixando os olhos em mim por alguns segundos, antes de voltar a olhar avante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Trilogia Sagitário: Vol 1
FantasyEm um mundo pós apocalíptico, os que escaparam ilesos moram no único lugar que ainda é possível sobreviver sem sofrer os efeitos resultantes da Chuva de Sangue, o Baixo Mundo. Dentro desta porção de terra, o povo vive a mercê do medo e fome, comanda...