Amargurada pela insegurança Ana acorda mais uma vez conturbada por um pesadelo, não consegue se lembrar realmente do que aconteceu, ideias perturbadas invadem sua mente, parece se lembrar de algo, uma sensação, um sentimento, mas nada muito concreto. Atordoada desce as escadas em busca de apoio, pega uma garrafa de Vodka e decide ali mesmo na cozinha fria e escura, se embriagar.
Após uns goles -tá bem, vários goles- ela sente uma compulsão interior e sem prestar atenção no que faz digita lentamente o número de Miguel, o telefone brilhante em sua mão cospe exatamente o que ela não queria ouvir:
-Sua chamada está sendo encaminhada para caixa de mensagens.
Persistente, resolve ligar mais uma vez, e surpreendida pela voz de seu amado, resolve falar tudo o que está preso em sua garganta.
Miguel não fica por baixo e rebate as implicâncias dando ênfase aos motivos causadores do fim da relação. Apos 3 meses desde a fatídica data eles ainda não conseguiram se desapegar um do outro, sempre acabam se esbarrando em locais inusitados, nunca se esqueceram da vez do supermercado. Ana estava a fazer compras para a sua casa quando percebe que não pegou o seu cereal matinal, e se dirige a seção. Passando o olho em tudo, não encontra nas prateleiras a sua marca preferida e resolve pegar outra, mas ao olhar atentamente para um dos carrinhos parados ali vê o seu precioso cereal e resolve apelar para o dono do carrinho pedindo para que ele lhe ceda a caixa tão requisitada. Ao se virar, o dono do carrinho dá de encontro diretamente com os olhos de Ana e percebe que aqueles tons castanhos claros são mais familiares do que ele imagina. Ana fica espantada ao ver que o tal dono é Miguel, seu primeiro e único amor, os dois caem em um papo estranho sobre como aquele cereal sempre foi o que ela mais gostou e ali mesmo no meio do corredor se beijam. Não aquele beijo de novela clichê, mas um beijo de apaixonados, como se ele estivesse acabado de voltar de um lugar distante e finalmente pudesse encontrar sua amada. Caída nos braços de Miguel, Ana, se vê novamente e totalmente apaixonada por ele, como nunca deixou de ser.
Agora, ali altas horas da madrugada ela se vê alimentada por uma chama que diz que eles ainda têm uma chance. Chama essa que parece nunca ter apagado. Miguel explica para Ana que está muito tarde e que eles podem resolver isso pela manhã, mas ela não da ouvidos e continua definhando sua história de como o ama e até que em certo ponto acaba dizendo que está bêbada, ele não pensa duas vezes e vai até a casa dela, sempre mantendo contato pelo telefone. Não demora nem 20 minutos para que Miguel chegue ao local onde ele costumava chamar de casa, corre pelo imóvel atrás de sua amada e a vê sentada chorando, na sua frente uma garrafa transparente totalmente vazia. Ele senta ao lado dela, a acaricia e fica ali agarrado a Ana.
Já se sentindo desconfortável com a posição na cadeira Miguel a arrasta para o quarto junto a uma garrafa recém aberta de Whiskey e se deitam lado a lado na cama, Ana novamente se relembra das coisas boas que passaram juntos e começa a chorar novamente, mas dessa vez tem algo diferente, ela sente que esse choro não é algo triste que te prende a algo, mas sim, um choro que liberta sua alma da sensação que era estar longe de Miguel.
Por sua vez, Miguel faz o mesmo e no meio de tanta emoção sua mente dá um estalo e ele decide que não aguenta mais suportar tudo aquilo, todo sentimento de culpa por ter se separado de Ana de uma forma tão grotesca, um simples pedido de casamento negado. Ana não se sentia confortável com toda a pressão vinda sobre ela, ser mãe, ter que trabalhar, ter que cuidar da casa... Ela só queria ser feliz e aproveitar o máximo do seu tempo com a pessoa que mais importava para ela, e sentiu que com o casamento isso deixaria de ser uma diversão para ser uma obrigação, ela não queria isso para sua vida e por isso decidiu negar o pedido. Sem entender, Miguel foi facilmente coagido a sentir raiva do ato de Ana e acabou se distanciando dela.
E hoje sente que o que fez foi totalmente errado e estúpido, e por isso resolve fazer algo que vai mudar sua vida para sempre. Ele sem pestanejar pega a chave de seu carro e diz a Ana que volta já, e que dessa vez vai ser para sempre, alegremente sai do quarto cantarolando a música que ouviu no primeiro encontro com ela.
Ana se da conta do que está prestes a acontecer e começa a preparar a casa para a chegada de seu cônjuge, prepara um banho quente e arruma a cama. Já se passaram uma hora desde a saída de Miguel e Ana pensa que ele está levando tempo a pegar suas coisas, por isso a mudança vai ser definitiva. Devido à demora Ana resolve fazer uma supresa a ele, coloca sua melhor lingerie, e enquanto prepara a cama percebe um objeto colocado a cabeceira e ao se aproximar vê uma garrafa de whiskey, pega e ao a examina-lá vê que ela está vazia e logo entende o que aconteceu a garrafa cai de sua mão e ela começa a chorar desesperadamente.
Tomada por todos aqueles sentimentos chegados de supetão ela desmaia e ao acordar no outro dia ouve intensas batidas na sua porta, coloca seu roupão e desce para atender, quando abre a porta vê Miguel em pé com uma chave na mão. Totalmente movida pelo amor ela se joga nos braços dele e conta que pensou que ele tivesse morrido, ele conta que pegou o conteúdo da garrafa e jogou na pia para que ela não retornasse a beber mais.
Ele conta a ela que já tinha comprado uma casa no nome deles e não sabia como contar, eles se beijam intensamente sem pensar no mundo ao seu redor, ele com as mãos na cintura dela e com os braços entrelaçados ao pescoço e as costas dele.
Ana percebendo que aquele momento é o melhor de sua vida, se ajoelha perante a Miguel e o pede em casamento. Ele aceita de imediato,
prometendo que tais acontecimentos não vão se repetir, pois se há algo que eles aprenderam é que não há lugar melhor do que perto de quem se ama, e por isso ele se fez o Porto Seguro dela e ela se fez a âncora dele.
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Encontado
General FictionLivro feito a partir de contos de minha autoria, gêneros, títulos, personagens, histórias, amores, decepções, e ilusões diferentes; Um para cada tipo de pessoa.