Capítulo 2: Família Rosenbaum

88 5 2
                                    

CAPITULO 2: Família Rosenbaum

Me vejo dentro de um barquinho de madeira, remando a deriva no oceano. Acima de mim, uma lua pálida brilha, iluminando o mar. Um vento gélido sopra na direção leste-oeste, trazendo consigo pesadas nuvens negras. 

Preciso me esforçar para conseguir distinguir o que se esconde mais a frente. Atrás de uma névoa densa, uma pequenina ilha, dotada de elevações, se camufla. 

Minhas remadas são rápidas e planejadas, e tudo que eu quero é alcançar a terra firme.

Pingos encorpados, de uma chuva gelada, começam a descer do céu enquanto no horizonte a minha volta, relâmpagos se manifestam produzindo clarões repentinos na noite escura, seguidos de trovões que quebram o silêncio do mar.

Cada vez vejo a ilha mais nítida a minha frente, o vento forte, faz os coqueiros da orla se envergarem e a vegetação bambear a cada tufão. Ao mesmo tempo que a chuva fica mais forte, o mar fica mais agitado e ondas enormes começam a se formar, ziguezagueando o barquinho que range e estala. Torneio as mãos em volta da madeira, e remo o mais rápido que meus franzinos braços conseguem. Uma série de pesadas ondas começam a atingir o barco, uma atrás da outra. Largo o remo e seguro as bordas, tentando afirma-lo, mas quando a ultima onda nos alcança, o barco é arremessado para alto, se partindo ao meio.

                           . . .

A água do mar ainda parece salgar minha garanta no momento em que acordo tossindo. Respiro ofegante umas dez vezes até minha mente processar que foi só um sonho. Caio de costas aliviado, e sinto uma ardência seguida de dor na altura do peito. Quando arredo a faixa que o cobre, me deparo com um enorme corte e fico confuso tentando lembrar o que causou isto. Foco os olhos no teto, tentando lembrar do que aconteceu ontem, mas antes que eu possa recordar com clareza, eu noto que não estou na minha casa, muitos menos no meu quarto. Olho em volta tentando distinguir que lugar é este. Cortinas de crochê nas janelas, móveis limpos e lustrados, quadros com pinturas de flores nas paredes e pilhas de livros amontados numa enorme estante. Passos leves vindos da direção da porta chamam minha atenção, e quando avisto longos cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo, e um sorriso exageradamente branco entrando na peça, minhas suspeitas se confirmam: Esse é o quarto de Joana. 

— Olha só quem acordou! — seu tom é exultante — Achei que fosse perder a fogueira. 

— De jeito nenhum! — respondo sorrindo, embora sem entender. A fogueira é só domingo, e hoje é recém quinta. Ou quarta?

— Como você está? — ela pergunta, levantando a faixa para dar uma espiadinha no corte. 

— Tirando o corte enorme no mu peito, e a dor de cabeça terrível, está tudo bem! — digo com ares de deboche. 

— Engraçadinho! — a menina retruca dando de ombros — Mamãe mandou isto, segundo ela, vai ajudar a cicatrizar mais rápido. — ela segura uma caneca de vidro, contendo água e algumas folhas dentro. — É um remédio natural.

Ela retira a faixa de cima do ferimento deixando o corte amostra. Logo depois tira algumas folhas da água e repousa sobre a ferida. Seu toque é suave e suas mãos macias, o que me faz ignorar a dor por alguns instantes. Só volto ao normal quando o caldo escorre pare dentro da ferida, causando uma ardência profunda.

— AAARRRRGH — grito, fazendo a menina dar um salto. Não me contenho e preciso dar uma leve gargalhada, antes da ardência voltar a incomodar. 

— Idiota. — ela diz cruzando os braços — Eu tentando ajudar e você aí, de gracinha. 

— Desculpa, é que ardeu. — soo debochado, e ela acaba cedendo um meio sorriso contrariado. 

Joana é filha de Selena e Nestor, e somos amigos desde que me conheço por gente. Ela tem quase a mesma idade do que eu e Jony. Quando nossos pais fugiram de Górgona para morar na floresta, nossas duas mães estavam grávidas, mas Jony e eu, nascemos alguns meses antes da menina.

Trilogia Sagitário: Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora