Capítulo 1: O Refúgio

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          CAPÍTULO 1: O Refúgio 

 Acordo assustado com um estrondo ecoando em meus ouvidos. Quando abro os olhos tenho a impressão de que o teto da cabana de madeira onde moro irá desabar a qualquer momento. Fecho os olhos e permaneço encolhido debaixo da coberta de penas até meu coração voltar a bater no ritmo normal. Ergo a coberta deixando uma fresta que caiba apenas meu olho entre ela e o colchão. Na cama ao lado vejo Jony, meu irmão gêmeo, dormindo de bruços. Sua perna e braço direitos estão fora da cama, dependurados a poucos centímetros do chão. Seu bagunçado cabelo negro cai sobre sua testa e seus olhos fechados. Sua respiração é leve e o sono tranquilo, o que demonstra que meu susto, não deve ter passado de um grande pesadelo.

São incontáveis os números de perigo aos quais estamos expostos, mesmo vivendo isolados. Por mais que a coberta de penas esteja macia e quentinha, eu não consigo voltar a dormir depois do pesadelo ter me alertado. Não costumamos acordar cedo, pelo menos não tão cedo. As janelas ainda estão bastante escuras indicando que o sol está apenas começando a nascer. Aperto os olhos focando-os em um relógio de pulso antigo que ganhei de papai, e então minhas suspeitas acabam se confirmando. Os ponteiros marcam seis e trinta e seis, horário que o sol começa a nascer na estação das folhas.

O relógio de pulso cor de chumbo, está manchado do tempo e com o visor trincado. Admiro que ele ainda funcione, mesmo eu precisando colocar as pilhas a recarregarem dia sim, dia não, sob o sol. Este presente vem passando de geração em geração, sendo um dos poucos objetos tecnológicos restantes aqui no Refúgio.

Depois de mais algumas tentativas frustadas, eu acabo desistindo de cair no sono novamente. Tento ser o mais sutil possível ao levantar da cama e me vestir, para não acordar meu irmão.

A porta entreaberta permite que um escasso feixe de claridade vindo da cozinha, se esgueire iluminando o quarto, o suficiente para que eu possa enxergar minhas roupas.

Me espreguiço no mínimo três vezes antes de vestir a surrada blusa de lã que ganhei de Jony. Deixou de servir a ele ano passado, então deu a mim que sou mais magricela. Embora gêmeos, não somos totalmente idênticos como alguns, pelo contrário, não somos quase nada parecidos. Carregamos traços um do outro, mas mesmo prestando bastante atenção, algumas pessoas não nos identificam como gêmeos.

Visto minha calça, e as botas de couro. Em seguida tomo em mãos meu arco, carrego a aljava com algumas flechas, repouso-a sobre as costas e caminho até a cozinha. Antes de sair, pego uma maçã do cesto sobre mesa. No momento, as maçãs que ganhei de Selena são a única coisa que tenho para rechear o estômago. Antes de sair, ponho o colar de meu signo para dentro da roupa. Ganhei-o de mamãe, ela me mandou cuida-lo muito bem, pois era muito importante. Hoje ele é importante sim, pois sempre que o toco, lembro dela.

Quando saio porta afora, vejo as cabanas simples, de madeira, que compõem o Refúgio. Nome dado ao pequeno lugarejo onde vivemos. Observo ao redor e vejo a única rua de terra batida que serpenteia por entre as casas, ela está deserta, assim como o restante do povoado. Janelas e portas trancadas, e nenhum ser vivo fora de casa. A não ser Argus, o Pit Bull de Selena, que se encontra deitado a beira da porta de sua casa. Selena é nossa vizinha e segunda mãe. Desde que ficamos "órfãos", assim dizendo, ela toma conta de nós. Já perdi a conta do número de vezes que nos convidou para juntarmo-nos a ela e sua família na cabana onde vivem. Mas Jony e eu somos teimosos, e nos recusamos abandonar nossa casa.

Não preciso caminhar muito para alcançar a floresta. O Refúgio fica situado numa clareira em meio a mata, então todas as casas, tem a floresta como jardim dos fundos.

Trilogia Sagitário: Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora