【Encontro relativo】

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Eu abri meus olhos ao ouvir o som agudo dos freios e os gritos de Satoshi. O que vi naquele momento foi um teto desconhecido. Confuso e coberto de suor, por um longo tempo não pude sequer entender onde estava. Mas o canto persistente de uma cotovia vindo do lado de fora logo começou a me dar nos nervos.

Tentei analisar meus arredores. Um quarto não muito grande. Um quarto com paredes de um azul tão claro que é como se tentasse comunicar certa gentileza. Ao lado da cabeceira da cama, em cima de um pequeno criado-mudo, havia um cantil com água. Eu o peguei em minhas mãos, o abri e de uma só vez, bebi mais da metade de seu conteúdo.

Quando o pássaro canoro cessou sua canção, de fora do quarto pude ouvir uma voz que conhecia muito bem.

	No instante em que ouvi aquela voz repleta de nostalgia, o que havia visto no pesadelo de pouco tempo atrás veio a minha cabeça de repente

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No instante em que ouvi aquela voz repleta de nostalgia, o que havia visto no pesadelo de pouco tempo atrás veio a minha cabeça de repente. Eu entrei em choque, minhas pernas enfraqueceram, senti tontura e estava prestes a cair. No entanto, retomei minhas forças e me reergui. Nisso, instintivamente

— SATOSHI!!!

Gritei, e como se minha vida dependesse disso, corri até a porta. Até conseguir abri-la alguns segundos devem ter se passado, mas foi como se fossem longos minutos. Confabulei que quando as pessoas estão com pressa, não conseguem fazer nada bem feito. Confuso, rápido como um relâmpago, me esforçando para evitar uma cômoda de madeira com um ar de antiguidade e o vaso de cravos que a enfeitava, corri até as escadas.

	De alguma forma, sem tropeçar e sem cair, eu consegui descer até o piso térreo da casa

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De alguma forma, sem tropeçar e sem cair, eu consegui descer até o piso térreo da casa.

— Oi, TK, já acordou? ele me perguntou docemente.

A gentileza em sua voz era quase como pétalas de cerejeira caindo graciosamente nas águas calmas de um lago em repouso e formando delicadas e minúsculas ondulações. Uma voz distinta. Completamente fora do comum, uma voz bela como a de um rouxinol. Mais uma vez, tomei sua voz como bússola e avancei até a cozinha.

Satoshi, segurando uma espátula e trajando um avental branco sem detalhes, mas cheio de manchas e desbotando em um tom cinzento, virou-se em minha direção. O garoto que não conhecia nada além de gentileza, estampou em seu rosto um grande e altivo sorriso.

— Pra quê essa pressa? Tá com tanta fome assim?

Eu pulei e em prantos o abracei.

— Eu pensei que você tinha morrido! eu falei quase gritando, contudo não acho que ele tenha escutado.

— Tá tudo bem, TK?

***

Quando me acalmei, tomamos café da manhã juntos. Não era claro que horas eram, mas eu arriscaria dizer que eram poucas horas depois do raiar do dia. Não havia relógio na parede. As pesadas cortinas de veludo vedavam completamente a janela. Mas sem dúvidas, aquela era a casa do Satoshi. Eu já o visitara inúmeras vezes, mas havia sido minha primeira vez no quarto de hóspedes. Este fora o motivo pelo qual não soube distinguir onde estava antes.

Em cima da mesa coberta com uma toalha de cor âmbar, perfeitamente alinhadas haviam duas xícaras com chá de erva-cidreira, grossas fatias de pão, manteiga, geleia, presunto e queijo. É que eu prefiro presunto e queijo e o Satoshi é do time geleia. Não era um café da manhã luxuoso mas, Satoshi era possuidor de um ar elegante.

Em nenhum momento eu mencionei sobre o pesadelo de antes. Eu só queria poder levar um dia normal. Até tentei ler o jornal, mas as letras estavam embaçadas. Não, devia ser eu que estava muito distraído.

Ao acabar o café, ajudei Satoshi a tirar a mesa e a lavar a louça. Não importasse o que fizéssemos, trabalhávamos em uma harmonia, tal como se até nossa respiração estivesse sincronizada.

No entanto, o que o tolo eu ainda não sabia é que não havia a possibilidade de um dia tão tranquilo como aquele continuar daquele jeito.

Nuvens a vagarOnde histórias criam vida. Descubra agora